Postei em rede social um artigo meu publicado há tempos neste jornal, em que falei sobre o desastre que está ocorrendo com nosso idioma, a “última flor do Lácio, inculta e bela”, especialmente com o tal “gerundismo”, esse vírus insuportável que se instalou entre nós e não dá sinais de que “vai estar desaparecendo”.
No mesmo texto condenei também o exagerado e desnecessário emprego de palavras e expressões em inglês. Nesse último quesito fui contraditado por alguém que acha normal o uso do inglês na comunicação em português. O problema é saber a quem se destina a mensagem, numa população majoritariamente desconhecedora da própria língua, muitas vezes incapaz de entender os textos mais simples.
Contou-me um juiz o caso tório médico, preenchendo a ficha de atendimento: ao perguntar a profissão dele e ouvir “magistrado”, não sabia o que era nem como escrever. Como esperar que pronunciem e entendam o significado de termos em língua estrangeira, como o inglês? Assim, a comunicação somente será entendida pela “zelite”, nunca pelo povão.
O saudoso Jorge Siufi escreveu uma crônica sobre as relações entre patroas e empregadas citando, entre outros, o seguinte caso: a secretária fala para a patroa que, a partir do dia seguinte, vai sair uma hora mais cedo, porque ela e a empregada da vizinha vão estudar inglês. A patroa diz: “Inglês? Mas, e o português?” Ela responde: “Ah, o portugueis nois já sabe.” Campo onde proliferam os termos em inglês é o da informática. É um tal de whatsapp, emoticons, adware, malware, spyware, benchmark, downstream, browse, phishing, soundbar, hashtag, streaming, e por aí vai!
Não tenho ideia de seus significados, apesar de usar o computador há muitos anos. Tentando entender, busquei, ao acaso, “streaming” no dicionário e só encontrei “stream”, que deve ser a raiz da palavra: ali estão, em vários contextos, diversos significados, como riacho, córrego, fluxo, rastro, torrente, classificar, correr e fluir. E então?

Um exemplo de desconhecimento do idioma de Shakespeare em nosso meio: há alguns anos existia na Rua Jornalista Belizário Lima, em frente à então sede do TRT, uma lanchonete bem singela denominada “Billi Pou”, talvez “homenageando” o famoso cantor estadunidense Billy Paul (nascido Paul Williams, na cidade de Filadélfia). E que tal o “x-burgue” em lugar de “cheese-burger”? Aliás, tem também “x-salada”, “x-tomate”, “x-peru” e até um “x-tudo”.
A mania das construtoras de dar nomes estrangeiros aos seus prédios também causa problemas. Fui parado na rua por uma senhora que desejava saber onde ficava o edifício “Morití”. Ante minha expressão de dúvida, ela adicionou algumas referências que me fizeram deduzir qual seria o objeto de sua busca: estava bem ali perto, o edifício “Saint Moritz”. Também já ouvi, numa roda de conversa, alguém se referindo ao edifício “Renoir”, pronunciando a palavra tal como está escrita. Já observei, em anúncio de imobiliária, edifício “San Pou” (Saint Paul).


