Artigos e Opinião

EDITORIAL

Por uma logística à altura do Brasil

Se quisermos um Brasil mais competitivo, integrado e capaz de enfrentar os desafios de um mundo globalizado, precisamos assumir a seriedade como valor central

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Na última semana, o Correio do Estado publicou uma série de reportagens dedicadas ao tema da logística. Foram abordados projetos de grande porte que atravessam Mato Grosso do Sul: a Malha Oeste, o Corredor Bioceânico e as concessões de rodovias estratégicas para o desenvolvimento do Estado e do País.

São iniciativas que não apenas integram regiões, mas têm potencial de transformar a dinâmica econômica nacional e de inserir o Brasil de forma mais competitiva no comércio global.

Não há dúvida de que estamos diante de empreendimentos grandiosos, que demandam investimentos bilionários e anos de planejamento. O que chama a atenção, no entanto, é como esses projetos expõem nossas fragilidades históricas: levamos muito tempo para tirá-los do papel, e ainda mais tempo para concluí-los.

O atraso na entrega de obras e na consolidação de políticas públicas explica por que ficamos para trás em relação a países centrais, ou mesmo a nações em desenvolvimento que, como a China ou os países do Sudeste Asiático, construíram em poucas décadas sistemas logísticos de classe mundial.

O que nos falta não é dinheiro. É preciso ser claro: lamentavelmente, embora projetos como esses custem caro, o Brasil hoje tem condições de financiá-los. O problema está na seriedade dos compromissos.

Enquanto sociedade, precisamos compreender que projetos de Estado devem ser tratados com o mesmo rigor que exigimos em nossos compromissos pessoais e cotidianos. Se devemos cumprir prazos e honrar contratos em nossas vidas, por que aceitar que grandes obras públicas se arrastem indefinidamente ou fiquem à mercê de disputas políticas?

Projetos existem para serem concluídos. Esse é o ponto central. Quando uma ferrovia, uma rodovia ou uma ponte não sai do papel, não é apenas o cronograma que falha. É a sociedade que perde oportunidades de crescer, de atrair investimentos, de gerar empregos e de melhorar a qualidade de vida. O custo do atraso não é apenas financeiro, mas social e estratégico.

É urgente abandonar alguns dogmas que nos paralisam. O primeiro deles é a ideia de que o poder público não deve investir em grandes obras de infraestrutura, como se houvesse algo de “pecaminoso” ou ultrapassado nisso.

Ao contrário: há casos em que a participação do Estado é fundamental para dar segurança ao investidor privado e para garantir que projetos estruturantes avancem. Recursos podem ser obtidos se o País tiver coragem de cortar desperdícios evidentes: emendas parlamentares pulverizadas sem estratégia, aluguéis de máquinas e equipamentos sem sentido, gastos sem retorno social que, frequentemente, tornam-se fonte de corrupção. O problema, portanto, não é falta de dinheiro, mas falta de prioridade e de gestão.

Também precisamos entender que política de desenvolvimento não pode ter cor partidária. Grandes projetos não podem ser interrompidos a cada mudança de governo, ao sabor de agendas eleitorais. Uma ferrovia não é de um partido.

Uma ponte não é de um governador ou de um presidente. São patrimônios coletivos, que pertencem à sociedade e que devem ser entregues em benefício das próximas gerações.

É claro que a mudança de mentalidade não acontece da noite para o dia. Exige insistência, cultura e disciplina. Mas se quisermos um Brasil mais competitivo, integrado e capaz de enfrentar os desafios de um mundo globalizado, precisamos assumir a seriedade como valor central.

Isso significa cobrar governos, apoiar iniciativas que façam sentido, fiscalizar investimentos e recusar o improviso que tanto nos atrasa.

Editorial

Estado acelera no etanol: energia verde

Basta circular pelas rodovias de MS para perceber os sinais dessa mudança. O fluxo crescente de caminhões-tanque não é por acaso nem por excesso pontual de safra

24/12/2025 07h15

Arquivo

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Talvez ainda não tenhamos nos dado conta da dimensão do que está acontecendo. Mas a produção de bioenergia está, literalmente, em pleno vapor no Brasil – e, de forma muito particular, em Mato Grosso do Sul. Trata-se de uma transformação silenciosa, que não costuma ganhar manchetes diárias, mas que pode ser decisiva para o futuro econômico, ambiental e estratégico do Estado e do País.

Basta circular pelas rodovias sul-mato-grossenses para perceber os sinais dessa mudança. O fluxo crescente de caminhões-tanque não é por acaso nem por excesso pontual de safra. Eles cruzam o Estado carregados de etanol anidro ou etanol hidratado, destinados para distribuidoras de todas as regiões do Brasil. É o retrato de uma cadeia produtiva em franca expansão, impulsionada por demanda crescente e por decisões estruturais que reposicionam o Brasil no mapa da transição energética.

Essa verdadeira revolução verde está acontecendo, de forma concreta, nos tanques de combustível. O consumo de etanol cresce, a produção acompanha esse ritmo e se diversifica, especialmente com o avanço do etanol de milho, no qual Mato Grosso do Sul se destaca nacionalmente. Soma-se a isso uma política energética relevante: a exigência de 30% de etanol anidro misturado a gasolina comercializada no País. Trata-se de uma regra estratégica, que reduz a emissão de poluentes, diminui a dependência do petróleo e fortalece uma matriz energética mais limpa e sustentável.

