Artigos e Opinião

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O Senado foi palco, novamente, de grosserias e ataques a atores políticos, às instituições e, no limite, à própria democracia. Na Comissão de Serviços de Infraestrutura, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi mais uma vez alvo da selvageria retórica que, nos últimos tempos, tomou conta do parlamento brasileiro.

A política existe para coordenar a vida em sociedade, de modo que os conflitos e os dissensos sejam resolvidos por meio do diálogo, dentro das instituições e com respeito às leis. Infelizmente, a situação 
é ruim – e tende a piorar – uma vez que políticos, especialmente da extrema direita, têm deixado o debate de ideias com civilidade em segundo plano para, impulsionados pelos algoritmos das redes sociais, produzir cortes com o objetivo de alimentar suas redes pessoais em busca de likes, memes e “lacração”. A política vai mal. Muito mal. E a educação, da mesma forma.

Presidindo a sessão, o senador Marcos Rogério (PL-RO) interrompeu, por diversas vezes, a fala de Marina. Pouco se pôde entender dos tópicos em discussão. 

Na verdade, houve bate-boca, gritaria e desrespeito. Marina se portou como quem, investida da autoridade de ministra de Estado, exigia respeito. Não foi respeitada. Acusou, naquele momento, seus detratores de quererem silenciá-la por ser uma mulher, em uma lógica de intimidação, agressão simbólica e, não raro, violência discursiva.

E para espanto – talvez nem tanto –, o senador Marcos Rogério se dirigiu à ministra nos seguintes termos: “Se ponha no teu lugar!”. Ocioso afirmar que tal frase é uma variação do “você sabe com quem está falando?”, tão bem explicada por Roberto DaMatta. Ocioso, ainda, indicar que palavras não são apenas palavras: são formas de representar uma visão de mundo.

A sociedade brasileira é, social e culturalmente, ligada a uma estrutura extremamente desigual, baseada no poder tradicional, patriarcal e patrimonial e dominada por anciãos. Mandar alguém “colocar-se no seu lugar” é expressar a compreensão de que, na vida social, há estruturas rígidas e, também, alicerçadas sobre uma mentalidade que, mesmo após a abolição e a proclamação da República, permanece centrada em uma sociedade estamental, com horror à mobilidade social e à igualdade de direitos e deveres.

“Cada um no seu lugar!”. É assim, para muitos – mulheres, negros, jovens, moradores da periferia – que não podem (ou não devem) acessar os “lugares” que, como afirmava Florestan Fernandes, são “dos de cima”. Provavelmente, o prezado leitor e a prezada leitora já entenderam a gravidade do que foi dito e feito. Todavia, perceba-se que é possível piorar algo que já está abaixo do aceitável.

Outro senador, Plínio Valério (PSDB-AM), tentando suavizar a situação ao demonstrar que não havia machismo em relação a Marina, disse: “A mulher merece respeito. A ministra não!”. É isso: um manda Marina “se colocar em seu lugar”. O outro afirma que ela não é digna de respeito. Foi o mesmo Valério que, há cerca de dois meses, havia dito que tinha vontade de enforcá-la. Enforcar!

A vida de Marina, sua trajetória de luta – não apenas em relação ao meio ambiente, mas por uma sociedade mais justa e democrática – é mundialmente reconhecida. Sua presença, pequena, aparentemente frágil, engana os incautos e os simulacros de homens ferozes. Rememoremos um debate entre candidatos à Presidência da República (2018), realizado em um palco no qual cada um podia circular e indagar livremente o adversário. Na ocasião, havia um Bolsonaro que tentou acuá-la, mas que acabou encurralado, sem ação, escutando e entendendo que, na democracia, vale a força do argumento – e não o argumento da força.

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EDITORIAL

2026: o ano do cerco ao crime organizado

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes

22/12/2025 07h15

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O ano de 2026 desponta no horizonte como um marco decisivo para o enfrentamento ao crime organizado no Brasil. Não por acaso, trata-se de um ano eleitoral, quando a segurança pública volta a ocupar o centro do debate político e social.

Mas seria um erro reduzir o endurecimento do discurso e das ações apenas ao calendário das urnas. A realidade impõe, por si só, uma resposta mais firme, coordenada e inteligente do Estado frente ao avanço das facções criminosas e à sofisticação de suas engrenagens financeiras e operacionais.

É verdade que, em anos eleitorais, governos tendem a intensificar operações e anúncios na área da segurança. A sociedade, cansada da violência cotidiana, cobra respostas.

Ainda assim, pouco importa a motivação inicial, desde que as ações sejam efetivas, estratégicas e produzam resultados duradouros. Combater o crime organizado não pode ser sinônimo de operações midiáticas ou ações pontuais. É preciso ir ao coração do problema: o dinheiro.

