Artigos e Opinião

CRÔNICA

Maria Adélia Menegazzo: "Trânsito transe transitório"

Maria Adélia Menegazzo: "Trânsito transe transitório"

Redação

22/09/2015 - 00h00
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Trânsito de sete e meia da manhã. Aquele em que as pessoas estão ainda sonadas, sonâmbulas, e precisam chegar ao seu destino às oito horas. Os carros param nos semáforos e  demoram muito pra se mover quando o sinal abre.

Primeiro, o mar dos motociclistas, que, por serem mais ágeis, pilotam suas motos, enquanto os motoristas, sentados sobre os seus carros, são mais lentos, estão de olho no celular, no jornal, nos vizinhos. Daí, tudo é demorado. Tive a confirmação disso quando esperava uma fila de carros se movimentar, passou por mim uma motocicleta esportiva, com uma cor inacreditável, e foi lá pra frente.

O motociclista usava uma  também inacreditável jaqueta preta com uma enorrrrrme folha de maconha, e, embaixo da folha, estava escrito Jamaica. Ueba! Pensei: que ânimo logo cedo! Só pode estar fazendo gênero... Lembrei também de minha tia-avó, Alba, que sempre aconselhava: Cuidado com  esses meninos que fumam mamona! E a gente dizia: Não é mamona, tia, é maconha! E ela, muito dona de si: Vá lá! Io non estudei a gramámata!

Viagem de ônibus de Belo Horizonte para Araxá. Seis horas de estrada. Minha amiga mineira, cronista, adora interagir. Ao embarcar, travou conversa com o cobrador do ônibus. Ele achou que a simpatia lhe era devida e resolveu, acabado o serviço de despachar bagagens e verificar passagens, continuar a conversa. A partir desse momento, meu encontro com a mineiridade foi in-fer-nal! O moço fazia faculdade de Teologia e foi logo contando que estava escrevendo  uma tese sobre a origem do homem. Bom, pensei, vou usar o termômetro da paciência e  ouvir, fingindo que não estou ouvindo. Enterrei a cara no jornal e deixei a ela o prejuízo. 

Acontece que eu estava na poltrona do corredor, portanto, ele falava com as duas. Bueno!  Resumo da história: criacionismo versus evolucionismo: 
Darwin estava errado ao dizer que somos descendentes dos primatas. Primata quer dizer primo, então, em algum momento o  homem deveria ter “cruzado” com o macaco para estabelecer o parentesco... Como isso nunca  aconteceu, a teoria da evolução está errada! Simples assim! Já a explicação dele para o criacionismo não consegui guardar, mas a dúvida, porque ele também tinha as suas e as estava expondo ali, era arranjar uma mãe para Adão. A tese dele seria essa descoberta. 

Resolvemos, por bem, começar a conversar entre nós duas sobre uma notícia que estava no jornal, e a conversa foi perdendo fôlego até que ele nos abandonou. Grazie mille!

Pode parecer que esses episódios não têm nenhuma relação, mas minha percepção é diferente: a construção do sentido e a liberdade de pensamento. Ou, como diria Millôr Fernandes, “livre pensar é só pensar”. Reclamamos do trânsito, mas pensamos que nossos carros e motos são a nossa casa, sem nos importar com as normas que, se obedecidas, fariam  tudo fluir a contento. O motociclista pensa que celebra a Jamaica com uma folha de maconha. 

Talvez fosse o caso de saber como a Jamaica vê a questão e também os jamaicanos. É como  identificar o Brasil com a cesta de frutas da Carmem Miranda ou Mato Grosso do Sul com a onça. Minha tia não estudou a gramática, mas intuia perigos a respeito dos quais nos alertar. E  o teólogo, bom, esse é mais difícil. Nunca deu certo misturar dogma com ciência. O pensamento científico se constrói com experimentos, com argumentos e refutações. E avança na medida em que se estabelece como verdade provisória. 

O dogma é irrefutável porque está fundamentado na fé, e fé não se discute. Simples assim?

EDITORIAL

2026: o ano do cerco ao crime organizado

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes

22/12/2025 07h15

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O ano de 2026 desponta no horizonte como um marco decisivo para o enfrentamento ao crime organizado no Brasil. Não por acaso, trata-se de um ano eleitoral, quando a segurança pública volta a ocupar o centro do debate político e social.

Mas seria um erro reduzir o endurecimento do discurso e das ações apenas ao calendário das urnas. A realidade impõe, por si só, uma resposta mais firme, coordenada e inteligente do Estado frente ao avanço das facções criminosas e à sofisticação de suas engrenagens financeiras e operacionais.

É verdade que, em anos eleitorais, governos tendem a intensificar operações e anúncios na área da segurança. A sociedade, cansada da violência cotidiana, cobra respostas.

