É altamente irresponsável a maneira como a Rumo conduz a concessão da Malha Oeste em Mato Grosso do Sul. Há mais de 10 anos, o trecho ferroviário está praticamente paralisado, entregue ao abandono, corroído pelo tempo e a omissão.
Os trilhos que um dia representaram desenvolvimento, integração e logística, hoje, são o símbolo do descaso com o patrimônio público. E o mais grave: a empresa não larga o osso.
Há uma pergunta óbvia que insiste em ecoar: se a ferrovia não dá lucro, por que não devolvê-la à União? Essa é a questão central que paira sobre o caso. A resposta, claro, está com a Rumo, mas o contexto em torno do tema ajuda o leitor a tirar suas próprias conclusões.
A empresa, afinal, detém outra ferrovia em Mato Grosso do Sul, extremamente rentável: a Malha Norte, que corta o noroeste do Estado. Em certos trechos, as duas linhas chegam a ficar a menos de 100 quilômetros de distância uma da outra.
A partir daí, a reflexão se impõe: qual seria o real interesse da Rumo em reativar a linha de baixo, se a de cima já atende à demanda e gera bons resultados financeiros?
É aqui que surge uma segunda pergunta, ainda mais incômoda: por que a Rumo não devolve a concessão da Malha Oeste? A resposta, novamente, está nas entrelinhas do comportamento empresarial, e o leitor pode deduzir o motivo.
Devolver a ferrovia significaria abrir espaço para um concorrente. Em outras palavras, manter a concessão ociosa é também uma forma de bloquear o mercado e impedir que outro operador explore o trecho.
Essa é uma estratégia cruel travestida de inércia. O prejuízo, porém, é coletivo. Municípios inteiros ficam sem alternativas logísticas, o potencial de escoamento agrícola e industrial do Estado é sufocado e o patrimônio público se deteriora dia após dia.
E então chegamos a um terceiro ponto: onde está a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)? O órgão regulador, responsável por fiscalizar e garantir o cumprimento das obrigações contratuais, parece ter se resignado diante da paralisia.
Por que não cassar a concessão, mesmo que seja para devolver o controle à União, já que, na prática, a ferrovia está parada?
A resposta para essa pergunta está em reportagem desta edição. Se a Rumo devolver a Malha Oeste, será obrigada a indenizar a União em mais de R$ 2 bilhões. Eis o verdadeiro trilho dessa história: não é a ferrovia que não dá lucro, é a multa que não cabe no balanço.
Enquanto isso, o tempo passa, a omissão se perpetua e Mato Grosso do Sul continua à margem dos trilhos que poderiam impulsionar sua economia. É o retrato de um país que, por leniência e conveniência, permite que concessões públicas se transformem em concessões privadas de impunidade.


