Artigos e Opinião

OPINIÃO

Maira Caleffi: "Tratamento adequado e com respeito não é só no mês de outubro"

Presidente voluntária da FEMAMA (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama)

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Imagine o cenário em que, após o recebimento do diagnóstico precoce de câncer, as pessoas sejam orientadas em relação aos tipos de tratamentos existentes, etapas da jornada e participem da decisão da melhor alternativa de tratamento. Imagine no mesmo cenário que todos pacientes recebam informações de direitos adquiridos por lei e sejam acolhidos com atenção e respeito a sua individualidade como ser humano quando recebem o diagnóstico.

 No entanto, não é o que os pacientes relatam em 2019 e o desafio para tudo isso se tornar realidade é imenso. Ainda é urgente a pauta de tornar o acesso mais rápido a uma atenção personalizada para cada caso. Estamos falando de um universo de quase 60 mil novos casos de câncer, só para este ano. Mais da metade dessas pessoas receberão seu diagnóstico quando a doença já estiver em estágio avançado, segundo o relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgado em 5 de setembro.

 O tema câncer de mama ganha repercussão mundial nesta época do ano, por conta do Outubro Rosa, ação iniciada de forma organizada no Brasil desde 2008 pela Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA). Este ano, trazemos como mote da campanha #MeTrateDireito: Para Cada Paciente um Tratamento. A frase carrega vários sentidos que precisam ser abordados no que diz respeito à doença e aos pacientes, especialmente na questão tratamento, uma vez que assim como cada paciente é único, cada câncer tem suas especificidades e precisa ser tratado de forma individualizada.

Para muitos, o tratamento do câncer de mama envolverá o processo tradicional de cirurgia, quimioterapia e radioterapia. No entanto, hoje sabemos que não há um protocolo único para todos os casos. Nos últimos anos, os avanços na área médica e ciência global, com exames genéticos e moleculares, oferecem novos métodos para o diagnóstico individualizado, permitindo, assim, um tratamento personalizado e mais eficaz de acordo com características do tumor e resposta a cada terapia adotada. Isso causa uma mudança significativa nas perspectivas de sucesso do tratamento, bem como na qualidade de vida dos pacientes em estágio avançado da doença.  

Outro fator importante para o sucesso do tratamento está relacionado à confirmação do diagnóstico em um prazo mais rápido do que o atual. Vale destacar que a legislação garante acesso a medicamentos orais, atendimento multiprofissional e reconstrução mamária imediata Sistema Único de Saúde (SUS), tratamento fora do domicílio (com ajuda de custo para o paciente, e em alguns casos para o acompanhante, quando solicitado encaminhamento por ordem médica à unidade de saúde localizada em outro município ou estado), além do prazo de até 60 dias para início do tratamento no SUS pós-diagnóstico. Todas essas questões são reconhecidas e recomendadas pela Política Nacional do Câncer do Ministério da Saúde (Portaria nº 874, de 16 de maio de 2013).

Para acelerar a jornada do paciente a FEMAMA junto com vários parceiros, incessantemente, há cinco anos articula pela aprovação do PLC 143/2018, mais conhecido como PLC dos 30 dias, que estabelece esse prazo máximo para confirmação do diagnóstico. Infelizmente o PL chegou ao Senado, mas não há previsão de votação. Essa legalização é fundamental para aumentarmos as chances de cura. Atualmente, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), a maioria dos pacientes recebe o diagnóstico quando a doença já está em estágio avançado – em alguns casos, essa demora chega ao absurdo de 200 dias.

Ainda são muitos os desafios a serem vencidos, mas não estamos parados: a ampliação do acesso ao diagnóstico ágil e aos tratamentos mais assertivos no sistema público de saúde, bem como no privado, é urgente. Uma doença tão prevalente, com chances de cura se for inicial, precisa ser considerada como uma questão também no sistema de atenção primária no Brasil.

Continuaremos 365 dias por ano, não apenas no mês de outubro, levando informação ao maior número de pessoas a fim de multiplicar o conhecimento sobre a carga do câncer na atualidade e apoiar pacientes para que possam participar ativamente das decisões que serão tomadas durante o tratamento. Quando o paciente compreende a doença, as ações propostas pelos médicos e os possíveis resultados, ele se sente respeitado, acolhido e ganha ainda mais forças para lutar e vencer durante todo o ano.

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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