Não é pouca coisa. Em um mundo que busca, ainda de forma desigual, caminhos para a descarbonização, o Brasil dispõe de uma vantagem comparativa rara: a capacidade de produzir energia renovável em larga escala, com tecnologia, competitividade e menor impacto ambiental. Mato Grosso do Sul, nesse contexto, consolida-se como peça-chave. O Estado deixou de ser apenas um grande produtor agropecuário para se firmar como polo industrial de bioenergia, com usinas modernas, investimentos robustos e geração de empregos diretos e indiretos.

O Correio do Estado tem mostrado, ao longo dos últimos anos, a força crescente da indústria de etanol sul-mato-grossense. Não se trata apenas de números de produção ou de novos empreendimentos, mas de um reposicionamento econômico que altera a lógica de desenvolvimento regional. A bioenergia gera renda, movimenta cadeias logísticas, estimula inovação e amplia a arrecadação, ao mesmo tempo em que responde a uma das maiores urgências do nosso tempo: a necessidade de reduzir emissões e enfrentar as mudanças climáticas.

É claro que desafios permanecem. Infraestrutura, logística, regulação e planejamento de longo prazo precisam acompanhar esse crescimento para que ele seja sustentável em todos os sentidos. Mas o caminho está posto. O Estado já é, na prática, uma grande usina de energia verde a céu aberto, capaz de produzir combustível limpo, reduzir a pegada de carbono e contribuir para a segurança energética nacional.

Mais do que um ativo econômico, essa vocação representa uma responsabilidade. Mato Grosso do Sul pode – e deve – ser exemplo para o Brasil e para o mundo. A bioenergia não é promessa distante: ela já está nas estradas, nos tanques, nas usinas e no cotidiano da população. Cabe agora reconhecer essa realidade, valorizá-la e transformá-la em política de Estado, para que o desenvolvimento caminhe lado a lado com a sustentabilidade.

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ARTIGOS

O passado desafia a ciência

A teoria de Darwin, unanimidade na comunidade científica, trouxe a base para compreendermos a evolução das espécies, mas alguns pontos ainda intrigam

23/12/2025 07h45

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Ao longo da história, parece que nosso planeta foi palco de diferentes “camadas” de civilizações. Cada uma deixou marcas, enigmas e realizações que ainda hoje nos desafiam. Na camada atual, buscamos organizar o passado em linhas cronológicas, tentando conectar datas e teorias de evolução. Nem sempre, porém, essas conexões se sustentam de forma linear.

A teoria de Darwin, unanimidade na comunidade científica, trouxe a base para compreendermos a evolução das espécies. Mas alguns pontos ainda intrigam.

Há saltos inesperados e caminhos surpreendentes, como o caso do polvo – um animal com características biológicas únicas – ou o fator Rh negativo em humanos, cuja origem permanece pouco clara.

Esses exemplos alimentam a imaginação e levantam hipóteses sobre a Terra como possível “laboratório de experiências”.

Outro enigma fascinante é o surgimento e desaparecimento dos dinossauros. Eles habitaram todos os continentes e dominaram o planeta por milhões de anos. O fim abrupto, atribuído ao impacto de um meteoro na região do atual Golfo do México, teria desencadeado um inverno global que durou anos.

Para alguns, esse evento sugere não apenas um acidente cósmico, mas uma intervenção programada na história da vida.

Seguindo a linha do tempo, chegamos às primeiras civilizações humanas. Povos antigos demonstraram capacidades impressionantes: ergueram blocos de pedra de dezenas e até centenas de toneladas, como o monumental bloco de cerca de 570 toneladas na base da muralha em Jerusalém.

Além disso, desenvolveram conhecimentos científicos notáveis. Eratóstenes, físico e matemático grego, calculou a circunferência da Terra com precisão admirável há mais de dois milênios – e pensar que hoje ainda há quem defenda que o planeta seja plano.

Diante desse mosaico de enigmas, que vai dos saltos evolutivos às obras monumentais deixadas por povos antigos, o que realmente se evidencia é nossa inquietação ancestral. Cada hipótese, seja científica ou imaginativa, revela menos sobre o passado em si e mais sobre o desejo humano de construir sentido e reconhecer seu lugar na história do planeta.

É nesse espírito de investigação curiosa que em “Vale do Silêncio – O Enigma do Lago” não trago respostas, mas um convite, recriando, pela ficção, o impulso que sempre nos moveu: olhar para o inexplicável e ousar formular novas perguntas.

Ao final, não importa quão sólida seja uma teoria ou quão fantástica seja outra, o que permanece é a importância de continuar explorando e ampliando as possibilidades do que entendemos como origem.

Ao observar tantos pontos obscuros em nossa trajetória, fica claro que a humanidade ainda está longe de compreender completamente de onde veio. A ciência avança, corrige rumos, descarta teorias e propõe outras, mas deixa brechas que alimentam nosso impulso de investigar.

Cada lacuna é um convite para reexaminar certezas e assumir que parte do passado permanece fora do alcance. Especular não é apenas um exercício de imaginação, mas uma necessidade intelectual. Permite explorar caminhos improváveis, levantar hipóteses e reconhecer que a história humana é maior do que qualquer narrativa linear.

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