Artigos e Opinião

OPINIÃO

Octavio Luiz Franco: "Agricultura versátil às mudanças climáticas"

Professor do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia/UCDB

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Ano após ano, a população humana cresce progressivamente. Isto é um fato. E este fato depende de várias condições que incluem a nossa alta demanda por alimento. Não só ingerimos uma maior quantidade de proteínas e carboidratos de alto nível, mas também, a cada dia que se passa, temos um maior número de bocas a alimentar neste mundo. 

Hoje, somos 7 bilhões de pessoas no mundo e, em 2050, seremos, de acordo com as previsões, 9 ou 10 bilhões. Só este aumento coloca enorme pressão na produção alimentícia mundial. Entretanto, as mudanças climáticas têm complicado ainda mais esta equação, especialmente em países subdesenvolvidos, onde ondas de calor ou frio, secas ou inundações diminuem consideravelmente a produção. 

A predição do tempo ainda tem sido extremamente incerta em todas as partes do planeta, uma vez que este varia consideravelmente de região a região. Mesmo a predição do aquecimento global, que parece ser um consenso entre todos os cientistas, ainda é um grande mistério e seus valores variam de estudo para estudo. Dependendo do aumento de temperatura, algumas produções, como de frutíferas, por exemplo, serão beneficiadas. Entretanto outras, como milho e trigo, poderão ser reduzidas em mais de 20%. Desta forma, mesmo a produção mundial anual de 1 bilhão de toneladas de milho, somada aos 750 milhões de toneladas de arroz e aos 700 milhões de toneladas de trigo, será particularmente difícil de ser sustentada em ambientes multivariados, podendo levar parte da população mundial à fome.

Assim, por todo o mundo, pesquisadores, fazendeiros e empresas têm se associado para deixar os sistemas agricultáveis mais resilientes e inteligentes. Um dos primeiros passos para a construção desses sistemas consiste em mudar a linha de pensamento na busca de novos cultivares. Ainda hoje, geneticistas buscam cultivares de alta eficiência produtiva resistentes para situações como secas, inundações ou altas concentrações de sal. 

O futuro provavelmente levará os cientistas, apesar das enormes dificuldades, a buscar cultivares que suportem variações, como alterações bruscas de temperatura, ou que aguentem o contraste entre a seca seguida de inundações. Neste sentido, o Instituto de Internacional de Pesquisa ao Arroz (Irri, do inglês International Rice Research Institute), localizado nas Filipinas, tem desenvolvido cultivares de arroz que suportam enchentes por longos períodos e que depois possam continuar a crescer em condições normais. 

Ferramentas de comunicação digital também serão essenciais para a proteção de produtores por todo o mundo. Um aplicativo desenvolvido pelo Irri permite que escritórios de agricultura regional distribuam entre os pequenos fazendeiros recomendações de uso de fertilizantes ou de períodos de colheita de acordo com as predições do tempo e as condições do solo. Entretanto, dada às mudanças, algumas alterações radicais também serão necessárias, como um uso melhor da irrigação ou mesmo o abandono de algumas áreas em busca de outras mais produtivas. 

As nações mais desenvolvidas, como Austrália e EUA, têm investido em projetos de longo termo, pensando nos problemas que as mudanças climáticas causarão a partir de 2040. Embora a maioria dos produtores pense que esse ainda é um futuro distante, a verdade é que devemos nos precaver para as dificuldades futuras. 

Ganhar o pão de hoje não impede de pensar e tomar certas atitudes para garantir o ganho e a sustentabilidade do amanhã. Esta é uma estratégia que nosso País deve decididamente adotar, se quisermos ter sucesso em um futuro próximo. A ciência está vigilante ao nosso lado, atuando sabiamente para solucionar os problemas de nossa sociedade.

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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