O Brasil vive uma nova realidade. No campo da administração pública e, por consequência, da política, o País atravessa um período de mudanças que não podem mais ser ignoradas. A lógica do passado, em que grandes obras públicas eram sinônimo de força eleitoral, já não se sustenta da mesma maneira.
Embora ainda tenham importância para marcar gestões e servir de vitrine em períodos eleitorais, elas perderam espaço tanto na preferência da opinião pública quanto no orçamento disponível.
Em primeiro lugar, é preciso reconhecer um ponto central: sem o fortalecimento contínuo dos mecanismos de controle da administração pública, que garantam transparência e eficiência, dificilmente será possível retomar investimentos em grandes proporções como já ocorreu em outras épocas.
A memória recente do País está repleta de exemplos de obras grandiosas que se tornaram símbolos de desperdício, desvios e inacabamento. Esse cenário gerou descrença e, naturalmente, levou a sociedade a cobrar mais responsabilidade no uso dos recursos públicos.
Na edição de hoje, mostramos que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Mato Grosso do Sul está atrasado e com menos da metade dos investimentos previstos em andamento. Isso não é um caso isolado: trata-se de reflexo de um modelo que tenta replicar estratégias antigas em um contexto totalmente diferente.
O governo federal buscou usar um “remédio do passado” na gestão presente, mas o efeito não foi o esperado. A lentidão na execução do PAC é prova disso. E como diz o ditado popular, “esse filme eu já vi”: rever a mesma trama dificilmente causa o mesmo impacto.
Outro aspecto a ser considerado é a escassez de recursos. O Brasil não dispõe mais do volume de dinheiro que sustentava os grandes investimentos do passado.
Parte significativa do orçamento de investimentos hoje está comprometida com o pagamento de emendas parlamentares, um instrumento que se consolidou como moeda de troca política em Brasília.
Esse cenário, ainda que previsível, esvazia a capacidade de o governo promover políticas estruturantes em larga escala.
A nova realidade exige, portanto, mais criatividade e gestão responsável. Se as grandes obras deixaram de ser a principal vitrine, a transparência, a eficiência e a capacidade de atender demandas reais da população precisam assumir esse papel.
O Brasil já não pode se dar ao luxo de repetir estratégias que, em outro tempo, renderam dividendos eleitorais, mas que hoje encontram limites financeiros e desconfiança pública. O desafio está posto: adaptar-se a um país que mudou e que cobra mais resultados do que anúncios.


