Artigos e Opinião

ARTIGO

Plinio Antonio Aranha Jr: "Resumo da ópera tupiniquim do setor elétrico"

Advogado, especialista em Direito Tributário pelo IBET e engenheiro eletricista ([email protected])

Redação

25/01/2015 - 07h11
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A expressão ‘resumo da ópera’, “a partir do século 17, passou a designar a obra dramática musicada, geralmente desprovida de partes faladas, composta de recitativos, árias, coro, às vezes balé, sempre com acompanhamento de orquestra (...). Como as óperas geralmente eram longas, seus produtores e organizadores passaram a publicar livretos com o chamado “resumo da ópera”. A expressão, pelo uso constante, acabou sendo utilizada para fazer referência ao resumo de qualquer projeto ou material. (fonte:clique aqui).

No nosso tupiniquim caso, não sei se estaríamos mais a resumir uma ópera, ou um espetáculo circense, no qual os palhaços nem sempre são os que o fazem. Se chove, falta luz; se não chove, falta água. Bem, antes de jogar a culpa em São Pedro ou em outros canonizados, ou como o ministro das Minas e Energia disse, esperar por ajuda divina, façamos uma breve contextualização.

Sempre se soube que os investimentos em infraestrutura do setor elétrico, em regra, são realizáveis a médio e longo prazos, como por exemplo, a construção de usinas hidrelétricas, linhas de transmissão, etc., no entanto, espera-se a escassez, para se começar agir (quando se age), mas aí também é escasso o tempo para a realização das obras, e ao mesmo tempo chovem opiniões de especialistas que pouco ou nada fizeram para que a situação atual fosse outra, mas esta chuva não enche reservatórios (quando existem).

Antigamente as empresas do setor eram verdadeiros elefantes brancos, que se organizavam em monopólios verticalizados, podendo exercer as atividades de geração, transmissão e distribuição de energia por meio de única empresa, mas, pelo menos até a Constituição de 1988, incidia apenas um imposto sobre as tarifas, o “imposto único sobre energia elétrica” de competência da União.
Após a nova Constituição de 1988, os Estados passaram a tributar a energia elétrica, equiparada a bem móvel (mercadoria) pela nossa legislação, fazendo incidir o ICMS, tributo que mais encarece o valor da tarifa. Não bastasse a tributação elevadíssima, ainda foram embutidos nas tarifas diversos “encargos setoriais” (verdadeiros tributos disfarçados). 

Neste cenário, as empresas do setor elétrico, em especial as distribuidoras, que monopolizam mercados cativos e crescentes e que concentram a maior parte da arrecadação, ante a necessidade do uso da energia em qualquer atividade humana, se constituem em arrecadadores altamente eficazes, de parcela da renda dos demais setores da economia, já que todos acabam pagando as tarifas, quase sempre desconhecendo o que estão realmente pagando, além da energia consumida e o uso das redes, fazendo assim, nascer o sorriso largo das Fazendas Públicas.

O último governo federal reduziu as tarifas, assim, se estimulou o consumo de energia, e, ao se estimular o consumo, os reservatórios de água foram secando, secando, e as novas usinas, em grande parte pela imposição dos “ecologistas de plantão”, estão sendo implementadas sem os reservatórios. Fato curioso é que, ao mesmo tempo em que famosos atores da televisão vilanizam a construção de hidrelétricas no norte do País, o aumento da demanda obriga o uso de usinas extremamente poluidoras, como as termelétricas e, aí, não aparece nenhum artista televisivo pedindo que se desliguem os aparelhos que os expõem na mídia, para salvar o mesmo meio ambiente!!!

Ocorre que, os governos, em vez de terem criado condições de represamento de água nas novas usinas e a construção de linhas de transmissão, represaram alguns repasses necessários às tarifas (coincidentemente em épocas eleitorais), aportando bilhões, e ainda promoveram e promoverão eventos mundiais no Brasil (Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016), mas, como eu já disse num artigo anterior, não há almoço grátis... um dia vem a cobrança.

Enfim, eis o resumo da ópera, o Brasil continua seguindo na contramão da história, já que é muito fácil aumentar a arrecadação, via tributação, em que ela é mais eficaz ou não? As tarifas de energia já sofreram o primeiro impacto, com a aplicação das bandeiras tarifárias, imaginem no próximo reajuste tarifário anual (ou a qualquer momento em caráter extraordinário). Aí sim, como disse o ministro das Minas e Energia, devemos pedir uma intervenção divina.

EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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