A Operação Sem Desconto, desencadeada ontem pela Polícia Federal em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU), revela um dos mais sombrios e revoltantes capítulos da corrupção recente no País. A gravidade do caso não está apenas nos números bilionários envolvidos, mas, sobretudo, no alvo da trama: aposentados, cidadãos que passaram a vida inteira contribuindo com seu trabalho para a construção desta nação. Agora, são lesados por aqueles que deveriam, no mínimo, respeitá-los.
Roubar é sempre condenável. Mas roubar de idosos – muitos deles com saúde frágil, dependentes de medicamentos e de apoio familiar – ultrapassa os limites da degradação moral. A apropriação indevida de valores que pertencem a aposentados é um crime vil, repulsivo, que exige da sociedade não apenas indignação, mas resposta enérgica e urgente.
As investigações apontam que associações, que em tese deveriam existir para defender os interesses dos aposentados, na prática, pouco ou nada fazem por eles. Mais do que omissas, essas entidades se revelaram cúmplices e beneficiárias de um esquema de desvio de recursos públicos. É uma traição inaceitável que se soma à já habitual sensação de abandono vivida por muitos aposentados no Brasil.
A perversidade do esquema se agrava com a constatação de que servidores públicos também participaram da fraude. Ou seja, agentes do Estado, cuja função é proteger o cidadão e zelar pelo bem público, integravam a engrenagem corrupta que sangrava silenciosamente os vencimentos dos idosos. A participação de funcionários públicos nesse tipo de crime é uma mancha que não pode ser tolerada sem consequências severas.
É justo reconhecer o trabalho sério e técnico da Polícia Federal e da CGU. A atuação coordenada dessas instituições mostra, mais uma vez, que o Estado tem ferramentas e profissionais capazes de desarticular esquemas sofisticados, mesmo quando eles envolvem ramificações em esferas administrativas complexas e protegidas por suposta legalidade.
Mas a investigação, por si só, não basta. A sociedade exige que as pessoas físicas e jurídicas envolvidas nesse escândalo sejam responsabilizadas de forma exemplar. O sistema de Justiça tem agora em mãos uma oportunidade de reafirmar seu compromisso com os que mais precisam de proteção – os aposentados – e com os valores mais elementares da ética pública.
Não se trata apenas de punir. Trata-se de preservar a dignidade daqueles que já deram sua contribuição ao País e, hoje, enfrentam a velhice com incertezas. Trata-se de mandar um recado claro: não haverá desconto para a corrupção, especialmente quando ela atinge os mais vulneráveis. O Brasil deve essa resposta a seus aposentados. E deve com urgência.




