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Pedro Pedrossian Neto: "Ciência lúgubre"

Pedro Pedrossian Neto é economista, professor e mestre em Economia Política pela PUC-SP, é diretor-executivo da Nova Miranda Urbanizadora.

Redação

04/05/2015 - 00h00
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Desde que as primeiras teorias sobre a origem da riqueza ganharam corpo, ao final do século 18, a economia firmou-se como uma ciência de verdades duras e inconvenientes. O egoísmo como pressuposto, a escassez como limite, aliados a um certo pessimismo da razão, popularizaram o apelido que lhe foi dado pelo historiador Thomas Carlyle: “ciência lúgubre”. Para o bem ou para o mal, nos momentos de crise, coube ao pensamento econômico ser o porta-voz de um realismo nem sempre compatível com o desejo dos governos, tão interessados em influir na psicologia social dos agentes.
Divorciar-se das vontades e das paixões implica ver as coisas como elas realmente se apresentam – sejam elas lúgubres ou não. Em pouco mais de cem dias, erodem-se as crenças num Estado capaz de tudo, no poder ilimitado do orçamento público e no papel do governo como líder do processo de crescimento. Em desequilíbrios múltiplos, chegamos aos abismos fiscal e externo com déficits de 7,3% e 4,2% PIB, na escalada do IPCA a 8,3%, ao descontrole do câmbio, ao freio de seis trimestres consecutivos no investimento e na recessão que se avizinha. 
A “desintoxicação dos juros” foi a principal aposta de Dilma 1. Mas em vez de atacar as causas da inflação – o déficit público e a indexação dos contratos –, e permitir assim que as taxas fossem reduzidas, decidiu cortar a penicilina em plena infecção, aumentando a febre. Ato contínuo, congelou tarifas públicas para segurar o IPCA, criando a expectativa de um inevitável ajuste futuro. Como resultado todos passaram a se defender, antes mesmo que ele viesse, aumentando preços. De tanto o Banco Central desprezar o centro da meta de inflação, deixando o índice impunemente na banda superior, o mercado convenceu-se que este era o patamar normal, convertendo o teto em piso.
Chegamos, assim, a uma espiral inflacionária que precisará ser debelada com um aperto monetário e fiscal que produza uma recessão suficiente para que todos acreditem que a meta inflacionária é para valer. Por ironia, agora que o programa do segundo mandato é negar a matriz econômica do primeiro, é o desemprego quem terá a missão inglória de reduzir salários para fazer os preços se acomodarem. 
Infelizmente, em quase todos os negócios nos quais se meteu a política econômica atual errou: nos subsídios às tarifas de energia, no marco regulatório do pré-sal, nas margens negativas da Petrobrás, na morte do etanol, no nível desequilibrado do câmbio, na política anacrônica de comércio exterior, nas desonerações setoriais casuísticas, nas “pedaladas” contábeis para cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Dirão que se trata de keynesianismo barato. Nada mais errôneo: é apenas má gestão macroeconômica.
Reformar tudo, ao mesmo tempo, só é possível quando um governo eleito convenceu a sociedade que este deveria ser o programa a ser executado com a sua chegada ao poder. Ocorre, entretanto, que a negação explícita deste programa foi justamente o que conferiu novo mandato à presidente, que para rechaçar o ajuste incutiu no imaginário coletivo a imagem de banqueiros tirando o arroz e o feijão da mesa do trabalhador. Quanto mais ela o implementa – porque dele precisa –, mais destrói o capital político que lhe garante a governabilidade. Uma armadilha e tanto, diria Carlyle.
A credibilidade, para o tomador de decisões, não é um recurso ilimitado que pode ser sacrificado perdulariamente sem que traga consequências para a sua sobrevivência no negócio. O Brasil de 2015 é o resultado de um acúmulo de contradições que hoje ganham forma concreta na crise, na desconstrução de um governo que queria um país rico e sem miséria, sem saber como conduzi-lo. A razão aponta pessimismo, o medo bate à porta e liberta o pior dos instintos. A ciência lúgubre, novamente, faz justiça a velha fama.

EDITORIAL

2026: o ano do cerco ao crime organizado

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes

22/12/2025 07h15

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O ano de 2026 desponta no horizonte como um marco decisivo para o enfrentamento ao crime organizado no Brasil. Não por acaso, trata-se de um ano eleitoral, quando a segurança pública volta a ocupar o centro do debate político e social.

Mas seria um erro reduzir o endurecimento do discurso e das ações apenas ao calendário das urnas. A realidade impõe, por si só, uma resposta mais firme, coordenada e inteligente do Estado frente ao avanço das facções criminosas e à sofisticação de suas engrenagens financeiras e operacionais.

É verdade que, em anos eleitorais, governos tendem a intensificar operações e anúncios na área da segurança. A sociedade, cansada da violência cotidiana, cobra respostas.

