Artigos e Opinião

ARTIGO

Marcel Brugnera Mesquita: "Gisa e Lama Asfáltica: a falta de políticas preventivas"

Procurador da República e coordenador do Núcleo de Combate à Corrupção

Redação

12/08/2015 - 00h00
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Somente neste ano, trabalhos investigativos realizados por órgãos federais de combate à corrupção (MPF, CGU, Polícia e Receita Federal) trouxeram à tona dois casos emblemáticos de malversação de recursos públicos. A fraude ao Sistema Gisa impôs ao Município de Campo Grande a obrigação de restituir à União mais de R$ 14 milhões; pelos atos de improbidade que ensejaram esse prejuízo, respondem na Justiça Federal 26 pessoas. A Operação Lama Asfáltica, por sua vez, ainda em fase de investigação, apura, segundo o que é noticiado, o desvio de vultosos recursos públicos destinados a obras de infraestrutura; os trabalhos até agora realizados apontaram um dano aos cofres públicos de R$ 11 milhões e isso é apenas a ponta do iceberg.

O desvio de verbas públicas sempre gera revolta e indignação, porém, as suas causas são pouco debatidas pela sociedade e enfrentadas pelos administradores públicos. Entre essas causas, uma das principais diz respeito à ausência de medidas preventivas. Em nosso Estado, a preocupação dos gestores parece ficar apenas no discurso, pois não se verificam políticas efetivas que reduzam e previnam a corrupção. Nesse sentido, basta observar que o governo do Estado e a prefeitura da Capital não possuem um órgão de controle interno efetivamente constituído e pouco investem em seus portais da transparência.

A Constituição Federal e a legislação ordinária exigem, há muito tempo, que estados e municípios criem órgãos de controle interno voltados à defesa do patrimônio público, a ser realizada mediante auditorias, fiscalizações e outros procedimentos voltados à prevenção e ao combate à corrupção. Obviamente, a criação desses órgãos não acabará com as condutas danosas ao patrimônio público, mas certamente contribuirá para a sua redução. Acaso possuísse o governo do Estado um órgão de controle interno, provavelmente os desvios apontados na Lama Asfáltica já teriam sido identificados e, talvez, evitados. O mesmo se diga em relação ao Município de Campo Grande e às fraudes perpetradas ao Sistema Gisa.

Outra providência exigida pela Constituição, fundada no princípio da publicidade, é a transparência ampla e irrestrita das contas, dos contratos, dos documentos e dos demais atos da administração. Uma gestão que se diz “pública” precisa ser transparente, pois é esse o principal remédio contra a corrupção, porquanto empodera a sociedade com informações suficientes para a fiscalização permanente de seus governantes.

No intuito de implementar essas medidas de controle e transparência, a Rede de Controle da Gestão Pública do Estado, entidade que reúne diversos órgãos públicos voltados à fiscalização (Ministérios Públicos, Polícia, TCU, RF, CGU, TCE e outros), há alguns anos cobra do Estado e dos municípios medidas que implementem o controle interno e os portais da transparência.

Infelizmente, os governadores e prefeitos pretéritos e atuais do Estado e da Capital não deram e não dão o devido tratamento ao tema. Aliás, o atual governo estadual, em que pese tenha assumido esse compromisso, até agora, passados 7 meses de mandato, não foi capaz de implementar o portal da transparência e de enviar à Assembleia um projeto de lei para criar a Controladoria-Geral do Estado.

Não se pode apostar todas as fichas em juízes e procuradores como Sérgio Moro, Joa­quim Barbosa e Rodrigo Janot. É preciso despertar para a necessidade de mudanças e aperfeiçoamento no combate a esta mazela nacional. O que a Rede de Controle cobra dos governantes é que a Constituição, promulgada há cerca de 17 anos, seja cumprida.

Portanto, se há algo de útil a ser extraído das fraudes ao Sistema Gisa e da Operação Lama Asfáltica é a necessidade de criação de controladorias e a implementação de portais da transparência. 

Afinal, a quem interessa a ausência de transparência e de fiscalização?

EDITORIAL

2026: o ano do cerco ao crime organizado

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes

22/12/2025 07h15

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O ano de 2026 desponta no horizonte como um marco decisivo para o enfrentamento ao crime organizado no Brasil. Não por acaso, trata-se de um ano eleitoral, quando a segurança pública volta a ocupar o centro do debate político e social.

Mas seria um erro reduzir o endurecimento do discurso e das ações apenas ao calendário das urnas. A realidade impõe, por si só, uma resposta mais firme, coordenada e inteligente do Estado frente ao avanço das facções criminosas e à sofisticação de suas engrenagens financeiras e operacionais.

É verdade que, em anos eleitorais, governos tendem a intensificar operações e anúncios na área da segurança. A sociedade, cansada da violência cotidiana, cobra respostas.

