Sancionada em 13 de janeiro, a Lei nº 15.100/2025 restringe o uso de celulares nas escolas durante aulas, recreios e intervalos, mas permite para fins pedagógicos com autorização do professor e para casos de acessibilidade, saúde e segurança. A legislação vai ao encontro de pesquisas que atentam ao caráter prejudicial do celular nas escolas. De acordo com o Datafolha, 62% da população é a favor da proibição, chegando a 65% entre pais de crianças até 12 anos. E mais de 76% acreditam que o uso dos dispositivos prejudica mais do que ajuda no processo de aprendizagem. Porém, após esses dois meses de vigência, qual a avaliação do impacto dessa ação?
Eis o cenário da volta às aulas sem celulares em sala: no cotidiano, é perceptível que as relações interpessoais se intensificaram, aproximando ainda mais os estudantes, embora alguns ainda enfrentem dificuldades de interação. Além disso, a entrega dos deveres de casa melhorou significativamente, e as aulas têm sido mais produtivas. No geral, as turmas estão mais calmas, concentradas e engajadas.
Levando em conta esse cenário, muitas crianças estão buscando novas formas de ocupar o tempo. Leituras na biblioteca e jogos de tabuleiro, bem como o interesse pelos esportes, tudo isso aumentou consideravelmente. Além dos ganhos acadêmicos, houve um fortalecimento do próprio processo de aprendizagem. O hábito de copiar e memorizar conteúdos, por exemplo, também mostrou benefícios, e preencher o caderno de forma organizada se revelou essencial para a assimilação do conhecimento. Isso reforça os resultados de um estudo publicado na Psychological Science em 2024 que apontou que os estudantes que anotam à mão têm melhor aprendizagem do que os que digitam em aparelhos eletrônicos.
Mas o que ainda precisa evoluir? Nessa trajetória, muitos desafios ainda se fazem presentes. Isso porque, em colégios que utilizam amplamente a tecnologia, adaptações são necessárias. Afinal, muitos professores, por vezes, recorrem ao celular. Por isso, é importante que as próprias equipes pedagógicas também adotem o hábito de evitar o uso do celular nos ambientes escolares. Quando um aparelho toca em sala de aula, seja no bolso de um professor, seja no de um estudante, isso pode desencadear reações que interferem no processo de aprendizagem e gatilhos que despertem o desejo de usar o smartphone.
Não menos importante, alguns estudantes acostumados a interagir apenas via redes sociais agora precisam se relacionar com pessoas, o que pode ser bastante desafiador. Há situações em que esse impacto é tão grande que pode levá-los a relatar angústia e desorientação, sem saber como agir sem o celular. Nesse contexto, o grande desafio tem sido conciliar o uso pedagógico da tecnologia com a rotina escolar.
Eis o que fazer daqui para frente: é essencial que cada instituição implemente ações para garantir uma transição assertiva.
Um dos passos fundamentais é a comunicação clara com as famílias, explicando os procedimentos adotados e o uso adequado da tecnologia, com base nas diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Isso é possível de duas maneiras, ou proibindo radicalmente, ou sensibilizando. Têm mais êxito instituições que traçam regras claras que conscientizem os jovens sobre a importância de não usar o celular no ambiente escolar, evidenciando os impactos negativos que isso pode acarretar.
Da mesma forma, a parceria entre a escola e a família desempenha um papel essencial não só no cumprimento das normas estabelecidas, mas na conscientização dos estudantes. Para se ter uma ideia, muitos pais, cientes das medidas disciplinares adotadas pela escola, orientam seus filhos a não levarem seus aparelhos para a escola, evitando assim possíveis conflitos e favorecendo um ambiente de aprendizagem mais frutuoso.
Além disso, a preocupação com a saúde mental dos estudantes deve seguir sendo uma prioridade. Não se trata apenas de impor restrições, mas de acolher. A recomendação é observar como cada um lida com essas mudanças e realizar o acompanhamento, para mapear possíveis isolamentos.
De modo geral, o saldo desses primeiros meses de restrição dos celulares nas escolas é extremamente positivo. Embora uma análise mais ampla do impacto nas notas só seja possível ao longo do ano, especialmente com os exames e vestibulares no fim do período letivo, já se percebe um efeito significativo que tende a se manter a longo prazo.