Ainda assim, pouco importa a motivação inicial, desde que as ações sejam efetivas, estratégicas e produzam resultados duradouros. Combater o crime organizado não pode ser sinônimo de operações midiáticas ou ações pontuais. É preciso ir ao coração do problema: o dinheiro.

Descapitalizar e desmobilizar quadrilhas deve ser o objetivo central. Facções sobrevivem e se expandem porque movimentam cifras milionárias, lavadas por meio de empresas de fachada, contratos simulados, criptomoedas e uma infinidade de artifícios cada vez mais sofisticados.

Sem atacar a lavagem de dinheiro, qualquer combate ao crime será superficial e ineficaz. O mesmo vale para os golpes cibernéticos, que se multiplicam em velocidade alarmante, atingindo cidadãos comuns, empresas e o próprio poder público.

A criminalidade de rua também precisa ser enfrentada com seriedade. Roubos e furtos, especialmente de telefones celulares, tornaram-se uma epidemia urbana.

Para muitas famílias de baixa renda, o celular é o principal – e às vezes o único – patrimônio, além de ferramenta essencial de trabalho, comunicação e acesso a serviços básicos. Proteger esse bem é, também, proteger a dignidade de milhões de brasileiros.

No contexto regional, o alerta é ainda mais grave. Combater o crime organizado é também impedir que grandes facções ampliem seu domínio territorial.

Mato Grosso do Sul já convive com a presença do PCC e do Comando Vermelho, organizações conhecidas por sua capacidade de infiltração, violência e articulação interestadual.

Agora, conforme mostramos nesta edição, o Terceiro Comando Puro (TCP) também chegou ao Estado. Trata-se de mais uma engrenagem criminosa a disputar espaço, rotas, mercados ilegais e poder.

Esse cenário exige das forças de segurança muito mais do que retórica. É necessário levar esse combate a sério, com integração entre polícias, Ministério Público, Judiciário e órgãos de inteligência financeira. Investigações técnicas, compartilhamento de informações, uso de tecnologia e foco na asfixia financeira das facções precisam ser prioridades absolutas.

O crime organizado não se combate apenas com viaturas nas ruas, mas com inteligência, planejamento e coragem institucional.

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes. A população já esperou demais.

ARTIGOS

Câncer na juventude: inesperado e devastador

Costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela

20/12/2025 07h45

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O diagnóstico de câncer não é algo simples, pois muitas vezes requer diversos exames. Mas, desde o momento em que se cogita a possibilidade, o reflexo desta simples suposição começa a impactar a vida do paciente e de todos à sua volta.

Esta doença costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela. São tipos e riscos diferentes, mas tanto um bebê quanto um idoso podem sofrer de câncer.

Um idoso entende a doença como consequência da sua longevidade, e um bebê não compreende o que está acontecendo. Porém, um jovem, que muitas vezes se acha imortal, com tantos anos de vida pela frente, sofre um abalo devastador, não apenas financeiro, mas também emocional.

Um jovem acha que pode superar qualquer obstáculo, e, de repente, a vida lhe coloca diante de uma doença que pode abreviar sua longa história, transformando o que seria um livro num simples artigo de uma página. 

Nada passa a ser racional. Alguns são mais receptivos, outros mais agressivos. O fato é que toda ajuda será necessária, e agora aquele jovem independente e invencível precisará entender que, sozinho, não vai a lugar nenhum.

Um jovem morrendo não é algo fácil para seus pais, família e amigos aceitarem. A doença se entranha na estrutura familiar e abala seus alicerces. 

A vida social é deixada de lado para enfrentar um tratamento no qual o paciente não sabe se sairá vivo ao final. Sua vida está por um fio, e ele precisa acreditar que vai dar certo, ter esperança. Por isso, o suporte emocional é um forte aliado no sucesso do tratamento.

Existem entidades privadas e governamentais que trabalham para reduzir o sofrimento criando bancos de sangue e órgãos, profissionais que dão apoio, organizações que apoiam financeiramente o tratamento, voluntários que se propõem a ajudar no dia a dia. 

Nessa busca por suporte, apesar do importante papel das entidades, é nas histórias contadas por meio de livros, filmes e outras famílias que o paciente encontra um colo para deitar, um ombro amigo. São experiências que foram vividas por outras pessoas, mas que servem de referência sobre as batalhas que estão por vir, as mudanças de hábitos, sequelas e dores.

São histórias de vida e de superação que transmitem acolhimento, trazem esperança e dão forças para seguir em frente na busca da cura de uma doença implacável que não tem idade.

Essas histórias criam conexões que afastam a solidão, trazem o conhecimento de quem passou pela mesma dor e ajudam a criar pontes para superar os maus momentos.

É importante que o jovem perceba que não está enfrentando essa batalha sozinho, que ele se sinta acolhido, que acredite no tratamento. Como toda doença, identificar cedo é importante e a melhor chance de cura. Vamos estar alertas porque ninguém está livre do câncer.

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