Artigos e Opinião

OPINIÃO

Raphael Curvo:
"Vida de brasileiro"

Advogado

Redação

23/09/2015 - 00h00
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Há certos fatos e acontecimentos que são inadmissíveis, mas acontecem no Brasil. A Universidade do Estado de São Paulo – USP, campus de São Carlos, há muito vem produzindo uma substância à base de fosfoetanolamina, nome complicado, mas eficiente na cura do câncer. Pelas falas do seu pesquisador, que a produz desde os fins dos anos 80 do século passado, o professor Gilberto Orivaldo Chierice acredita que ela tem excelentes resultados no combate ao câncer. São muitos, centenas de pacientes que já fizeram uso do produto, não pode ser denominado medicamento por não constar registro da Anvisa, e obtiveram melhoras significativas na sua qualidade de vida e alto percentual de cura definitiva, com a extinção do tumor. 

O professor tem lutado pelo registro do produto e, como sempre no Brasil, nada se consegue, ainda mais nesse campo em que as grandes corporações da indústria farmacêutica mantêm controle, seja lá que governo for. Foram anos de luta e até agora não conseguiu. Uma das razões é que não há, de parte da Anvisa, segurança para o pesquisador quanto ao segredo da fórmula obtida e isso consta de vídeo gravado por ele que circula nas redes sociais.  A Anvisa proibiu a produção do composto sintético que era distribuído gratuitamente aos necessitados, mesmo assim muitos deles têm conseguido as milagrosas pílulas via ordem judicial. Acredito que uma ação da Justiça, desde que motivada, possa dar uma permissão permanente para o fornecimento dessas pílulas até que seja feita prova em contrário de sua eficácia. Para tal, solicitar avaliação dos que já fizeram uso, os quais já estão na casa dos milhares. 

A questão está no meio do caminho entre o bloqueio pelas multinacionais dos remédios que exercem sua força para manter no mercado seus produtos de alto custo e as “preocupações” do governo e sua Agência em “preservar” a saúde dos brasileiros. É difícil acreditar nestes cuidados da Avisa quando se sabe que muitos medicamentos circulam sem qualquer avaliação da Agência. Muitos, como informa a mídia, sequer são tirados do mercado brasileiro, mesmo tendo proibida sua venda no exterior, tais como Avastin, Sibutramina, anticoncepcional Diane 35, Dipirona e por aí vai. Onde está esse “zelo” acentuado do governo? Muitas farmácias e na internet são comercializados inúmeros medicamentos proibidos, certos hormônios como exemplo, fatos já mostrados pelos noticiários televisivos. 

Quantos terão que morrer para que possam liberar o produto da USP – São Carlos? Por que o governo de São Paulo não se coloca à frente dessa luta que representa a vida para milhares de brasileiros? Será que é a ajuda das indústrias de fármacos no período eleitoral que leva os políticos do Brasil a fazer ouvidos moucos para o clamor da população? É quase certeza que muitos deles já buscaram pílulas da USP para si ou seus familiares. 

Não bastasse, vem a presidente Dillma dizer que usar crise para chegar ao Poder é golpe. Sofrido Brasil. Ela esquece que maior golpe foi sua reeleição no dia 29 de outubro de 2014. O “golpe” da crise é real e está baseado em fatos e na Constituição Federal. Aquele golpe de 29 de outubro foi feito de forma sorrateira, mentirosa e enganadora. Não tem apoio nem bases na verdade, na credibilidade, na ética e na moral que deve ter um proponente candidato a presidente e tampouco sustentação na Constituição e nas regras de boa conduta que são exigidas pela transparência, postura e liturgia da disputa pelo maior posto da vida pública brasileira. As leis são vontades emanadas do povo, via seus representantes no Congresso Nacional, e devem, obrigatoriamente, ser respeitadas. Renunciar à  presidência seria ato muito nobre para a formação da personalidade de quem sempre viveu nos porões da subserviência ideológica e assim permanece, mesmo com o advento da globalização. Não há como permanecer mais no governo a presidente e seu partido. Por tudo escrito, não pode mais ser essa a vida de brasileiro.

EDITORIAL

Santa Casa refém da própria má gestão

A Santa Casa precisa de mais do que socorros emergenciais: precisa de coragem para mudar, responsabilidade na gestão e respeito por quem sustenta sua missão

23/12/2025 07h15

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A situação vivida pela Santa Casa de Campo Grande ao fim de mais um ano é, infelizmente, a repetição de um roteiro conhecido – e previsível.

Há, pelo menos, uma década, o maior hospital filantrópico do Estado é vítima não apenas de um sistema público de saúde subfinanciado, mas, sobretudo, de escolhas administrativas equivocadas, da falta de planejamento e de uma gestão que parece incapaz de romper com seus erros históricos.

Neste fim de ano, o cenário chega a um ponto simbólico e constrangedor: a instituição depende, literalmente, de um milagre para pagar o 13º salário de seus funcionários.

Profissionais que sustentam o atendimento diário de milhares de pacientes, que enfrentam plantões exaustivos, superlotação, escassez de insumos e pressão constante, agora convivem com a angústia de não saber se receberão um direito básico. Isso não honra o nome “Santa Casa”.

Não há justiça social, não há moralidade administrativa e tampouco humanidade em deixar esses trabalhadores à mercê da incerteza.

É evidente que o problema não se resume à gestão interna. O subfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) é uma realidade nacional, e a Santa Casa, como tantas outras instituições filantrópicas, sofre com valores defasados, repasses insuficientes e atrasos frequentes.

