O que marcou o pontificado de Francisco? Qual o seu legado, aquilo que permanecerá eternizado em nossas vidas e corações? Poderíamos tecer muitas palavras para ilustrar a marcante passagem do papa da misericórdia na vida de tantas pessoas, nações, no mundo. Sim, o papa da misericórdia, que revelou a todos o rosto do amor, da bondade e da misericórdia de Cristo.
Jesus não trazia no seu coração outro desejo senão o de resgatar o ser humano das trevas do pecado e da morte. Como o Bom Pastor, deixava as 99 ovelhas para resgatar a ovelha perdida, rebelde, ferida, e trazê-la de volta ao redil com todo amor e afeto. Esse Jesus Bom Pastor, que passava na vida de tantos e, com seu olhar, seus gestos e suas palavras, tornava a pessoa verdadeiramente única. Do mesmo modo, podemos voltar o nosso olhar para essa face do Cristo Bom Pastor desenhada na pessoa do papa Francisco.
Ele trouxe palavras fortes desde o início do pontificado, que já mostravam o seu objetivo de evangelizar e alcançar o seu rebanho: igreja em saída, cultura do encontro, alcançar as periferias existenciais... tudo isso, aos poucos e com o passar dos anos, foi ganhando corpo em seus gestos e palavras de amor. Sem falar do seu desejo de pastor ao revelar o rosto da Misericórdia de Cristo, em 2016, no Jubileu extraordinário, e levar aos corações e ao mundo uma palavra de esperança, no Jubileu deste ano. Assim foi Francisco, como também foi o próprio Cristo.
Retomando o modo como o papa Francisco revelou a face de Cristo aos povos e nações por meio dos gestos e palavras de amor, esse é o título do segundo capítulo de sua última Carta Encíclica “Dilext nos, Ele nos amou”. Tomemos alguns fragmentos do texto: “O modo como nos ama é algo que Cristo não quis explicar-nos exaustivamente. Mostra-o nos seus gestos. Observando-O, podemos descobrir como trata cada um de nós, mesmo que nos custe perceber isso. Procuremos, pois, onde a nossa fé pode reconhecê-Lo: no Evangelho. [...] O que Ele propõe é a pertença mútua dos amigos. Veio, superou todas as distâncias, tornou-se próximo de nós, como as coisas mais simples e quotidianas da existência. [...] Se curava alguém, preferia aproximar-se: ‘Jesus estendeu a mão e tocou-o’ (Mt 8, 3); ‘tocou-lhe na mão’ (Mt 8, 15); ‘tocou-lhes nos olhos’ (Mt 9, 29). E, como faz uma mãe, curou os doentes até com a própria saliva (cf. Mc 7, 33) para que não O sentissem alheio às suas vidas. Porque o Senhor conhece a bela ciência das carícias. A ternura de Deus não nos ama com palavras; aproxima-se de nós e, estando perto, dá-nos o seu amor com toda a ternura possível”. (“Dilext nos”, 33, 34, 36)
Podemos dizer que essas palavras definem muito bem o pontificado de Francisco. Um amor humano que manifestava o amor incondicional de Deus pelo ser humano, pelos seus filhos. Um amor humano sem medida, que sabia ser inteiro com a criança, com o jovem, com o idoso, com as famílias, com os encarcerados, com os fracos, com os que estão à margem na sociedade.
Esse modo de amar precisa nos constranger, precisa gerar conversão em nossos corações endurecidos, frios e indiferentes. Francisco nos ensinou que esse modo humano de amar gera leveza, alegria, bom humor, que rompe com a amargura e a tristeza. Esse modo humano de amar leva esperança e paz aos corações, fazendo cair por terra todo peso que nos impede de fazer a bela experiência de sermos filhos e filhas livres.
Essa é a marca, o legado, que devemos trazer em nossas memórias e corações. Eu, padre Leonardo, tive a graça de morar em Roma, na Frente de Missão da Comunidade Canção Nova, de 2022 a 2024. E esse modo de amar humano do Papa, que pude contemplar de perto em suas audiências, nos seus gestos e palavras, eu busco trazer para a minha vida e luto para viver, pôr em prática, na vida de todos aqueles que o Senhor me confia. É o que também desejo para todos. Deus abençoe você!



