Artigos e Opinião

ARTIGO

Manoel Estevão Anjinho e Roberto Simonsen: lições em momento de crise

Rolemberg Estevão de Souza é diplomata

Redação

10/08/2017 - 02h00
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Não é o intuito deste texto, e não poderia ser de outra forma, colocar em um mesmo plano meu pai por adoção, Manoel Estevão Anjinho, e Roberto Simonsen, o empresário e político santista que, entre outrasrealizações, fundou, em 1928, o Centro das Indústrias, que posteriormente se chamaria Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

Em minhas recordações, porém, o jovem que se casou em 1925 com Djanira, filha de Maria do Rosário e Arthur Américo Bueno, em São Caetano do Sul, tendo na profissão de carpinteiro uma fonte de estímulo e inovação, rivaliza com o industrial em entusiasmo pelas atividades empresariais e no amor pelo Brasil. Manoel Anjinho convivia na então pouco habitada urbe da Grande São Paulo com figuras como Armando de Arruda Pereira – mais tarde prefeito da cidade  de São Paulo – e o empresário e economista Roberto Simonsen.

O Brasil dos anos 1920 passava por mudanças em matéria econômica, social e cultural, advindas do reordenamento econômico internacional do pós-guerra e da emergência de novos setores na sociedade brasileira, expressas na explosão cultural da Semana de Arte Moderna de 1922, patrocinada pelo empresário e escritor Paulo Prado, outro paulista ilustre que, ciente das nossas mazelas, vislumbrava no horizonte outro Brasil.

Naquele contexto, a economia brasileira não apresentava, em geral, má situação, mas sofria com o descontrole fiscal e financiamento das letras de café, como observaram Gustavo Franco e Luiz Aranha Corrêa do Lago, na bela obra organizada por Lilia Moritz Schwarcz, História do Brasil Nação. A economia se deterioraria nos anos seguintes, passando por severa recessão, com queda do crescimento e do investimento industrial em 1924 e 1925, apreciação da taxa de câmbio e forte deflação em 1926. Nos anos seguintes, o café, mais uma vez, manteria a economia brasileira em certo equilíbrio, antes dos efeitos da crise de 1929.

Naquele contexto, segundo os relatos de Manoel Anjinho, o carpinteiro e o industrial convergiam em torno de duas ideias ou três ideias: o respeito ao setor agrícola e aos cafeicultores, a necessidade de se diversificar a economia brasileira, por meio da industrialização e, uma lição mais simples, o quão prejudicial era um quadro de deflação para os negócios de grandes e pequenos empreendedores. Com efeito, naquele período Roberto Simonsen, que havia fundado a Companhia Construtora de Santos em 1912, dirigira várias companhias industriais em ramos tão diferentes quanto artefatos de cobre, frigoríficos, borracha e combustíveis líquidos, e propugnava pela industrialização sob coordenação do Estado.

Para Simonsen, a indústria possuía relevante função social, se conciliada com os interesses nacionais e a nacionalidade brasileira. Era tanto uma atividade individual quanto do conjunto da sociedade, “um negócio da nação”, e seria “um verdadeiro crime de lesa-patriotismo” a ação daqueles que queriam criar obstáculos ou combater a produção do País. Criticava igualmente os que promoviam a luta de classes ou os que tentavam criar leis perturbadoras do trabalho. Nesse sentido, a inauguração do Centro das Indústrias de São Paulo reafirmaria a liderança de Roberto Simonsen não somente como industrial, mas como pensador econômico.

Entre suas lições, os fundamentos nacionalistas da nossa política industrial e a necessidade de harmonizar, em alguma medida, capital e trabalho. Neste aspecto, Manoel Anjinho – o gaditano que, em 1948, por decreto do cuiabano Eurico Gaspar Dutra tornou-se o brasileiríssimo Manoel Estevão Júnior – sabia da importância do crescimento da economia e dos salários para o sucesso do pequeno e do médio empreendedor.

EDITORIAL

O paralelo entre o consórcio e a Enel

A greve dos motoristas de ônibus, motivada pela incapacidade financeira do concessionário de honrar os salários de seus empregados, é o fundo do poço de um contrato problemático

18/12/2025 07h15

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A população de Campo Grande caminha para viver uma semana lamentável na prestação de serviços essenciais, em especial no transporte público.

A iminência de paralisações, a insegurança sobre a continuidade das linhas e o desgaste cotidiano enfrentado pelos usuários expõem, de forma escancarada, um sistema que já vinha dando sinais claros de esgotamento. O que se vê agora não é um episódio isolado, mas o ápice de uma crise que se arrasta há anos.

A greve dos motoristas de ônibus, motivada pela incapacidade financeira do concessionário de honrar o pagamento dos salários de seus empregados, representa o fundo do poço de um contrato problemático.

Um contrato que resulta em um serviço aquém do esperado, marcado por frota envelhecida, atrasos constantes, superlotação e uma satisfação baixíssima da população. Quando trabalhadores deixam de receber e usuários ficam sem transporte, fica evidente que o modelo fracassou.

