A grande imprensa nacional deu um destaque diferenciado às declarações prestadas pelo presidente Bolsonaro ao chamar de pirralha a ativista Greta Thunberg, que exteriorizou as suas opiniões a respeito das queimadas na Amazônia e das mortes de índios no território brasileiro. Não temos nenhuma procuração para fazer a defesa do presidente. O mandatário brasileiro tem um colégio de profissionais para o desempenho dessa importante mister. Ela tem outra vertente.
O enfoque do artigo está circunscrito à fala da ativista e também à surpresa presidencial.
A ativista exteriorizou seu pensamento, estribada em documentos que lhe foram apresentados por ONGs – com as colocações próprias e impróprias dessas organizações. Dissiparam-se como as nuvens. Não poderia ser outra nossa interpretação. Primeiro porque as declarações não mudam a política do governo nessas áreas. Depois porque o colóquio de Madrid teve um fim desastroso. Nesse contexto, temos que o mandatário brasileiro, ao se expressar daquela forma, não quis menosprezar a dignidade da pessoa humana. Não pretendeu de outro vértice machucar nenhum sentimento. No dicionário da nossa língua portuguesa o termo pirralha é indicativo de criancice, de ação infantil ou mesmo de menina.
Todavia, se o termo usado por Bolsonaro fosse outro, como, por exemplo, fedelha, a intenção seria a mesma, embora de forma pejorativa indicasse a qualidade da criança ou do adolescente com pretensões de adulto. Mas esse é um tema para ser tratado pelos nossos experts na área, os professores de Língua Portuguesa. Os nossos imortais da Academia de Letras do Estado também possuem essa autoridade. Tem o domínio do vernáculo. Mas, de qualquer forma, tratam-se de interpretações diferenciadas que precisam ser respeitadas.
O estardalhaço que as declarações produziram pode ser debitado por conta da cultura do povo brasileiro que impede a correta interpretação do termo. As nossas crianças, os adolescentes, os jovens e também uma parcela significativa dos nossos adultos não possuem o razoável domínio da nossa língua. Nesse contexto, surge a imprensa com os seus principais protagonistas emprestando o brilho das suas interpretações. Podem formar opiniões a favor e contra o pronunciamento presidencial.
Em todos esses contextos existem ainda outros tantos oceanos de interpretação que podem ser emprestados para o enfrentamento do tema. O que temos de concreto é que a ativista não se sentiu indignada. Mudou seu indicativo nas redes sociais para pirralha. Aqui também cabe outra interpretação. Depois foi a vez de Trump. Chamou de idiota os diretores da revista americana que homenageou a ativista. Fez um elogio à ativista, que mudou novamente o seu indicativo nas redes sociais para homenagear o mandatário norte-americano. Sempre com espírito elevado. Não houve nenhuma repercussão na grande imprensa internacional.
Dias desses, o presidente Donald Trump voltou a surpreender o mundo com outras declarações bombásticas. Disse a Emmanuel Macron que a França estaria falando, nos dias que correm, a língua alemã se não fosse a intervenção americana na Segunda Grande Guerra Mundial. Claro que a frase teve o indicativo de brincadeira. Do tamanho exato da inteligência dos seus protagonistas. Nada mais. Essas alfinetadas ou provocações no bom sentido tornam a política interessante, atraente e divertida. Também, questionadora. Deixam marcas indeléveis. É assim que marcha a humanidade. A história segue inexoravelmente o seu curso. Novos fatos inusitados surgirão. Outras interpretações surpreenderão a grande imprensa.
A política é assim mesmo dinâmica e resulta capaz de produzir belos espetáculos teatrais. Essa passagem significativa traz-me à lembrança o grande político João Leite Schimidt, cidadão ilustre do nosso Estado e filho singular da sua sempre linda e amada Coxim. Salientou o ilustre homem público em um colóquio na cidade de Campo Grande que a atividade política, quando rotineira, fica insossa, sem graça e desmotivada. Precisa haver, de vez em quando, essas intervenções criativas e com a formação de protagonismos que possam despertar nos cidadãos o gosto pela compreensão dos fatos que os circundam. Disso dou meu testemunho. Trata-se de uma grande verdade. Um verdadeiro e precioso dogma.
Essas brincadeiras, quando surgem no arco-íris do bom gosto e sem nenhum indicativo de ofensas à dignidade pessoal das partes envolvidas, evidencia o humor dos protagonistas e ainda engrandece a política como instrumento garantidor da democracia. Simples assim.


