Se há um ponto de convergência entre todos os cidadãos, independentemente de classe social, profissão ou idade, é o trânsito. É nele que a vida em sociedade se manifesta de forma mais concreta: nos deslocamos para trabalhar, estudar, cuidar da saúde, visitar familiares ou simplesmente viver. O trânsito, portanto, é um espaço coletivo por excelência, onde o direito de ir e vir se torna uma experiência diária compartilhada – nem sempre de forma harmoniosa.
Nesse cenário, regular e fiscalizar o trânsito é muito mais do que aplicar regras e impor limites. Trata-se de uma forma de organização social que influencia diretamente o cotidiano das pessoas. Um trânsito bem gerido contribui para a segurança, para a mobilidade urbana eficiente e para a qualidade de vida. Já um trânsito mal cuidado, desorganizado ou negligenciado se torna palco de frustrações, acidentes e desigualdades.
Infelizmente, em MS, a gestão do trânsito tem deixado a desejar. O Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul (Detran-MS), principal responsável por essa administração, precisa urgentemente resgatar seu papel ativo e propositivo na sociedade. Hoje, o órgão é percebido majoritariamente como um instrumento de arrecadação, voltado mais a cobrar taxas e aplicar multas do que a promover a educação e a segurança no trânsito.
É inegável que a fiscalização e a arrecadação fazem parte do papel institucional do Detran-MS. No entanto, é preocupante quando essas funções passam a ser praticamente as únicas visíveis à população. Em outros tempos, o Detran-MS promovia campanhas educativas com frequência, aplicava recursos provenientes de multas na sinalização das vias e na manutenção de estruturas essenciais. Tais ações tinham o mérito de aproximar o órgão da sociedade e de contribuir efetivamente para um trânsito mais humano.
Atualmente, pouco se vê dessas iniciativas. Pior ainda: pouco se divulga o que está sendo feito. A ausência de comunicação pública adequada é outro sintoma do distanciamento entre o Detran-MS e os cidadãos. Mesmo ações positivas, quando existem, não alcançam o público da forma que deveriam. Isso alimenta a percepção de um órgão distante, burocrático e pouco sensível às reais demandas da população.
A questão das CNHs sociais é um exemplo emblemático. Projetos que poderiam transformar a vida de muitas pessoas de baixa renda – abrindo portas para o mercado de trabalho, ampliando a mobilidade e a autonomia – acabam emperrados em morosidade. Como mostrado nesta edição, as entregas não estão ocorrendo no ritmo prometido, frustrando expectativas e comprometendo a credibilidade da iniciativa.
A sociedade sul-mato-grossense precisa – e merece – de uma gestão de trânsito mais comprometida, transparente e cidadã. O trânsito nos une enquanto povo. É hora de o Detran-MS lembrar de que sua missão vai além dos boletos: ela começa na educação, passa pela segurança e termina no bem-estar coletivo. E tudo isso só se constrói com diálogo, planejamento e ação concreta.



