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Progressos e desafios: a evolução da Vulnerabilidade Social no MS em 23 Anos

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Reduzir a vulnerabilidade social é um desafio complexo, abordado tanto pela sociedade civil quanto pelo Estado. Identificar adequadamente essa vulnerabilidade e sua localização é essencial para a atuação precisa dos programas e projetos voltados à mitigação desse problema. Nos últimos anos, a expressão “vulnerabilidade social” tem sido amplamente discutida, mas ainda carece de uma definição única e consolidada na literatura. Para investigar essa questão, pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) desenvolveram o Índice de Vulnerabilidade Social (IVS). Este índice é categorizado em três dimensões: Infraestrutura Urbana (IVS-IU), Capital Humano (IVS-CH) e Renda e Trabalho (IVS-RT).


    Nesse contexto, foi desenvolvida pela Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (SEAD) do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul (MS) em parceria com a Superintendência de Inteligência de Dados (SID) da Secretaria-executiva de gestão estratégica e municipalismo (SEGEM-SEGOV), uma pesquisa de campo abrangendo todos os municípios do estado, visando avaliar o IVS para o ano de 2023. Os IVS dos anos anteriores podem ser obtidos a partir dos anos que tiveram Censo e que foram disponibilizados pelo IPEA.


    Analisando esses indicadores de maneira preliminar os resultados indicam uma redução geral da vulnerabilidade entre 2000 e 2010, seguida por uma reversão até 2023. No entanto, comparando 2000 com 2023, o MS conseguiu reduzir a vulnerabilidade na maioria dos municípios. A infraestrutura urbana foi a dimensão mais crítica ao longo do tempo. Houve uma melhora entre 2000 e 2010, mas foi seguida por uma elevação nos anos posteriores. Isso indica a necessidade urgente de investimentos contínuos e robustos nessa área.


    O capital humano apresentou uma melhora significativa de 2000 até 2010, mas uma deterioração subsequente até anos recentes. A educação, saúde e outras áreas relacionadas precisam de atenção redobrada para reverter essa tendência. A dimensão de renda e trabalho foi a única que manteve os ganhos de redução da vulnerabilidade no período de 2000 até 2010, com um avanço importante. Se as outras dimensões apresentarem desempenho semelhante, a vulnerabilidade do estado poderá cair significativamente. Ou seja, o desafio é que as dimensões de infraestrutura e capital humano tenham o mesmo bom desempenho que a renda e trabalho apresentaram, isto é, transformar os ganhos econômicos e o crescimento em “multiplicador” para demais áreas.


    Nesse sentido para uma redução significativa da vulnerabilidade social no Mato Grosso do Sul, é fundamental priorizar melhorias na infraestrutura urbana, especialmente no acesso ao esgotamento sanitário, coleta de lixo e deslocamento ao trabalho da população vulnerável. A relação entre o crescimento econômico e a redução da vulnerabilidade social destaca a importância de políticas públicas que promovam um crescimento econômico inclusivo e sustentável.


    Em suma, a análise do IVS revela que, embora o estado do Mato Grosso do Sul tenha feito progressos notáveis em várias esferas na redução da vulnerabilidade social desde 2000, ainda há desafios substanciais a serem enfrentados, particularmente na área de infraestrutura urbana. As ações futuras devem focar na consolidação dos avanços e na implementação de medidas que abordem as áreas mais críticas, garantindo assim um desenvolvimento socioeconômico equilibrado e duradouro para todos os municípios do estado.

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EDITORIAL

Judiciário não é palco nem mercado

Restringir a atuação como coach e impor limites a determinadas docências, especialmente aquelas transformadas em verdadeiros cursos caça-níqueis, é fundamental

13/12/2025 07h15

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A decisão do presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Edson Fachin, de proibir que magistrados atuem como coaches, seja nas redes sociais ou fora delas, não é apenas correta como necessária.

Trata-se de um freio institucional que chega em boa hora a um Judiciário que, nos últimos anos, tem convivido com excessos de exposição, vaidade e práticas que colocam em xeque a sobriedade exigida da magistratura.

Não é de hoje que esse limite vem sendo testado.

Há cerca de dois anos, causou perplexidade o caso de um ex-juiz federal que passou a vender cursos na internet ensinando “táticas” para ganhar recursos judiciais. O paradoxo salta aos olhos: quem julgava recursos passou a faturar dinheiro “por fora” ensinando advogados a vencê-los.

Ainda que se alegue liberdade profissional após deixar a toga, a prática é, no mínimo, eticamente questionável e contribui para corroer a confiança da sociedade na imparcialidade do sistema de Justiça.

A medida de Fachin reconhece um problema real: tem faltado comedimento à parte da magistratura brasileira.

Em tempos de redes sociais, palestras remuneradas e cursos de viés mercadológico, alguns juízes parecem ter esquecido uma máxima antiga, simples e ainda extremamente atual: o lugar em que o magistrado mais deve falar é nos autos.

A autoridade da toga não se constrói com likes, seguidores ou discursos performáticos, mas com decisões técnicas, fundamentadas e discretas.

Restringir a atuação como coach e impor limites à determinadas docências, especialmente aquelas transformadas em verdadeiros cursos caça-níqueis, é fundamental. Não se trata de censura nem de cerceamento da liberdade intelectual, mas de preservação da função jurisdicional.

