Nossa colonização, aqui no Sul de MS, se deu como sinônimo de “fixação de fronteiras”, logo após a “Guerra do Paraguai”, quando o Império estimulou os ex-combatentes a aqui se fixarem. Vieram atraídos pelos “campos nativos” e o “gado bagual”, que aqui campeava. Foi uma história árdua, muitas vezes violenta, onde a solidão e a falta de recursos eram soberanas.
Mas venceu a tenacidade e a fibra brasileira. Mais tarde, acolhemos povos de todos os quadrantes, novas levas de sulistas que trouxeram sangue novo, com vocação para o trabalho árduo com a terra e a produção agrícola. Deixamos de ser apenas “a terra do boi” e o que produzimos, hoje, dá lastro aos governos, quando nas mesas de negociação e planejamento. Se há quem cuspa no prato em que se come, há quem esteja aqui à sombra de nossos esforços e não medem palavras e ações para nos desqualificar, bem como a tudo aquilo que construímos.
Infelizmente, o progresso e desenvolvimento não chegou para todos e nossa população indígena permaneceu marginalizada, mesmo aqueles grupos afeitos ao trabalho agrícola e outros. Vivem numa quase indigência, sem escolas descentes ou apoio às suas atividades tradicionais ou agrícolas. Entretanto, o alcoolismo, suicídios e suicidamentos, terrorismo, trabalho escravo, prostituição, estupros e impunidade, ausência de perspectivas, são fatos que se vêem ou que deles se sabe, em profusão. A indigência que apontamos também é verdade para nossos índios “latifundiários”, detentores de 530.000 hec. de terras (Cadiwéu).
Tudo atesta a indiferença da sociedade face à sua população indígena e a falta de vontade política de nela investir atenção e recursos, fora de uma ótica assistencialista que sedimenta, com o clientelismo, a decadência de quaisquer povos objeto dessas práticas. A política indigenista é, pois, um fracasso criminoso e indiscutível. Como se não bastasse, forças escusas se acasalam para encobrir esse fracasso promovendo manipulações político-ideológicas da injustiçada comunidade indígena. Nessa ótica, o produtor rural deverá ser o bode expiatório, transformado em “ladrão de terras indígenas” para pagar, sozinho, uma dívida que é de toda a sociedade.
Na verdade, os objetivos são outros e, para tanto, montou-se uma indústria de conflitos e invasões, que quer semear ódios definitivos entre índios e pioneiros, sob o olhar conivente do aparelho estatal. Brasileiros dignos que vivem para o trabalho e para suas famílias, estão sendo expulsos de suas propriedades legitimas, sujeitos a toda sorte de abusos. É o que acontece hoje em Antônio João, onde carros identificados pelas placas, alugados pelo Estado, fornecem logística para a invasão de áreas já preparadas para o plantio, por seus proprietários. Já se tornou corriqueiro em MS: produtor expulso de sua propriedade e das páginas da Constituição, pois os locais invadidos se tornam “terra de ninguém”, sujeitos a depredações vergonhosas, com a evidente anuência do aparelho estatal, quando Procuradores Federais “defendem índios”mas, sectariamente, esquecem a Constituição é um todo onde a etnia não determina privilégios ou culpas inatas.
Tudo se passa como se houvesse o interesse de, didaticamente, ensinar às massas que a Lei não existe e que o Estado Democrático e de Direito não passa de um papelucho a ser rasgado através de crime coletivo. Torna-se claro que há um projeto de poder onde a luta de classes deve ceder lugar à promoção do conflito étnico e racial entre brasileiros, sob a batuta de militantes com holerite pago por nós.
Não seria isso a “colombização” à brasileira?
Obs: Este artigo foi publicado no Correio do Estado há dez anos, mas poderia ter sido escrito hoje, na medida em que nada mudou na problemática que aborda: indios e fazendeiros transformados em buchas de canhão por interesses ideológicos..