A situação revelada durante a greve escancara uma verdadeira falência contratual. Não se trata apenas de um colapso financeiro, mas também de uma falência de credibilidade junto aos usuários, às instituições e ao próprio poder concedente.

O paralelo com a crise vivida pela concessionária de energia elétrica Enel, em São Paulo, é inevitável. Assim como ocorreu no setor elétrico paulista, o problema deixou de ser apenas técnico ou pontual e passou a comprometer a confiança no serviço prestado e na capacidade de resposta da concessionária.

A demonstração mais clara desse cenário lamentável foi a intervenção da Justiça no Consórcio Guaicurus, decidida nesta semana. Ainda que se discuta se a intervenção será, de fato, efetivada ou em que moldes ocorrerá, o simples fato de o Judiciário ser chamado a intervir já evidencia a gravidade da situação.

Quando contratos de concessão chegam a esse ponto, é sinal de que todos os mecanismos de fiscalização e correção falharam ao longo do caminho.

Independentemente do desfecho jurídico, o que se impõe é a necessidade urgente de mudar a forma de prestar o serviço de transporte público em Campo Grande. Não se resolve um problema estrutural com medidas improvisadas, paliativos ou decisões baseadas em achismos.

É indispensável uma ampla revisão do modelo, com estudos técnicos consistentes, um desenho financeiro sustentável e metas claras de qualidade e eficiência.

Há cerca de dois anos, o governo do Estado, que tem acumulado experiência em parcerias público-privadas, dispôs-se a auxiliar o Município na busca por soluções. Não está claro, até agora, se essa ajuda foi efetivamente buscada ou aproveitada pela administração municipal.

O fato é que oportunidades de cooperação técnica e institucional não podem ser desperdiçadas quando está em jogo um serviço essencial para a vida urbana.

O que está absolutamente claro é que algo precisa ser feito – e com urgência. Mais do que uma greve de motoristas, a situação vivida nesta semana é um grito coletivo por melhoria do transporte público.

É o clamor de trabalhadores que querem receber em dia, de usuários que exigem dignidade e de uma cidade que não pode continuar refém de um sistema falido. Ignorar esse alerta é condenar Campo Grande a repetir, indefinidamente, os mesmos erros e as mesmas crises.

ARTIGOS

Greve de ônibus em Campo Grande expõe falhas de gestão e fragilidade institucional

Quando um serviço essencial entra em colapso, evidencia-se a ausência de planejamento, de fiscalização eficiente e de mecanismos de mediação capazes de prevenir crises que afetam diretamente a vida da população

17/12/2025 07h45

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A greve de ônibus em Campo Grande vai além de um impasse pontual entre trabalhadores, empresas e poder público, ela escancara a precariedade da gestão atual e a fragilidade das instituições responsáveis por garantir a prestação adequada dos serviços públicos.

Quando o transporte coletivo – um serviço essencial – entra em colapso, evidencia-se a ausência de planejamento, de fiscalização eficiente e de mecanismos de mediação capazes de prevenir crises que afetam diretamente a vida da população.

As instituições que deveriam zelar pela entrega de valor à sociedade falham ao permitir que conflitos previsíveis cheguem a esse nível. A gestão pública, ao não exercer seu papel regulador com firmeza e transparência, transfere para o cidadão o custo da ineficiência administrativa.

A falta de diálogo estruturado, de contratos bem fiscalizados e de políticas de mobilidade consistentes cria um ambiente de instabilidade permanente, no qual greves se tornam recorrentes e quase naturalizadas.

O impacto econômico é imediato e amplo. Trabalhadores enfrentam dificuldades para chegar aos seus empregos, empresas perdem produtividade, o comércio registra queda no movimento e serviços essenciais operam de forma precária.

A economia como um todo sai perdendo, pois a interrupção do transporte coletivo afeta cadeias produtivas inteiras e aprofunda desigualdades, penalizando principalmente quem depende exclusivamente do ônibus para se deslocar.

Além disso, a paralisação traz consequências diretas para a saúde e o bem-estar de todos. Com a dificuldade de deslocamento, equipes responsáveis pelos serviços de asseio e conservação também são prejudicadas, resultando em deterioração das condições sanitárias em diversos ambientes, como escolas, supermercados, condomínios, etc.

Esse cenário favorece a proliferação de doenças, aumenta riscos ambientais e compromete a qualidade de vida.

Mais grave ainda é o prejuízo à cidadania. O direito de ir e vir é comprometido, assim como o acesso a serviços básicos, e a população passa a perceber o Estado como incapaz de cumprir sua função básica de garantir serviços públicos de qualidade.

Isso corrói a confiança nas instituições e reforça a sensação de abandono e descrédito na gestão pública.

A greve de ônibus, portanto, não deve ser vista apenas como um problema trabalhista ou operacional, mas como um sintoma de falhas estruturais.

Superar esse cenário exige uma gestão mais profissional, instituições fortalecidas, transparência nos contratos e um compromisso real com a entrega de valor ao cidadão. Sem isso, crises semelhantes continuarão a se repetir, com custos sociais, econômicos e sanitários cada vez mais elevados.

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