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Reciclagem é educação, não milagre

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Muito se fala sobre a necessidade de o Brasil avançar na reciclagem, e de fato, essa é uma urgência ambiental e social. O que raramente se discute, porém, é que reciclagem não é um milagre, é uma questão de educação. Sem que cada cidadão faça sua parte, higienizando embalagens e descartando corretamente os resíduos, a cadeia simplesmente não funciona. Acreditar que esse sistema pode operar de forma eficiente por si só é apostar em uma ilusão.

Um dos maiores entraves enfrentados pela reciclagem de plásticos no Brasil é a desinformação. Ainda persiste o mito de que o plástico não é reciclável. Isso não é verdade. Trata-se de um material 100% reciclável, moldável e extremamente útil. O problema está na forma como ele é tratado: o que poderia ser matéria-prima valiosa e fonte de renda para milhares de famílias é, muitas vezes, taxado genericamente como “lixo”.

Narrativas alarmistas contribuem para essa distorção. Discursos como “o plástico vai acabar com os oceanos” ou “é inevitavelmente tóxico” espalham medo, mas não oferecem soluções reais. Pior ainda, favorecem materiais supostamente mais sustentáveis, que muitas vezes contam apenas com mais verba de marketing, e não necessariamente menor impacto ambiental.

A educação ambiental é o verdadeiro ponto de virada. No Instituto Soul do Plástico, o foco está em transformar esse discurso em prática. Por meio de ações em escolas públicas e comunidades, o instituto mostra como é possível reciclar plástico em microambientes utilizando energia limpa e sem desperdício de água. Mais do que palestras, a proposta é colocar as mãos na massa, na vivência.

Alunos operam os equipamentos, observam o processo e compreendem, com seus próprios olhos, o ciclo da reciclagem. A maioria dos estudantes se surpreende e entende que o plástico não é o vilão. Percebe que, quando tratado da forma correta, pode ser peça-chave na geração de renda e inclusão social. É essa consciência crítica e prática que o instituto busca multiplicar.

A responsabilidade, no entanto, não é só da população. A indústria, o setor público e o Poder Legislativo também precisam fazer sua parte. Felizmente, iniciativas como o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, o programa Recicla Brasil e a Frente Parlamentar da Economia Circular já apontam caminhos concretos. O grande desafio é acelerar a transição do modelo econômico linear, baseado em produção, consumo e descarte, para um modelo circular, em que não haja mais desperdício.

Outro ponto que exige atenção é o combate ao discurso da proibição sem diálogo. Algumas organizações defendem a extinção de determinados produtos plásticos sem apresentar dados sólidos ou alternativas viáveis. Enquanto isso, o setor do plástico, que movimenta a economia e sustenta milhões de famílias, continua sendo demonizado.

Separar o lixo é só o início. Um bom início, sem dúvida. Mas, para que o ciclo se complete, é preciso entender que o resíduo reciclável, ao ser limpo e descartado corretamente, transforma-se em matéria-prima e, mais que isso, em dignidade e sustento para quem vive da reciclagem.

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EDITORIAL

É preciso passar um pente-fino na Cosip

O que a sociedade exige e com razão é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte

20/12/2025 07h15

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A deflagração da Operação Apagar das Luzes, nesta sexta-feira, pelo Grupo Especializado de Combate à Corrupção (Gecoc) do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), é mais um daqueles episódios que deixam claro que a iluminação pública de Campo Grande guarda muito mais sombras do que se imaginava.

E, ao que tudo indica, ainda há muito a ser revelado sobre contratos, cifras e responsabilidades envolvendo um serviço essencial para a cidade.

Campo Grande figura entre os municípios que mais arrecadam no Brasil com a Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip). Trata-se de uma arrecadação robusta, bilionária ao longo dos anos, paga mensalmente pelo cidadão na conta de energia elétrica.

Ainda assim, a realidade vista nas ruas é contraditória: bairros inteiros convivem com postes apagados, avenidas mal iluminadas e áreas que se tornam vulneráveis à criminalidade justamente pela ausência de luz.

A investigação que apura fraudes estimadas em R$ 62 milhões lança uma pergunta inevitável: como é possível faltar iluminação em um município que arrecada tanto?

Reportagem publicada pelo Correio do Estado no ano passado mostrou que a Cosip de Campo Grande superava, à época, a arrecadação de Curitiba – cidade com mais que o dobro da população. Mesmo assim, a capital sul-mato-grossense convive com um serviço precário e reclamações recorrentes da população.

