Artigos e Opinião

ARTIGO

Venildo Trevisan: "Fé e coragem"

Frei

Continue lendo...

Vivemos em um mundo tumultuado e desafiador. Muitas doutrinas, muitas crenças e religiões, muitos desafios para o ser humano se situar e se afirmar com alguma base filosófica ou teológica. Estamos em meio a crises de valores e de instituições.

Crer em quem? Crer em que? Afinal, sabemos que estamos vivos. Sabemos que possuímos princípios que sustentam nosso viver. E procuramos honestamente nos afirmar nesses princípios para que nossa consciência se sinta tranquila.
Sempre se encontram seres humanos que não se conformam com a realidade em que se encontram. Questionam tudo. Questionam a origem, questionam o ambiente e questionam a Deus por não ser compreensivo e solidário.

Querem um Deus que esteja pronto para atender quando for solicitado. Julgam que, pelo fato de viverem de acordo com os mandamentos, teriam o direito de ser atendidos em todos os seus anseios e em todas as suas necessidades.

Estaria faltando para essas pessoas uma visão mais clara do que seja viver a fé e a capacidade pessoal de realizar algo que demonstre seu compromisso com a dignidade a que todos somos chamados a construir.

Grande será a alegria de quem, ao se olhar no espelho de sua consciência, assumir a realidade de seu modo de encarar essa mesma realidade e traçar metas que sejam respostas de sua maneira de caminhar no caminho da fé. Então será alguém contente com o que possui e com o lugar onde se encontra.

Seria muito confortador se a realidade estivesse de acordo com os sonhos. Mas, como nem sempre as coisas são assim, feliz de quem se contentar com a realidade e tudo faz para construir sua vida da melhor maneira possível. E mesmo porque sabemos que para uma vida feliz é suficiente saber que o melhor e mais sagrado está naquilo que conseguirmos realizar apesar de nossas limitações.

Pode parecer humilhação aquilo que o Mestre dos mestres, em uma certa ocasião, declarou a seus seguidores, que o questionavam a respeito de alguma recompensa que mereceriam pelo fato de estarem a tanto tempo com ele. Afinal, eles o ajudavam nos afazeres diários, atendendo o povo, cuidando dos doentes e outros serviços.

Então o Mestre lhes diz: “Assim vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, digam: Somos servos inúteis. Fizemos o que devíamos ter feito” (Lc.17,10). Aqui, o Mestre revela algo muito sagrado. Mostra que tudo quanto conseguirmos realizar pelo bem do próximo não será mérito nosso. Será, isto sim, oportunidade que Deus oferece de realizar algo sagrado, algo que seja graça de Deus.

Se for de nosso modo de pensar, isso seria motivo de orgulho e de vaidade. Mas se nos colocarmos no pensar de Deus, veremos o quanto Deus é bom. Pois é ele quem proporciona momentos e fatos para exercitarmos nossa fé e nossa solidariedade.

E nossa fé se fortalece na medida em que nos empenharmos corajosamente em semear o amor entre as pessoas, no sentido de melhorar a convivência e gerar alegria e contentamento entre aqueles e aquelas que buscam a paz para sua consciência e um consolo para sua alma.

EDITORIAL

Santa Casa refém da própria má gestão

A Santa Casa precisa de mais do que socorros emergenciais: precisa de coragem para mudar, responsabilidade na gestão e respeito por quem sustenta sua missão

23/12/2025 07h15

Continue Lendo...

A situação vivida pela Santa Casa de Campo Grande ao fim de mais um ano é, infelizmente, a repetição de um roteiro conhecido – e previsível.

Há, pelo menos, uma década, o maior hospital filantrópico do Estado é vítima não apenas de um sistema público de saúde subfinanciado, mas, sobretudo, de escolhas administrativas equivocadas, da falta de planejamento e de uma gestão que parece incapaz de romper com seus erros históricos.

Neste fim de ano, o cenário chega a um ponto simbólico e constrangedor: a instituição depende, literalmente, de um milagre para pagar o 13º salário de seus funcionários.

Profissionais que sustentam o atendimento diário de milhares de pacientes, que enfrentam plantões exaustivos, superlotação, escassez de insumos e pressão constante, agora convivem com a angústia de não saber se receberão um direito básico. Isso não honra o nome “Santa Casa”.

Não há justiça social, não há moralidade administrativa e tampouco humanidade em deixar esses trabalhadores à mercê da incerteza.

É evidente que o problema não se resume à gestão interna. O subfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) é uma realidade nacional, e a Santa Casa, como tantas outras instituições filantrópicas, sofre com valores defasados, repasses insuficientes e atrasos frequentes.

O poder público tem, sim, parcela relevante de responsabilidade nesse quadro. Ignorar isso seria desonesto. No entanto, usar essa realidade como justificativa permanente para a ineficiência interna é igualmente inaceitável.

O que salta aos olhos é a aparente falta de disposição da administração do hospital em buscar eficiência, especialmente no campo financeiro.