Ainda assim, pouco importa a motivação inicial, desde que as ações sejam efetivas, estratégicas e produzam resultados duradouros. Combater o crime organizado não pode ser sinônimo de operações midiáticas ou ações pontuais. É preciso ir ao coração do problema: o dinheiro.

Descapitalizar e desmobilizar quadrilhas deve ser o objetivo central. Facções sobrevivem e se expandem porque movimentam cifras milionárias, lavadas por meio de empresas de fachada, contratos simulados, criptomoedas e uma infinidade de artifícios cada vez mais sofisticados.

Sem atacar a lavagem de dinheiro, qualquer combate ao crime será superficial e ineficaz. O mesmo vale para os golpes cibernéticos, que se multiplicam em velocidade alarmante, atingindo cidadãos comuns, empresas e o próprio poder público.

A criminalidade de rua também precisa ser enfrentada com seriedade. Roubos e furtos, especialmente de telefones celulares, tornaram-se uma epidemia urbana.

Para muitas famílias de baixa renda, o celular é o principal – e às vezes o único – patrimônio, além de ferramenta essencial de trabalho, comunicação e acesso a serviços básicos. Proteger esse bem é, também, proteger a dignidade de milhões de brasileiros.

No contexto regional, o alerta é ainda mais grave. Combater o crime organizado é também impedir que grandes facções ampliem seu domínio territorial.

Mato Grosso do Sul já convive com a presença do PCC e do Comando Vermelho, organizações conhecidas por sua capacidade de infiltração, violência e articulação interestadual.

Agora, conforme mostramos nesta edição, o Terceiro Comando Puro (TCP) também chegou ao Estado. Trata-se de mais uma engrenagem criminosa a disputar espaço, rotas, mercados ilegais e poder.

Esse cenário exige das forças de segurança muito mais do que retórica. É necessário levar esse combate a sério, com integração entre polícias, Ministério Público, Judiciário e órgãos de inteligência financeira. Investigações técnicas, compartilhamento de informações, uso de tecnologia e foco na asfixia financeira das facções precisam ser prioridades absolutas.

O crime organizado não se combate apenas com viaturas nas ruas, mas com inteligência, planejamento e coragem institucional.

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes. A população já esperou demais.

ARTIGOS

Câncer na juventude: inesperado e devastador

Costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela

20/12/2025 07h45

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O diagnóstico de câncer não é algo simples, pois muitas vezes requer diversos exames. Mas, desde o momento em que se cogita a possibilidade, o reflexo desta simples suposição começa a impactar a vida do paciente e de todos à sua volta.

Esta doença costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela. São tipos e riscos diferentes, mas tanto um bebê quanto um idoso podem sofrer de câncer.

Um idoso entende a doença como consequência da sua longevidade, e um bebê não compreende o que está acontecendo. Porém, um jovem, que muitas vezes se acha imortal, com tantos anos de vida pela frente, sofre um abalo devastador, não apenas financeiro, mas também emocional.

Um jovem acha que pode superar qualquer obstáculo, e, de repente, a vida lhe coloca diante de uma doença que pode abreviar sua longa história, transformando o que seria um livro num simples artigo de uma página. 

Nada passa a ser racional. Alguns são mais receptivos, outros mais agressivos. O fato é que toda ajuda será necessária, e agora aquele jovem independente e invencível precisará entender que, sozinho, não vai a lugar nenhum.

Um jovem morrendo não é algo fácil para seus pais, família e amigos aceitarem. A doença se entranha na estrutura familiar e abala seus alicerces. 

A vida social é deixada de lado para enfrentar um tratamento no qual o paciente não sabe se sairá vivo ao final. Sua vida está por um fio, e ele precisa acreditar que vai dar certo, ter esperança. Por isso, o suporte emocional é um forte aliado no sucesso do tratamento.

Existem entidades privadas e governamentais que trabalham para reduzir o sofrimento criando bancos de sangue e órgãos, profissionais que dão apoio, organizações que apoiam financeiramente o tratamento, voluntários que se propõem a ajudar no dia a dia. 

Nessa busca por suporte, apesar do importante papel das entidades, é nas histórias contadas por meio de livros, filmes e outras famílias que o paciente encontra um colo para deitar, um ombro amigo. São experiências que foram vividas por outras pessoas, mas que servem de referência sobre as batalhas que estão por vir, as mudanças de hábitos, sequelas e dores.

São histórias de vida e de superação que transmitem acolhimento, trazem esperança e dão forças para seguir em frente na busca da cura de uma doença implacável que não tem idade.

Essas histórias criam conexões que afastam a solidão, trazem o conhecimento de quem passou pela mesma dor e ajudam a criar pontes para superar os maus momentos.

É importante que o jovem perceba que não está enfrentando essa batalha sozinho, que ele se sinta acolhido, que acredite no tratamento. Como toda doença, identificar cedo é importante e a melhor chance de cura. Vamos estar alertas porque ninguém está livre do câncer.

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