Seis meses se passaram desde que diversas escolas restringiram o uso de celulares em sala de aula. Nesta edição, apresentamos um balanço inicial dessa mudança – e o que se observa é, sem dúvida, um saldo positivo. A medida ainda está em fase de adaptação, tanto para alunos quanto para professores e famílias, mas os primeiros efeitos já são percebidos no cotidiano escolar.
O principal ganho relatado pelas instituições é o aumento do foco dos estudantes. Com menos distrações digitais ao alcance das mãos, os alunos tendem a prestar mais atenção às explicações, desenvolver melhor suas atividades e participar mais das aulas. Outro avanço é na socialização: ao trocar a tela pelo diálogo presencial, as crianças e os adolescentes redescobrem o convívio direto e espontâneo com os colegas.
Esse movimento de reencontro com o mundo real reforça uma constatação cada vez mais evidente: embora as redes sociais conectem pessoas distantes, elas frequentemente nos afastam daqueles que estão perto. E mais: o uso excessivo dessas plataformas compromete a capacidade de concentração, prejudica o aprendizado e reduz o tempo dedicado a tarefas que exigem raciocínio mais elaborado, como a compreensão de textos complexos ou a resolução de problemas matemáticos desafiadores.
Vivemos um tempo em que a inteligência artificial acelera a resolução de problemas e simplifica tarefas cotidianas. Isso é um avanço e deve ser celebrado. No entanto, não podemos cair na tentação de abandonar o esforço intelectual. A construção do conhecimento, especialmente o mais profundo, exige enfrentamento, persistência e raciocínio crítico. São esses desafios que moldam nossas habilidades cognitivas, e isso nenhuma tecnologia deve substituir.
Por isso, acreditamos que há espaço para reduzir ainda mais o uso do celular em sala de aula. Sim, o celular pode ser uma ferramenta útil, quando bem empregada e em contextos específicos. Mas, diante dos prejuízos já constatados, medidas restritivas pontuais se mostram necessárias e benéficas. O objetivo não é demonizar a tecnologia, mas regulá-la com inteligência.
Além das ações nas escolas, é hora de as famílias também refletirem sobre o uso dos dispositivos móveis em casa. Sugerimos que sejam criados momentos de desconexão, especialmente durante as refeições e nos fins de semana. São pausas curtas, mas com potencial para promover grandes transformações na convivência familiar, no bem-estar emocional e na qualidade das relações.
A tecnologia é uma aliada poderosa, mas é preciso colocá-la em seu devido lugar. Ao compreendermos que menos pode ser mais, damos um passo importante para reequilibrar o cotidiano, melhorar o aprendizado e valorizar o que há de mais humano nas relações e na construção do saber.