Os números mostram que apenas o serviço da dívida – os juros e encargos pagos anualmente aos bancos – seria suficiente para quitar não apenas o 13º salário e evitar o acúmulo de outras obrigações em atraso, mas também de quitar quase toda a folha anual. Isso revela um modelo de gestão que prioriza a manutenção de passivos bancários em detrimento do compromisso com seus trabalhadores.

Mais uma vez, a saída apontada parece ser recorrer a novos empréstimos ou aguardar aportes emergenciais do poder público. Trata-se de um ciclo perverso. Endividar-se para cobrir despesas correntes, como folha de pagamento, não é uma estratégia de sustentabilidade; é um atalho para o colapso.

Empréstimos deveriam servir para investimentos, modernização, ganho de eficiência e redução de custos futuros – não para tapar buracos mensais de um caixa cronicamente desequilibrado.

O resultado é uma dívida cada vez menos saudável, maior dependência externa e nenhuma solução estrutural. Enquanto isso, a transparência sobre gastos, contratos e decisões estratégicas segue insuficiente, o que apenas aprofunda a desconfiança da sociedade e dos funcionários.

É lamentável que um hospital com tamanha importância social, histórica e simbólica chegue a esse ponto ano após ano. A Santa Casa precisa de mais do que socorros emergenciais: precisa de coragem para mudar, de responsabilidade na gestão e de respeito por quem sustenta a sua missão.

Sem isso, continuará sobrevivendo de milagres – e milagres, como se sabe, não fazem planejamento financeiro.

ARTIGOS

Terrorismo e religiosidade

Fundamentalismo dos terroristas de todos os matizes é antissemita, anticristão e anti-hislamista, porque se vale da inimizade aos valores religiosos para disseminar o ódio

22/12/2025 07h45

Arquivo

Continue Lendo...

A propósito do recente e trágico ataque ocorrido na Austrália, que vitimou diversas pessoas – algumas delas fatalmente – durante a pacífica celebração do Hanukkah, a festa das luzes da comunidade judaica, impõem-se algumas reflexões sobre os motivos e as consequências de tal ato.

À falta de definição mais apropriada, e sem entenderem bem o que teria motivado os ataques, aparentemente praticados por pessoas isoladas, os analistas chamaram a atenção para a facilidade com que se adquirem armamentos hoje em dia, fenômeno que ocorre também em nosso País.

É simbólico que a festa das luzes seja muito próxima dos festejos de Natal. Também no Tempo do Advento as luzes da coroa vão sendo acesas em crescente até que a Luz do Mundo venha a nascer na noite tão esperada pelos cristãos.

Jesus Cristo não selecionava ninguém. Qualquer pessoa seria bem acolhida por Ele, bastando que professasse o único mandamento propriamente cristão: ama o próximo como a ti mesmo. Aliás, o Cristo ia além e dizia: amai vossos inimigos, o que revela, igualmente, o modelo mais aberto de compreensão da pessoa do próximo.

Na verdade, o fundamentalismo dos terroristas – de todos os matizes – é antissemita, anticristão e anti-hislamista, porque se vale da inimizade aos valores religiosos para disseminar o ódio, a cultura de morte a que já se referia São João Paulo II.

Trata-se, portanto, do mesmo tipo de fundamentalismo que outros grupos de terroristas praticam para excluir as minorias de todo o tipo, mesmo as que não professem nenhuma crença.

É simbólico que tenha sido Ahmed, o sírio, a desarmar um dos terroristas, o que lhe custou dois ferimentos.

Esses terroristas disparam, inclusive pelos meios de comunicação virtual, contra todos aqueles que não pensam como eles. Eis quem são, em certo sentido, os verdadeiros fundamentalistas do ódio. Por que teriam escolhido a reunião do Hanukkah, tão plena de simbolismos?

Não nos prendamos a esse vetor. Basta atentar para os recentes ataques a uma mesquita e a uma feira natalina para que se ponha foco na essência do que está em jogo.

A enorme confusão ideológica e doutrinal do terrorismo revela, antes de tudo, mentes perturbadas, incapazes de discernir entre o bem e o mal. Ou, se quisermos embaralhar ainda mais as cartas, incapazes de discernir a esquerda da direita.

A confusão ideológica, aliás, não é apenas um sintoma de desordem mental, mas a estratégia consciente de aniquilar a pluralidade inerente à condição humana.

O extremismo, ao se apropriar de símbolos sagrados e transformá-los em bandeiras de exclusão, trai a própria essência de qualquer fé que pregue a transcendência e o amor ao Criador, pois desumaniza a criatura feita à sua imagem.

Desta forma, o verdadeiro combate ao terrorismo não se limita à repressão policial ou militar, mas passa necessariamente pela defesa intransigente da educação e do diálogo inter-religioso.

É a luz da razão e da tolerância que deve ser acesa para dissipar a escuridão do fanatismo, provando que a diferença de crença jamais pode ser motivo para a guerra, mas sim o motor para um enriquecimento mútuo da civilização.

Urge que os homens de boa vontade se ergam, em uníssono, em favor de uma cultura de paz e de liberdade religiosa, e que todas as luzes se acendam em alerta contra toda e qualquer manifestação terrorista.

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).