Artigos e Opinião

Artigo

Maria Angela Coelho Mirault:
A vilania da capatazia

Maria Angela Coelho Mirault Professora é doutora e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo

Redação

17/08/2015 - 00h00
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O capataz é aquele que gere a riqueza que não é sua, domina o que não é seu, faz o que o chefe mandar, age pelo que o mandante não age; são suas as mãos sujas que ferem, que roubam, que violentam, que caneteiam, engavetam, em segundo, terceiro, quarto e último escalão. Em troca de míseros trocados de um cargo, de um pixuleco qualquer, cujo rendimento vai alçá-lo às filas dos “outbacks”, dos “hondas” e das “rovers”; aos resort luxuosos, ao vinho mais caro, ao whisky mais antigo; as grifes internacionais. 

O capataz é o escalonado que faz e desfaz, em nome do dono; sim, ele tem dono; é fiel em sua empreitada; é empreiteiro de mandados, aceita qualquer negócio, se vende e se prostitui por qualquer trocado; quer apenas se dar bem. Por ser indigno, envilecido, não precisará apresentar currículo para o exercício de sua função, aliás, prescindirá de qualquer formação acadêmica, precisará apenas de sua argúcia, esperteza e sagacidade para escamotear, sabotar com toda sua vil competência, sem qualquer tipo de escrúpulo. Esse exemplar proliferado em todos os lugares: repartições, empresas, igrejas têm tido lugar garantido na esteira de um mercado cuja ganância, competitividade, distinção predominam. Esquece o capataz, que tudo isso, também, o introduz nas entranhas do inferno, o conduz irremissivelmente, às dores cruciais do remorso e do ranger de dentes, ainda, mesmo, aqui, nesse espaço-tempo do agora, nessa vida, até antes dos sete palmos e do caixão de luxo.

A indignidade, a falta de decência, a prática dos mais baixos costumes envilecem o ser humano. Contra essa chaga não há remédio, não há purgativo, não há oração! O acometido nem se enxerga como tal; não se reconhece como pária da sociedade e, muito menos, procura a cura de sua doença moral. No entanto, ser indigno tornou-se item curricular, ainda, imprescindível, no mundo de hoje (já em ruínas). Ainda se imagina ser preciso ter ao lado, mexendo na podridão, indivíduos que não se importam em chafurdar na incúria do malfeito, infringir leis e fazer o diabo, em nome e no lugar de quem detém o mando, a propriedade, a riqueza e o poder. Essa é a triste função da capatazia; intermediação entre o opressor e o oprimido; também, conhecida como assessoria, cargo de confiança, gerência, gestão, ficha suja. 

Os capatazes vicejam, perduram e perpassam por governos e partidos; são úteis. Agem como coveiros, cuidadores de porcos - longe dos ambientes de trabalho honesto desses profissionais - porque precisam mexer na lama, cavar o chão, enterrar quem possam, em nome do pseudopoder de um cargo, em nome de um chefe, objetivando simplesmente a sua sobrevivência, e, até, prosperidade, dependentes de generosas sobras das mesas dos seus donos.  São capatazes, intermediários, nada mais, dependem de si mesmos, de suas vontades de serem o que são. 

Mas, a vida segue, o tempo corre e esses vis serviçais, sem mesmo se aperceberem, já fenecem, em vida - de dentro de suas câmaras mortuárias ambulantes, do conforto de seus home-theater, nas cadeiras estofadas de seus gabinetes - dominada ainda pela crença de que dominam, mandam e reinam.

Salvem todos aqueles que, tendo passado pela dura prova do convite, negaram-se a esse ofício imundo, preferindo trilhar o caminho da digna, honrada e dura vida dos milhões de comuns mortais, que acordam, lutam e adormecem sem terem prejudicado a uma única alma, sem terem-se apropriado de um único bem que não lhes pertença. Salvem os honrados, os que já conseguem enxergar que estamos vivendo um novo momento histórico-energético no planeta Terra. Nesse tempo, eles, os capatazes, já começam a ser reconhecidos e identificados. Distinguir-se-ão, não pelas roupas de grife que enfeitam seus cadáveres ambulantes, mas pelo rastro que deixam em seus fracassados caminhos. Haverá o dia em que o poder e a riqueza prescindirão de suas “competências”. Esse momento está chegando, já se pode vislumbrar logo ali, no horizonte que já vem.

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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