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OPINIÃO

MAteus Boldrine Abrita: "Deflação: parece legal, mas não é"

Professor e doutor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Redação

14/10/2019 - 01h00
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O Brasil registrou deflação em setembro de 2019, menor valor para um mês de setembro desde 1998. Isso tem gerado um debate na sociedade brasileira. Mas, afinal, o que é deflação? Isso é bom ou ruim? Quais seus impactos e implicações?
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é medido pelo IBGE e mensura a inflação no Brasil. Os resultados divulgados na quarta-feira (9 de outubro de 2019) mostraram uma deflação no mês de setembro de 2019 de 0,04%, principalmente puxado para baixo pelos preços dos alimentos.

Para compreender o que é deflação, é importante entender o que é inflação. De acordo com os manuais de economia, de um modo geral, inflação é dada pelo aumento contínuo e generalizado dos preços. Sabe quando você vai ao supermercado, posto de combustível, lojas... e sempre nota que tudo tem subido? Então, isso é inflação. Já a deflação é o oposto. Ou seja, diminuição dos preços contínua e generalizada.

Muitos leitores vão discordar desse resultado divulgado pelo IBGE, que mostra deflação, afinal, a impressão é a de que tem ocorrido uma alta de preços, e não queda. Isso tem a ver com o método de cálculo e outras particularidades do índice, esta é uma discussão para outro artigo. Voltando para nosso assunto, em um olhar inicial, pode parecer que a deflação é uma ótima notícia, ou seja, os preços estão caindo e isso é muito bom para o consumidor, que poderá consumir mais no futuro. Contudo, o problema é mais grave do que parece.

Quando uma economia apresenta deflação, é sinal de que a renda, o emprego e o consumo estão prejudicados. Isso revela que a economia está fraca e desaquecida, sendo reflexo de um mercado consumidor não pujante. Uma implicação macroeconômica é a seguinte: quando a demanda está fraca, os estoques tendem a aumentar e o empresário encontra dificuldades em realizar as vendas. Logo, ele tende a não investir mais e não gerar novos empregos e às vezes até demitir.

Outro aspecto perigoso da deflação é mais microeconômico, se ela persistir, o consumidor pode ficar esperando a queda dos preços para realizar a compra e como ele adia o consumo, os preços realmente caem, o que pode levar aos consumidores adiarem ainda mais o consumo, esperando novas quedas. Neste cenário, o consumo é adiando e os preços estarão sempre caindo, logo, o empresário não vende e, portanto, não contrata nem realiza investimento e pode até demitir. Isso é um problema sério para a economia.

Um caso muito famoso é o do Japão, principalmente na década de 1990. Lá, ocorreu um processo de deflação importante e agravou a situação da economia japonesa. Com a queda dos preços, ocorreu um sentimento de que os preços sempre iriam continuar caindo, e os consumidores abdicaram de consumir, aguardando novas quedas. Com a queda nas vendas por parte das empresas, muitas delas tiveram de demitir e isso agravou a situação. Obviamente, é pouco provável que isso ocorra no Brasil.

EDITORIAL

Santa Casa refém da própria má gestão

A Santa Casa precisa de mais do que socorros emergenciais: precisa de coragem para mudar, responsabilidade na gestão e respeito por quem sustenta sua missão

23/12/2025 07h15

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A situação vivida pela Santa Casa de Campo Grande ao fim de mais um ano é, infelizmente, a repetição de um roteiro conhecido – e previsível.

Há, pelo menos, uma década, o maior hospital filantrópico do Estado é vítima não apenas de um sistema público de saúde subfinanciado, mas, sobretudo, de escolhas administrativas equivocadas, da falta de planejamento e de uma gestão que parece incapaz de romper com seus erros históricos.

Neste fim de ano, o cenário chega a um ponto simbólico e constrangedor: a instituição depende, literalmente, de um milagre para pagar o 13º salário de seus funcionários.

Profissionais que sustentam o atendimento diário de milhares de pacientes, que enfrentam plantões exaustivos, superlotação, escassez de insumos e pressão constante, agora convivem com a angústia de não saber se receberão um direito básico. Isso não honra o nome “Santa Casa”.

Não há justiça social, não há moralidade administrativa e tampouco humanidade em deixar esses trabalhadores à mercê da incerteza.

É evidente que o problema não se resume à gestão interna. O subfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) é uma realidade nacional, e a Santa Casa, como tantas outras instituições filantrópicas, sofre com valores defasados, repasses insuficientes e atrasos frequentes.

O poder público tem, sim, parcela relevante de responsabilidade nesse quadro. Ignorar isso seria desonesto. No entanto, usar essa realidade como justificativa permanente para a ineficiência interna é igualmente inaceitável.

O que salta aos olhos é a aparente falta de disposição da administração do hospital em buscar eficiência, especialmente no campo financeiro.

