A liquidação do Banco Master, anunciada ontem pelo Banco Central e acompanhada pela prisão do banqueiro Daniel Vorcaro, produziu efeitos que vão além do sistema financeiro nacional.
Em Mato Grosso do Sul, como o leitor poderá constatar em reportagem desta edição, o impacto é direto e imediato: o Instituto Municipal de Previdência de Campo Grande e outros regimes próprios de prefeituras do interior do Estado têm milhões de reais aplicados em títulos emitidos pela instituição agora falida.
A preocupação é legítima e grave. Trata-se, afinal, de recursos que pertencem aos servidores públicos municipais, especialmente aos aposentados e àqueles que um dia dependerão desses fundos para garantir sua renda e dignidade.
É lamentável que aposentados e futuros beneficiários de Mato Grosso do Sul se encontrem em uma situação de tamanha vulnerabilidade.
A fragilidade exposta pela queda do Banco Master revela algo maior do que um erro pontual de investimento: aponta a necessidade urgente de que servidores municipais, sobretudo os de carreira, mantenham vigilância constante sobre a gestão dos recursos previdenciários que saem mensalmente de suas folhas de pagamento.
Não se trata de dinheiro “do prefeito”, “do vice” ou “dos vereadores”. É dinheiro dos trabalhadores, acumulado ao longo de décadas de contribuição e colocado sob a administração de institutos que devem atuar com rigor técnico e absoluto cuidado.
Quando se fala em aposentadoria, não há espaço para experimentalismo, ousadia financeira ou busca por rentabilidade fora dos padrões. Gerir recursos previdenciários é, antes de tudo, uma atividade que exige responsabilidade. E responsabilidade pressupõe prudência.
No mercado financeiro, retornos muito acima da média raramente são sinal de oportunidade segura. Pelo contrário, costumam indicar risco elevado. Se um banco paga juros muito maiores que a concorrência, é imprescindível perguntar por quê.
A resposta quase nunca é altruísmo ou excepcional competência gerencial; na maioria das vezes, trata-se de necessidade urgente de liquidez. Esse era exatamente o cenário do Banco Master nos últimos dois anos, quando já enfrentava dificuldade para honrar compromissos e buscava atrair capital oferecendo remuneração acima do padrão.
O episódio, apesar de lamentável, deve servir como alerta definitivo. A administração de fundos previdenciários exige critérios rígidos, transparência plena e auditorias permanentes.
O patrimônio dos servidores não pode ser exposto a riscos desnecessários, tampouco utilizado em estratégias financeiras que privilegiam ganhos imediatos em detrimento da segurança de longo prazo.
O que se espera, daqui em diante, é que a gestão desses recursos seja conduzida com seriedade, técnica e absoluta responsabilidade, garantindo que episódios como o da queda do Banco Master não se repitam e que os aposentados dos municípios sul-mato-grossenses não paguem a conta da imprudência alheia.