Ainda assim, pouco importa a motivação inicial, desde que as ações sejam efetivas, estratégicas e produzam resultados duradouros. Combater o crime organizado não pode ser sinônimo de operações midiáticas ou ações pontuais. É preciso ir ao coração do problema: o dinheiro.

Descapitalizar e desmobilizar quadrilhas deve ser o objetivo central. Facções sobrevivem e se expandem porque movimentam cifras milionárias, lavadas por meio de empresas de fachada, contratos simulados, criptomoedas e uma infinidade de artifícios cada vez mais sofisticados.

Sem atacar a lavagem de dinheiro, qualquer combate ao crime será superficial e ineficaz. O mesmo vale para os golpes cibernéticos, que se multiplicam em velocidade alarmante, atingindo cidadãos comuns, empresas e o próprio poder público.

A criminalidade de rua também precisa ser enfrentada com seriedade. Roubos e furtos, especialmente de telefones celulares, tornaram-se uma epidemia urbana.

Para muitas famílias de baixa renda, o celular é o principal – e às vezes o único – patrimônio, além de ferramenta essencial de trabalho, comunicação e acesso a serviços básicos. Proteger esse bem é, também, proteger a dignidade de milhões de brasileiros.

No contexto regional, o alerta é ainda mais grave. Combater o crime organizado é também impedir que grandes facções ampliem seu domínio territorial.

Mato Grosso do Sul já convive com a presença do PCC e do Comando Vermelho, organizações conhecidas por sua capacidade de infiltração, violência e articulação interestadual.

Agora, conforme mostramos nesta edição, o Terceiro Comando Puro (TCP) também chegou ao Estado. Trata-se de mais uma engrenagem criminosa a disputar espaço, rotas, mercados ilegais e poder.

Esse cenário exige das forças de segurança muito mais do que retórica. É necessário levar esse combate a sério, com integração entre polícias, Ministério Público, Judiciário e órgãos de inteligência financeira. Investigações técnicas, compartilhamento de informações, uso de tecnologia e foco na asfixia financeira das facções precisam ser prioridades absolutas.

O crime organizado não se combate apenas com viaturas nas ruas, mas com inteligência, planejamento e coragem institucional.

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes. A população já esperou demais.

ARTIGOS

Câncer na juventude: inesperado e devastador

Costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela

20/12/2025 07h45

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O diagnóstico de câncer não é algo simples, pois muitas vezes requer diversos exames. Mas, desde o momento em que se cogita a possibilidade, o reflexo desta simples suposição começa a impactar a vida do paciente e de todos à sua volta.

Esta doença costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela. São tipos e riscos diferentes, mas tanto um bebê quanto um idoso podem sofrer de câncer.

Um idoso entende a doença como consequência da sua longevidade, e um bebê não compreende o que está acontecendo. Porém, um jovem, que muitas vezes se acha imortal, com tantos anos de vida pela frente, sofre um abalo devastador, não apenas financeiro, mas também emocional.

Um jovem acha que pode superar qualquer obstáculo, e, de repente, a vida lhe coloca diante de uma doença que pode abreviar sua longa história, transformando o que seria um livro num simples artigo de uma página. 

Nada passa a ser racional. Alguns são mais receptivos, outros mais agressivos. O fato é que toda ajuda será necessária, e agora aquele jovem independente e invencível precisará entender que, sozinho, não vai a lugar nenhum.

Um jovem morrendo não é algo fácil para seus pais, família e amigos aceitarem. A doença se entranha na estrutura familiar e abala seus alicerces. 

A vida social é deixada de lado para enfrentar um tratamento no qual o paciente não sabe se sairá vivo ao final. Sua vida está por um fio, e ele precisa acreditar que vai dar certo, ter esperança. Por isso, o suporte emocional é um forte aliado no sucesso do tratamento.

Existem entidades privadas e governamentais que trabalham para reduzir o sofrimento criando bancos de sangue e órgãos, profissionais que dão apoio, organizações que apoiam financeiramente o tratamento, voluntários que se propõem a ajudar no dia a dia. 

Nessa busca por suporte, apesar do importante papel das entidades, é nas histórias contadas por meio de livros, filmes e outras famílias que o paciente encontra um colo para deitar, um ombro amigo. São experiências que foram vividas por outras pessoas, mas que servem de referência sobre as batalhas que estão por vir, as mudanças de hábitos, sequelas e dores.

São histórias de vida e de superação que transmitem acolhimento, trazem esperança e dão forças para seguir em frente na busca da cura de uma doença implacável que não tem idade.

Essas histórias criam conexões que afastam a solidão, trazem o conhecimento de quem passou pela mesma dor e ajudam a criar pontes para superar os maus momentos.

É importante que o jovem perceba que não está enfrentando essa batalha sozinho, que ele se sinta acolhido, que acredite no tratamento. Como toda doença, identificar cedo é importante e a melhor chance de cura. Vamos estar alertas porque ninguém está livre do câncer.

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