Descapitalizar e desmobilizar quadrilhas deve ser o objetivo central. Facções sobrevivem e se expandem porque movimentam cifras milionárias, lavadas por meio de empresas de fachada, contratos simulados, criptomoedas e uma infinidade de artifícios cada vez mais sofisticados.

Sem atacar a lavagem de dinheiro, qualquer combate ao crime será superficial e ineficaz. O mesmo vale para os golpes cibernéticos, que se multiplicam em velocidade alarmante, atingindo cidadãos comuns, empresas e o próprio poder público.

A criminalidade de rua também precisa ser enfrentada com seriedade. Roubos e furtos, especialmente de telefones celulares, tornaram-se uma epidemia urbana.

Para muitas famílias de baixa renda, o celular é o principal – e às vezes o único – patrimônio, além de ferramenta essencial de trabalho, comunicação e acesso a serviços básicos. Proteger esse bem é, também, proteger a dignidade de milhões de brasileiros.

No contexto regional, o alerta é ainda mais grave. Combater o crime organizado é também impedir que grandes facções ampliem seu domínio territorial.

Mato Grosso do Sul já convive com a presença do PCC e do Comando Vermelho, organizações conhecidas por sua capacidade de infiltração, violência e articulação interestadual.

Agora, conforme mostramos nesta edição, o Terceiro Comando Puro (TCP) também chegou ao Estado. Trata-se de mais uma engrenagem criminosa a disputar espaço, rotas, mercados ilegais e poder.

Esse cenário exige das forças de segurança muito mais do que retórica. É necessário levar esse combate a sério, com integração entre polícias, Ministério Público, Judiciário e órgãos de inteligência financeira. Investigações técnicas, compartilhamento de informações, uso de tecnologia e foco na asfixia financeira das facções precisam ser prioridades absolutas.

O crime organizado não se combate apenas com viaturas nas ruas, mas com inteligência, planejamento e coragem institucional.

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes. A população já esperou demais.

ARTIGOS

Câncer na juventude: inesperado e devastador

Costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela

20/12/2025 07h45

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O diagnóstico de câncer não é algo simples, pois muitas vezes requer diversos exames. Mas, desde o momento em que se cogita a possibilidade, o reflexo desta simples suposição começa a impactar a vida do paciente e de todos à sua volta.

Esta doença costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela. São tipos e riscos diferentes, mas tanto um bebê quanto um idoso podem sofrer de câncer.

Um idoso entende a doença como consequência da sua longevidade, e um bebê não compreende o que está acontecendo. Porém, um jovem, que muitas vezes se acha imortal, com tantos anos de vida pela frente, sofre um abalo devastador, não apenas financeiro, mas também emocional.

Um jovem acha que pode superar qualquer obstáculo, e, de repente, a vida lhe coloca diante de uma doença que pode abreviar sua longa história, transformando o que seria um livro num simples artigo de uma página. 

Nada passa a ser racional. Alguns são mais receptivos, outros mais agressivos. O fato é que toda ajuda será necessária, e agora aquele jovem independente e invencível precisará entender que, sozinho, não vai a lugar nenhum.

Um jovem morrendo não é algo fácil para seus pais, família e amigos aceitarem. A doença se entranha na estrutura familiar e abala seus alicerces. 

A vida social é deixada de lado para enfrentar um tratamento no qual o paciente não sabe se sairá vivo ao final. Sua vida está por um fio, e ele precisa acreditar que vai dar certo, ter esperança. Por isso, o suporte emocional é um forte aliado no sucesso do tratamento.

Existem entidades privadas e governamentais que trabalham para reduzir o sofrimento criando bancos de sangue e órgãos, profissionais que dão apoio, organizações que apoiam financeiramente o tratamento, voluntários que se propõem a ajudar no dia a dia. 

Nessa busca por suporte, apesar do importante papel das entidades, é nas histórias contadas por meio de livros, filmes e outras famílias que o paciente encontra um colo para deitar, um ombro amigo. São experiências que foram vividas por outras pessoas, mas que servem de referência sobre as batalhas que estão por vir, as mudanças de hábitos, sequelas e dores.

São histórias de vida e de superação que transmitem acolhimento, trazem esperança e dão forças para seguir em frente na busca da cura de uma doença implacável que não tem idade.

Essas histórias criam conexões que afastam a solidão, trazem o conhecimento de quem passou pela mesma dor e ajudam a criar pontes para superar os maus momentos.

É importante que o jovem perceba que não está enfrentando essa batalha sozinho, que ele se sinta acolhido, que acredite no tratamento. Como toda doença, identificar cedo é importante e a melhor chance de cura. Vamos estar alertas porque ninguém está livre do câncer.

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