Existe uma piadinha contando a história de um Papa e um advogado chegando ao Céu. No Paraíso são recebidos por São Pedro que os leva a morada final, e, o advogado vai morar num palacete, enquanto o Papa em uma edícula, sem reboco, e com telha de amianto. O Papa ao ver sua última morada se rebela, reclamando que fez o bem na terra e o advogado, que vivia fazendo “trabicagem e mentindo”, tinha recebido uma mansão como morada final. São Pedro conformou o Papa, dizendo que no Paraíso cada um recebe o que merece, dado que de Papa o céu estava cheio e o advogado tinha sido o primeiro a chegar ao paraíso.
Ironias à parte, acredito que das profissões da atualidade, o advogado tem passaporte carimbado para entrar no céu. E carimbado pelo Todo-Poderoso com direito a todas as mordomias que só o paraíso pode conceder. Se analisarmos a vida do advogado nos dias atuais, veremos que antes de tudo ele é um “persistente”. Nos últimos anos com a informatização do Judiciário, o advogado tem carregado um calvário sem igual. Poderíamos começar pela obrigatoriedade dele “comprar” serviços de internet em seu escritório, caso contrário está impedido de peticionar, ou melhor, de exercer sua profissão. Isto tem um custo, que em momento algum foi reduzido ao advogado, ao contrário, muitas vezes as companhias de telefonia aumentam este valor sabendo que o mesmo necessita do serviço.
No caso, resolveram empurrar de “goela abaixo” o sistema de informatização, sem nenhum projeto de desconto dos serviços de internet para o advogado, mesmo sabendo que ele está prestando um serviço público, que cabia ao Estado realizar.
No Entanto, o Estado e suas autoridades sequer pensaram neste assunto, e deram “de ombros”, além disso, obrigaram o advogado a ser o “arquivista” dos documentos que envia pela internet ao processo, para serem exibidos quando for requerido, assim tem que guardá-los por cinco a dez anos. Não é piada, não! O Estado se eximiu de ser o fiscal e zelador dos documentos e repassou ao advogado, no entanto, este nada recebeu em troca, a não ser as despesas de arquivar estes documentos correndo o risco de ser responsabilizado futuramente. Ora, isto já é um prenúncio que vai para o Céu.
Mas, se não bastasse as exigências de cima para baixo, sem nenhum benefícios ao profissional, que teve aumentada suas despesas operacional e suas responsabilidades, por outro lado enviar documentos via on-line para formalizar os processos é a via crucis do advogado. Explico! Se você remeter a petição para a Justiça do Trabalho, é exigido uma “versão” do programa Java, o 7.51, mas, quando você acessar a Justiça Comum de primeiro grau, é outro, e se for acessar a Justiça Federal, é outra versão. Ou seja: você tem que perder um tempo enorme para cuidar de “picuinhas” de informática. Isto, ao invés de simplificar a vida do advogado, só complicou.
Além das sandices das “versões” do Java, cada Tribunal só aceita documentos “escaneados” até uma quantidade de “kabites”, e, vc tem que se empenhar e desdobrar para acertar todas as exigências das “autoridades”, sendo que as formalidades estão acima do direito do cidadão (que é o objetivo da Justiça). Este fato carimba pela segunda vez o passaporte do advogado para o Céu, pois ele passa horas e horas resolvendo problemas de informática e não o direito do seu cliente.
Além destes problemas, temos outros piores ainda, que é o “sítio da internet” ficando “fora do ar” e você sem saber quando vai voltar a funcionar, tendo prazo para aquela data (pense no stress!).
Solucionar o problema, e simplificar a vida do advogado, que é a voz do cidadão na defesa das leis e dos direitos, parece que ninguém quer, ao contrário disso, continua a Justiça do Trabalho negando cumprir o Estatuto da Advocacia onde foi determinado o pagamento de honorários aos advogados, baseando numa lei da época da ditadura militar (de 1970), que determinou o pagamento de honorários somente aos Sindicatos, e por outro lado, mesmo com o aumento de custo que a advocacia recebeu com as “inovações tecnológicas da informática”, continuam os juízes arbitrando honorários aviltantes, como se o profissional não precisasse de dinheiro para pagar o custo para trabalhar e sustentar sua família, e tendo uma vida condigna.
Por estas e outras, pode anotar aí que você vai encontrar com o seu advogado no Céu! Com certeza!