O poder público tem, sim, parcela relevante de responsabilidade nesse quadro. Ignorar isso seria desonesto. No entanto, usar essa realidade como justificativa permanente para a ineficiência interna é igualmente inaceitável.

O que salta aos olhos é a aparente falta de disposição da administração do hospital em buscar eficiência, especialmente no campo financeiro.

Os números mostram que apenas o serviço da dívida – os juros e encargos pagos anualmente aos bancos – seria suficiente para quitar não apenas o 13º salário e evitar o acúmulo de outras obrigações em atraso, mas também de quitar quase toda a folha anual. Isso revela um modelo de gestão que prioriza a manutenção de passivos bancários em detrimento do compromisso com seus trabalhadores.

Mais uma vez, a saída apontada parece ser recorrer a novos empréstimos ou aguardar aportes emergenciais do poder público. Trata-se de um ciclo perverso. Endividar-se para cobrir despesas correntes, como folha de pagamento, não é uma estratégia de sustentabilidade; é um atalho para o colapso.

Empréstimos deveriam servir para investimentos, modernização, ganho de eficiência e redução de custos futuros – não para tapar buracos mensais de um caixa cronicamente desequilibrado.

O resultado é uma dívida cada vez menos saudável, maior dependência externa e nenhuma solução estrutural. Enquanto isso, a transparência sobre gastos, contratos e decisões estratégicas segue insuficiente, o que apenas aprofunda a desconfiança da sociedade e dos funcionários.

É lamentável que um hospital com tamanha importância social, histórica e simbólica chegue a esse ponto ano após ano. A Santa Casa precisa de mais do que socorros emergenciais: precisa de coragem para mudar, de responsabilidade na gestão e de respeito por quem sustenta a sua missão.

Sem isso, continuará sobrevivendo de milagres – e milagres, como se sabe, não fazem planejamento financeiro.

ARTIGOS

Terrorismo e religiosidade

Fundamentalismo dos terroristas de todos os matizes é antissemita, anticristão e anti-hislamista, porque se vale da inimizade aos valores religiosos para disseminar o ódio

22/12/2025 07h45

Arquivo

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A propósito do recente e trágico ataque ocorrido na Austrália, que vitimou diversas pessoas – algumas delas fatalmente – durante a pacífica celebração do Hanukkah, a festa das luzes da comunidade judaica, impõem-se algumas reflexões sobre os motivos e as consequências de tal ato.

À falta de definição mais apropriada, e sem entenderem bem o que teria motivado os ataques, aparentemente praticados por pessoas isoladas, os analistas chamaram a atenção para a facilidade com que se adquirem armamentos hoje em dia, fenômeno que ocorre também em nosso País.

É simbólico que a festa das luzes seja muito próxima dos festejos de Natal. Também no Tempo do Advento as luzes da coroa vão sendo acesas em crescente até que a Luz do Mundo venha a nascer na noite tão esperada pelos cristãos.

Jesus Cristo não selecionava ninguém. Qualquer pessoa seria bem acolhida por Ele, bastando que professasse o único mandamento propriamente cristão: ama o próximo como a ti mesmo. Aliás, o Cristo ia além e dizia: amai vossos inimigos, o que revela, igualmente, o modelo mais aberto de compreensão da pessoa do próximo.

Na verdade, o fundamentalismo dos terroristas – de todos os matizes – é antissemita, anticristão e anti-hislamista, porque se vale da inimizade aos valores religiosos para disseminar o ódio, a cultura de morte a que já se referia São João Paulo II.

Trata-se, portanto, do mesmo tipo de fundamentalismo que outros grupos de terroristas praticam para excluir as minorias de todo o tipo, mesmo as que não professem nenhuma crença.

É simbólico que tenha sido Ahmed, o sírio, a desarmar um dos terroristas, o que lhe custou dois ferimentos.

Esses terroristas disparam, inclusive pelos meios de comunicação virtual, contra todos aqueles que não pensam como eles. Eis quem são, em certo sentido, os verdadeiros fundamentalistas do ódio. Por que teriam escolhido a reunião do Hanukkah, tão plena de simbolismos?

Não nos prendamos a esse vetor. Basta atentar para os recentes ataques a uma mesquita e a uma feira natalina para que se ponha foco na essência do que está em jogo.

A enorme confusão ideológica e doutrinal do terrorismo revela, antes de tudo, mentes perturbadas, incapazes de discernir entre o bem e o mal. Ou, se quisermos embaralhar ainda mais as cartas, incapazes de discernir a esquerda da direita.

A confusão ideológica, aliás, não é apenas um sintoma de desordem mental, mas a estratégia consciente de aniquilar a pluralidade inerente à condição humana.

O extremismo, ao se apropriar de símbolos sagrados e transformá-los em bandeiras de exclusão, trai a própria essência de qualquer fé que pregue a transcendência e o amor ao Criador, pois desumaniza a criatura feita à sua imagem.

Desta forma, o verdadeiro combate ao terrorismo não se limita à repressão policial ou militar, mas passa necessariamente pela defesa intransigente da educação e do diálogo inter-religioso.

É a luz da razão e da tolerância que deve ser acesa para dissipar a escuridão do fanatismo, provando que a diferença de crença jamais pode ser motivo para a guerra, mas sim o motor para um enriquecimento mútuo da civilização.

Urge que os homens de boa vontade se ergam, em uníssono, em favor de uma cultura de paz e de liberdade religiosa, e que todas as luzes se acendam em alerta contra toda e qualquer manifestação terrorista.

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