Estamos vivendo tempos obtusos, adversos. Como se diz nas lides do campo, tempos tão nebulosos de vaca não reconhecer seu bezerro. Suas exigências para sobrevivência tem provocado o distanciamento entre as pessoas, num quase salve-se quem puder. Na balburdia do dia a dia, esquecem-se das boas normas de convivência, as quais surgem apenas para o alcance de um interesse maior. A ocorrência de um fato superveniente é o atrativo. Um evento, seja social, político é a oportunidade para eventual reunião de pessoas amigas que há muito não se viam.
Percebi isto com mais frieza de detalhes quando surgiu-me a oportunidade de rever pessoas amigas dos tempos de minha mocidade, daqueles verdes anos que jamais voltarão. Realmente, e é interessante, hoje a gente tem oportunidade de encontrar amigos, parentes, em festas de casamento, cada vez mais raros, ou na tristeza e gestos de solidariedade em velórios.
Numa dessas ocasiões, e após concluir o mandato de senador, uma distinta senhora de família que muito prezo, perguntou-me: “o que, agora, você está fazendo”?
- Respondi: “cangando o grilo”.
- “Que horror! ... cagando o grilo?!”
- Educadamente, esclareci: “cangando”, forma uma expressão idiomática de uso frequente no meio rural e que significa ‘não fazendo nada’, ou seja, sem atividade profissional definida, aposentado, por exemplo.
No passado, do qual tenho muitas recordações, quando tudo era mais simples sem o bulício atual, a linguagem utilizada nas relações pessoais eram permeadas por expressões idiomáticas que davam um sabor tonificante e de originalidade. Elas foram trazidas pelos pioneiros que conquistaram os nossos corações e alargaram as fronteiras deste nosso Brasil oeste. Expressões que aqui fundaram profundamente suas raízes. Muitas vieram dos intrépidos pioneiros provenientes do Triângulo Mineiro, ou das bandas da Mogiana no estado de São Paulo, ou dos Livramentenses das margens do legendário rio Cuiabá. A maior influência chegou-nos da gente dos pampas do Rio Grande do Sul, isto já no final do século XIX. Todos, porém, de gosto popular.
Aqui, algumas do imenso repertório: Com o pé no estribo (prestes a partir); Espichar a canela (morrer); Quebrar o galho ( improvisar); Trocar as bolas (atrapalhar-se); Caçando tatu a grito (esfomeado, desempregado); Arrepiou o pelo (irritou-se); Engasgar o gato (comer afoitamente).
Não há dúvidas com a celeridade dos meios de comunicação, com o acelerado avanço da tecnologia, a intelectualização que apossa todas as mentes humanas, o mundo muda e a ele temos que nos render.
De qualquer forma, me encanta a expressão “cangando o grilo”, que diz muito daquela manifestaçãogenuína dos nossos antepassados, e que hoje poderiamos considerar como o “Occium cum dignitatem”, após tantos anos de dedicação ao trabalho.