O juiz não é um influenciador digital, tampouco um vendedor de fórmulas de sucesso processual. É agente do Estado, investido de poder para decidir conflitos com independência e imparcialidade.

Isso, porém, não significa defender um Judiciário hermético ou alheio à sociedade. Ao contrário: as cortes precisam, sim, se comunicar melhor nestes novos tempos, explicar decisões complexas, dialogar institucionalmente com a população e prestar contas de seu funcionamento. Comunicação institucional é necessária; autopromoção individual, não.

No fim das contas, o que está em jogo é o respeito à própria instituição. O Judiciário é, talvez, o Poder que mais precisa ser respeitado para que a democracia funcione. E esse respeito não é um privilégio – é uma obrigação que começa dentro de casa.

Seriedade, sobriedade e autocontenção não são virtudes acessórias para magistrados; são requisitos essenciais para quem exerce uma das funções mais sensíveis do Estado.

ARTIGOS

Novas regras do Banco Central sobre ativos virtuais: um marco de maturidade regulatória

Brasil consolida seu papel de protagonista na integração entre inovação financeira e solidez regulatória, aproximando-se dos padrões internacionais de governança e Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo

12/12/2025 07h45

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Em 10 de novembro, o Banco Central do Brasil deu um passo histórico ao publicar as Resoluções BCB nº 519, nº 520 e nº 521, que inauguram um novo ciclo de regulação do mercado de ativos virtuais no País.

Com essas normas, o Brasil consolida seu papel de protagonista na integração entre inovação financeira e solidez regulatória, aproximando-se dos padrões internacionais de governança e Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo (PLD/FT).

Mais do que um conjunto técnico de regras, essas resoluções representam um amadurecimento institucional do sistema financeiro brasileiro diante da realidade cripto. Até então, o setor operava em uma zona cinzenta regulatória, com supervisão limitada e grande diferenças de informações entre prestadores e usuários.

Agora, o País passa a estabelecer bases claras para a operação de Sociedades Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais (Psav), além de definir, pela primeira vez, o tratamento cambial para operações internacionais com criptoativos.

A Resolução BCB nº 519/2025 impõe um padrão de governança que coloca as Psav sob um nível de exigência comparável ao das instituições financeiras. Exige-se segregação patrimonial, controles internos robustos e políticas de PLD/FT equivalentes às do sistema bancário.

Essa medida mitiga riscos de uso indevido dos recursos dos clientes e reduz o espaço para fraudes e práticas abusivas. Pontos sensíveis em um setor historicamente marcado por volatilidade e escândalos.

Já a Resolução BCB nº 520/2025 institui o processo de autorização prévia para funcionamento das Psav, com vedações expressas à oferta de crédito e à captação de recursos de clientes qualificados.

O objetivo é proteger investidores e garantir que as operações com criptoativos não contaminem o sistema financeiro tradicional com riscos de liquidez e solvência. A exigência de sede no Brasil e critérios rigorosos de idoneidade e gestão de riscos também reforçam o compromisso com a responsabilidade corporativa e a transparência operacional.

Por sua vez, a Resolução BCB nº 521/2025 corrige uma lacuna importante ao enquadrar as operações internacionais com criptoativos, como operações de câmbio, sempre que houver conversão de moeda ou transferência internacional de valores.

Essa regra coloca as transações de cripto sob a mesma lente de compliance cambial que rege outras formas de movimentação financeira internacional, prevenindo brechas para evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Para bancos e instituições financeiras, o novo marco regulatório representa tanto uma oportunidade quanto uma responsabilidade. A integração dos serviços com ativos virtuais ao portfólio bancário passa a ser viável, desde que sejam obedecidos os novos parâmetros de segurança, segregação de recursos e reporte regulatório.

Ao mesmo tempo, essas instituições terão de repensar suas estruturas de governança e compliance para acomodar o ecossistema cripto dentro de uma lógica de controle prudencial.

Alguns pontos, entretanto, merecem atenção especial: a vedação de crédito com recursos próprios em operações cripto, a segregação total de fundos de clientes, o reforço dos controles de PLD/FT, e o tratamento cambial obrigatório em transações internacionais.

Tais exigências sinalizam que o Banco Central, de maneira mais que devida e assertiva, pretende equilibrar o incentivo à inovação com a blindagem contra riscos sistêmicos e ilícitos financeiros.

Contudo, o período de adaptação será curto. As regras entram em vigor a partir de 2 de fevereiro de 2026 e as obrigações adicionais de reporte internacional passam a valer a partir de 4 de maio de 2026.

Empresas que já atuam no mercado precisam, portanto, iniciar imediatamente seus processos de adequação, revisando estruturas societárias, sistêmicas, políticas de custódia e mecanismos de compliance.

Por fim, as novas resoluções não devem ser vistas como um freio à inovação, mas como um sinal evidente de maturidade regulatória do País.

Ao oferecer um ambiente seguro, transparente e supervisionado, o Banco Central cria as condições para que o Brasil se consolide como um polo confiável de desenvolvimento em blockchain e ativos digitais. É o início de uma nova era em que a confiança institucional passa a ser o ativo mais valioso do universo cripto.

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