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Uma legenda... ao Rei do Chamamé

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No longínquo ano de 1945 nascia Valfridez Correa Braz, o Zé Correa, em 28 de outubro, na Fazenda Torquato, nas margens do Rio Urumbevá – que, em tradução livre do tupi, significa planta com espinhos –, em casa de taipa coberta com folhas de bacuri, onde hoje se situa a localidade de Água Fria, em Nioaque, hoje, um projeto de assentamento rural de sucesso.

Esse local pertencia aos seus pais, Manuel e Zeferina, ambos gaúchos oriundos da região das Missões, que aqui aportaram no início do século 20. Zé Correa formatou uma ligação profunda com Maracaju, tanto por sua família quanto pelos laços de amizade que ali fez desde guri, tanto que até gravou um chamamé intitulado de “Maracaju” – em tradução livre do tupi, seria o guiso da cascavel metálico.

Guri ainda principiou sua carreira com uma velha gaita de 80 baixos, criando seu próprio estilo, como autodidata, tanto que logo causou surpresa no meio fonográfico, pois passou à execução dos clássicos chamamés, estilo de música originária da região de Corrientes, na Argentina.

Durante sua mocidade morou em Santos (SP), onde formou com alguns amigos um trio que fazia shows em festinhas, tendo inclusive se apresentado em algumas rádios. Mas foi nas décadas de 1960 e 1970 que seu talento fora reconhecido País afora, tendo gravado seu primeiro trabalho nos idos de 1967, com a contribuição dos inesquecíveis Délio e Delinha, tendo como rótulo primário “Gosto Tanto de Você”, disco cujo próprio Zé fora o criador e o arranjador musical do primeiro álbum gravado por um mato-grossense ao tempo.

Apenas à guisa de memórias de pessoas do meu tempo, nesse álbum fora gravado “Bela Vista”, uma canção memorável, “Colorado Retá” – “Despues de tanto sufrir/despues de tanto lhorar/hastiado ya mi vivir...” –, “Dom Gumercindo”, “Oroité”, “Campanário”, “Triste Suspiro” e “Orgulho de Mato Grosso”. Em toda sua estrada, gravou cerca de 20 discos e um CD, todos com repercussão garantida, difundindo o estilo e a técnica musical até então desconhecida, o chamamé, ou chamamê, um estilo musical e de dança que tem por origem a tribo indígena Kaiguá, que fica na região fronteiriça entre o Brasil e a Argentina, na província de Corrientes.

Também era conhecida como Polkakirei, que seria “una polquita tocada e dançada mais ligerito”. Por isso, há quem defenda que o nome desse estilo deveria ser chamado de polca correntina. 

O curioso é que o termo chamamé não é nem guarani, nem espanhola e nem tradução direta para o português. E não há nenhum registro etimológico ou filológico que possa comprovar sua origem, porém, temos duas possíveis origens para o termo.

A primeira vem da expressão “Che amoá memé”, que significa “te protejo”, e a segunda é que o termo quer dizer “improvisação”. No entanto, nenhuma delas pode ser comprovada. Na Argentina, tem também o significado de “senhora, ama-mé”. Já aqui paro o lado ocidental, tem o significado de chamamento, aprochego, viene acá em jeroky.

Mas o fato é que Zé Correa se tornou o Rei do Chamamé, por meio de sua maestria do domínio dos teclados, coroado pela tradição musical de sua terra, cuja técnica tinha como forma o dueto. Isso mesmo, o dueto na própria sanfona, cuja forma e estilo influenciaram toda uma geração de músicos da nossa terra, pois o chamamé se executa com profundo sentimento nativista. Em sua curta existência, andou por todo o Mato Grosso uno ao tempo participando de todos os eventos sociais e regionais, mormente os eventos do agro e da cultura regionalista, especialmente a fronteiriça. 

Não à toa que Zé tinha diversos títulos, como: O Inimitável, Ídolo de MT, Rei do Chamamé e Acordeonista Orgulho de MT. Nesse pórtico, o brilhantismo de Zé assegurou-lhe presença marcante em programas radiofônicos, levando, assim, com o sentimento nativista de suas melodias, engalanar os flertes de jovem enamorados da época, em churrasqueadas seguidas de um bom chimarrão amargo, nos jeroky de chão, com tiros e grandes sapukays que soavam noite adentro, que, com sua delicadeza musical, interpretou não somente momentos de devaneios, mas também as tristezas do cotidiano de sua gente, por meio do som inconfundível de sua gaita que balançou mentes e corações e que hoje somente podemos deleitar por meio de sua obra que ficou e se eternizou.

Zé Correa faleceu no dia 9 de abril de 1974, no arbor de sua mocidade, aos 29 anos, mas sua biografia e seu chamamé continuarão na memória da nossa gente, influenciando a cada dia o surgimento de novos gaiteiros que seguem sua escola, embevecidos por essa magia musical do chamamé!

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EDITORIAL

2026: o ano do cerco ao crime organizado

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes

22/12/2025 07h15

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O ano de 2026 desponta no horizonte como um marco decisivo para o enfrentamento ao crime organizado no Brasil. Não por acaso, trata-se de um ano eleitoral, quando a segurança pública volta a ocupar o centro do debate político e social.

Mas seria um erro reduzir o endurecimento do discurso e das ações apenas ao calendário das urnas. A realidade impõe, por si só, uma resposta mais firme, coordenada e inteligente do Estado frente ao avanço das facções criminosas e à sofisticação de suas engrenagens financeiras e operacionais.

