Os vereadores eleitos pelo povo devem lealdade ao cidadão que lhes deram um mandato. Não estão na Câmara para servir a si próprios, tampouco para fazer de conta que fiscalizam. Estão ali para representar os interesses da sociedade e, acima de tudo, para jogar limpo com quem os colocou no cargo.
É por isso que causa preocupação a falta de clareza em torno da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura as irregularidades no contrato com o Consórcio Guaicurus, responsável pelo transporte coletivo de Campo Grande. Toda CPI nasce com um objetivo nobre: investigar o que não está claro, o que se oculta nos bastidores da administração pública ou mesmo aquilo que, embora visível, carece de explicação e responsabilização.
Nesse sentido, é evidente que a própria condução dos trabalhos investigativos também deve se pautar pela máxima transparência. Como cobrar a prestação de contas de uma empresa concessionária se nem os próprios vereadores da CPI sabem dizer quanto está sendo gasto na investigação? Como exigir o cumprimento de contrato alheio se nem se conhece o contrato de trabalho da própria comissão?
Nesta edição, mostramos que nem mesmo os membros da CPI sabem ao certo quanto custam seus trabalhos. Isso é grave. Investigar requer método, controle, seriedade e responsabilidade. Sem isso, a CPI perde a legitimidade. É dinheiro público sendo usado e o mínimo que se espera é que esse gasto seja justificado e conhecido.
Mais do que números, está em jogo a credibilidade do Legislativo municipal. Se os vereadores não conseguem manter a clareza dos próprios atos enquanto acusam a falta de transparência alheia, como esperar que a população acredite no resultado final dessa apuração?
O cidadão tem o direito de saber quanto está sendo investido para investigar o serviço que usa todos os dias – o ônibus que atrasa, a frota sucateada, os terminais malcuidados. O morador da cidade, que paga imposto e passagem, quer resultado. E mais: quer ética no processo de busca por esse resultado.
Ao fim, essa CPI precisa entregar algo concreto. Não pode, como tantas outras, acabar em pizza. A frustração da população com as instituições políticas já é suficientemente grande. Os vereadores têm, portanto, a oportunidade – e o dever – de mostrar que estão do lado certo: o lado do contribuinte, da transparência e da verdade.