O mais preocupante é que essas suspeitas de irregularidades surgem em meio a um discurso constante de crise financeira propagado pela administração municipal.

Se confirmadas, as fraudes não estariam ocorrendo em um cenário de escassez, mas sim em um verdadeiro manancial de recursos. Isso agrava ainda mais o quadro, pois revela que o problema pode não ser falta de dinheiro, mas falhas graves de gestão, fiscalização e zelo com o dinheiro público.

É legítimo esperar explicações detalhadas sobre os contratos firmados, os critérios de pagamento e a execução dos serviços. Mas isso, por si só, não basta. O que a sociedade exige – e com razão – é transparência permanente sobre a aplicação da Cosip. Trata-se de uma contribuição pesada no bolso do contribuinte, que deveria retornar em forma de ruas iluminadas, mais segurança e melhor qualidade de vida.

Nesse contexto, o trabalho do Gecoc merece reconhecimento. Mais uma vez, o MPMS cumpre seu papel institucional de investigar, cobrar respostas e iluminar áreas em que a administração pública falhou.

Combater a corrupção não é apenas punir culpados, mas também criar condições para que os serviços públicos funcionem melhor e com mais eficiência.

Iluminação pública não é luxo. É segurança, mobilidade e dignidade urbana. Se há dinheiro sobrando e luz faltando, algo está profundamente errado – e precisa ser corrigido com urgência, transparência e responsabilidade.

ARTIGOS

Redes sociais: o "estacionamento" da reputação corporativa

Qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial

19/12/2025 07h45

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No ambiente corporativo contemporâneo, a fronteira entre opinião pessoal e responsabilidade profissional se tornou quase invisível. Com a hiperconectividade, qualquer manifestação nas redes sociais tem potencial para alcançar ampla visibilidade. Um único comentário ofensivo de um funcionário é capaz de comprometer a confiança interna, afetar a reputação da marca e desencadear litígios.

Quando as manifestações de funcionários ultrapassam o limite da crítica construtiva e se convertem em acusações ou declarações com potencial de impactar negativamente a imagem e a credibilidade da organização, abre-se espaço a um debate essencial: qual é o limite entre a liberdade de expressão do trabalhador e a proteção da honra e da imagem empresarial?

A repercussão, em casos como esse, costuma ser imediata. Colegas, clientes, fornecedores e demais parceiros têm acesso ao conteúdo, potencializando seus efeitos e ampliando o risco reputacional.

Qualquer que seja o caminho de resposta, a análise jurídica deve ser cuidadosa. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 482, alíneas j e k) prevê a possibilidade de dispensa por justa causa quando o empregado pratica ato lesivo à honra ou à boa fama de qualquer pessoa “no serviço”, especialmente quando dirigido ao empregador ou superiores hierárquicos.

A jurisprudência tem entendido que publicações em redes sociais podem produzir efeitos equivalentes aos de condutas praticadas no ambiente físico de trabalho, legitimando a aplicação da penalidade.

A Constituição Federal (art. 5º, incisos IV, V e X) assegura a liberdade de expressão, mas estabelece limites claros quando essa manifestação viola direitos relacionados à honra, à imagem e à dignidade. Já o Marco Civil da Internet reforça mecanismos de responsabilização de plataformas mediante notificação, permitindo respostas mais ágeis a conteúdos ilícitos.

Com a evolução da sociedade, a linha que separa opinião de ofensa se tornou cada vez mais tênue. A liberdade de expressão é garantida, mas não é absoluta: quando a crítica se transforma em injúria ou difamação, há quebra de confiança, podendo configurar justa causa, inclusive quando a conduta ocorre fora do expediente.

O desafio, agora, reside na interpretação. A definição do que constitui “crítica legítima” ou “falta grave” ainda é variável entre diferentes julgadores, o que aumenta o risco de reversão de penalidades, pedidos de indenização e danos à reputação corporativa.

Em um ambiente empresarial cada vez mais exposto ao escrutínio público, sobretudo nas redes sociais, torna-se imprescindível que as organizações adotem políticas claras, protocolos seguros de apuração e documentação robusta para fundamentar suas decisões e que as decisões e a gestão de tópicos sensíveis considerem estratégia, cautela e respaldo técnico.

Condutas inadequadas de colaboradores podem gerar impactos relevantes, mas a resposta empresarial deve estar alinhada à legislação e às melhores práticas de governança.

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