Os números mostram que apenas o serviço da dívida – os juros e encargos pagos anualmente aos bancos – seria suficiente para quitar não apenas o 13º salário e evitar o acúmulo de outras obrigações em atraso, mas também de quitar quase toda a folha anual. Isso revela um modelo de gestão que prioriza a manutenção de passivos bancários em detrimento do compromisso com seus trabalhadores.

Mais uma vez, a saída apontada parece ser recorrer a novos empréstimos ou aguardar aportes emergenciais do poder público. Trata-se de um ciclo perverso. Endividar-se para cobrir despesas correntes, como folha de pagamento, não é uma estratégia de sustentabilidade; é um atalho para o colapso.

Empréstimos deveriam servir para investimentos, modernização, ganho de eficiência e redução de custos futuros – não para tapar buracos mensais de um caixa cronicamente desequilibrado.

O resultado é uma dívida cada vez menos saudável, maior dependência externa e nenhuma solução estrutural. Enquanto isso, a transparência sobre gastos, contratos e decisões estratégicas segue insuficiente, o que apenas aprofunda a desconfiança da sociedade e dos funcionários.

É lamentável que um hospital com tamanha importância social, histórica e simbólica chegue a esse ponto ano após ano. A Santa Casa precisa de mais do que socorros emergenciais: precisa de coragem para mudar, de responsabilidade na gestão e de respeito por quem sustenta a sua missão.

Sem isso, continuará sobrevivendo de milagres – e milagres, como se sabe, não fazem planejamento financeiro.

ARTIGOS

Terrorismo e religiosidade

Fundamentalismo dos terroristas de todos os matizes é antissemita, anticristão e anti-hislamista, porque se vale da inimizade aos valores religiosos para disseminar o ódio

22/12/2025 07h45

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A propósito do recente e trágico ataque ocorrido na Austrália, que vitimou diversas pessoas – algumas delas fatalmente – durante a pacífica celebração do Hanukkah, a festa das luzes da comunidade judaica, impõem-se algumas reflexões sobre os motivos e as consequências de tal ato.

À falta de definição mais apropriada, e sem entenderem bem o que teria motivado os ataques, aparentemente praticados por pessoas isoladas, os analistas chamaram a atenção para a facilidade com que se adquirem armamentos hoje em dia, fenômeno que ocorre também em nosso País.

É simbólico que a festa das luzes seja muito próxima dos festejos de Natal. Também no Tempo do Advento as luzes da coroa vão sendo acesas em crescente até que a Luz do Mundo venha a nascer na noite tão esperada pelos cristãos.

Jesus Cristo não selecionava ninguém. Qualquer pessoa seria bem acolhida por Ele, bastando que professasse o único mandamento propriamente cristão: ama o próximo como a ti mesmo. Aliás, o Cristo ia além e dizia: amai vossos inimigos, o que revela, igualmente, o modelo mais aberto de compreensão da pessoa do próximo.

Na verdade, o fundamentalismo dos terroristas – de todos os matizes – é antissemita, anticristão e anti-hislamista, porque se vale da inimizade aos valores religiosos para disseminar o ódio, a cultura de morte a que já se referia São João Paulo II.

Trata-se, portanto, do mesmo tipo de fundamentalismo que outros grupos de terroristas praticam para excluir as minorias de todo o tipo, mesmo as que não professem nenhuma crença.

É simbólico que tenha sido Ahmed, o sírio, a desarmar um dos terroristas, o que lhe custou dois ferimentos.

Esses terroristas disparam, inclusive pelos meios de comunicação virtual, contra todos aqueles que não pensam como eles. Eis quem são, em certo sentido, os verdadeiros fundamentalistas do ódio. Por que teriam escolhido a reunião do Hanukkah, tão plena de simbolismos?

Não nos prendamos a esse vetor. Basta atentar para os recentes ataques a uma mesquita e a uma feira natalina para que se ponha foco na essência do que está em jogo.

A enorme confusão ideológica e doutrinal do terrorismo revela, antes de tudo, mentes perturbadas, incapazes de discernir entre o bem e o mal. Ou, se quisermos embaralhar ainda mais as cartas, incapazes de discernir a esquerda da direita.

A confusão ideológica, aliás, não é apenas um sintoma de desordem mental, mas a estratégia consciente de aniquilar a pluralidade inerente à condição humana.

O extremismo, ao se apropriar de símbolos sagrados e transformá-los em bandeiras de exclusão, trai a própria essência de qualquer fé que pregue a transcendência e o amor ao Criador, pois desumaniza a criatura feita à sua imagem.

Desta forma, o verdadeiro combate ao terrorismo não se limita à repressão policial ou militar, mas passa necessariamente pela defesa intransigente da educação e do diálogo inter-religioso.

É a luz da razão e da tolerância que deve ser acesa para dissipar a escuridão do fanatismo, provando que a diferença de crença jamais pode ser motivo para a guerra, mas sim o motor para um enriquecimento mútuo da civilização.

Urge que os homens de boa vontade se ergam, em uníssono, em favor de uma cultura de paz e de liberdade religiosa, e que todas as luzes se acendam em alerta contra toda e qualquer manifestação terrorista.

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