É verdade que, em anos eleitorais, governos tendem a intensificar operações e anúncios na área da segurança. A sociedade, cansada da violência cotidiana, cobra respostas.

Ainda assim, pouco importa a motivação inicial, desde que as ações sejam efetivas, estratégicas e produzam resultados duradouros. Combater o crime organizado não pode ser sinônimo de operações midiáticas ou ações pontuais. É preciso ir ao coração do problema: o dinheiro.

Descapitalizar e desmobilizar quadrilhas deve ser o objetivo central. Facções sobrevivem e se expandem porque movimentam cifras milionárias, lavadas por meio de empresas de fachada, contratos simulados, criptomoedas e uma infinidade de artifícios cada vez mais sofisticados.

Sem atacar a lavagem de dinheiro, qualquer combate ao crime será superficial e ineficaz. O mesmo vale para os golpes cibernéticos, que se multiplicam em velocidade alarmante, atingindo cidadãos comuns, empresas e o próprio poder público.

A criminalidade de rua também precisa ser enfrentada com seriedade. Roubos e furtos, especialmente de telefones celulares, tornaram-se uma epidemia urbana.

Para muitas famílias de baixa renda, o celular é o principal – e às vezes o único – patrimônio, além de ferramenta essencial de trabalho, comunicação e acesso a serviços básicos. Proteger esse bem é, também, proteger a dignidade de milhões de brasileiros.

No contexto regional, o alerta é ainda mais grave. Combater o crime organizado é também impedir que grandes facções ampliem seu domínio territorial.

Mato Grosso do Sul já convive com a presença do PCC e do Comando Vermelho, organizações conhecidas por sua capacidade de infiltração, violência e articulação interestadual.

Agora, conforme mostramos nesta edição, o Terceiro Comando Puro (TCP) também chegou ao Estado. Trata-se de mais uma engrenagem criminosa a disputar espaço, rotas, mercados ilegais e poder.

Esse cenário exige das forças de segurança muito mais do que retórica. É necessário levar esse combate a sério, com integração entre polícias, Ministério Público, Judiciário e órgãos de inteligência financeira. Investigações técnicas, compartilhamento de informações, uso de tecnologia e foco na asfixia financeira das facções precisam ser prioridades absolutas.

O crime organizado não se combate apenas com viaturas nas ruas, mas com inteligência, planejamento e coragem institucional.

Que 2026 seja, de fato, o ano em que o Estado brasileiro avance além do discurso eleitoral e entregue à sociedade ações concretas, eficazes e permanentes. A população já esperou demais.

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Câncer na juventude: inesperado e devastador

Costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela

20/12/2025 07h45

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O diagnóstico de câncer não é algo simples, pois muitas vezes requer diversos exames. Mas, desde o momento em que se cogita a possibilidade, o reflexo desta simples suposição começa a impactar a vida do paciente e de todos à sua volta.

Esta doença costuma ser associada a idosos, porém isso é um engano fatal, porque desde que nascemos, estamos sujeitos a ela. São tipos e riscos diferentes, mas tanto um bebê quanto um idoso podem sofrer de câncer.

Um idoso entende a doença como consequência da sua longevidade, e um bebê não compreende o que está acontecendo. Porém, um jovem, que muitas vezes se acha imortal, com tantos anos de vida pela frente, sofre um abalo devastador, não apenas financeiro, mas também emocional.

Um jovem acha que pode superar qualquer obstáculo, e, de repente, a vida lhe coloca diante de uma doença que pode abreviar sua longa história, transformando o que seria um livro num simples artigo de uma página. 

Nada passa a ser racional. Alguns são mais receptivos, outros mais agressivos. O fato é que toda ajuda será necessária, e agora aquele jovem independente e invencível precisará entender que, sozinho, não vai a lugar nenhum.

Um jovem morrendo não é algo fácil para seus pais, família e amigos aceitarem. A doença se entranha na estrutura familiar e abala seus alicerces. 

A vida social é deixada de lado para enfrentar um tratamento no qual o paciente não sabe se sairá vivo ao final. Sua vida está por um fio, e ele precisa acreditar que vai dar certo, ter esperança. Por isso, o suporte emocional é um forte aliado no sucesso do tratamento.

Existem entidades privadas e governamentais que trabalham para reduzir o sofrimento criando bancos de sangue e órgãos, profissionais que dão apoio, organizações que apoiam financeiramente o tratamento, voluntários que se propõem a ajudar no dia a dia. 

Nessa busca por suporte, apesar do importante papel das entidades, é nas histórias contadas por meio de livros, filmes e outras famílias que o paciente encontra um colo para deitar, um ombro amigo. São experiências que foram vividas por outras pessoas, mas que servem de referência sobre as batalhas que estão por vir, as mudanças de hábitos, sequelas e dores.

São histórias de vida e de superação que transmitem acolhimento, trazem esperança e dão forças para seguir em frente na busca da cura de uma doença implacável que não tem idade.

Essas histórias criam conexões que afastam a solidão, trazem o conhecimento de quem passou pela mesma dor e ajudam a criar pontes para superar os maus momentos.

É importante que o jovem perceba que não está enfrentando essa batalha sozinho, que ele se sinta acolhido, que acredite no tratamento. Como toda doença, identificar cedo é importante e a melhor chance de cura. Vamos estar alertas porque ninguém está livre do câncer.

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