Artigos e Opinião

Opinião

Wilson Victorio Rodrigues:
O mundo mudou e não esperou o Brasil para mudar

Wilson Victorio Rodrigues é Presidente do Pantheón Jurídico, acadêmico do Mackenzie

Redação

18/10/2015 - 01h00
Continue lendo...

Noto, embora jovem, que a ânsia do tal “país do futuro” é algo que, há décadas, faz-se presente no imaginário do povo brasileiro. Creio que esse sentimento de esperança deve-se ao otimismo tupiniquim, o qual, infelizmente, parece ser induzido não pelo realismo crítico, mas sim, pelo idealismo romântico.  A prova disso é que, até hoje, debate-se os prós e contras do socialismo e capitalismo (discussão, ao meu ver, absolutamente fora de moda). O mundo desenvolvido, ao contrário de grande parte da América Latina, já entendeu que o mercado é a única solução para o saneamento das mazelas sociais, e assim o fez ao adotar o modelo neoliberalista, promovendo, dentre outras diretrizes políticas, o investimento em infraestrutura, educação e, sobretudo, facilitando o empreendedorismo.

Tomarei por exemplo um país que, por conta de seus escassos recursos naturais, teria de tudo para dirigir-se ao fracasso. Refiro-me à pequena Coreia do Sul. Lá, caros leitores, os coreanos, no início da década de 1960, possuíam um PIB per capita de 900 dólares. No mesmo período, em terras tupiniquins, o PIB per capita era o dobro. Pois bem. Hoje, o da Coreia é de 32 mil dólares e no Brasil apenas de 11 mil. Onde reside o erro? Eis que, até os dias atuais, indaga-se, no Brasil, se devemos depositar nossas esperanças no Estado ou no mercado. A Coreia (do Sul, é claro), encontrou rapidamente a resposta e , após sepultar esse debate, passou a investir nas potencialidades do povo sul-coreano. Já há alguns anos, deparamo-nos com produtos industrializados sul-coreanos espalhados pelo mundo inteiro: Samsung, Hyundai, Kia, LG etc. O Brasil, no entanto, mesmo sendo 80 vezes maior do que a Coreia em extensão territorial, contenta-se com seu 24º lugar no ranking de exportadores (o qual, cumpre salientar, conquistou-se através de commodities e não de tecnologia).

Já no campo da educação, 18% dos jovens brasileiros encontram lugar nas universidades. Na Coreia, no entanto, somente 18% não estão nelas. Vergonhoso, não?!

Pois bem. Eis que, navegando em mares revoltos, o Brasil continuou buscando a sonhada Terra Prometida, e, após o Partido dos Trabalhadores terem anunciado ao mundo que finalmente o Brasil havia se tornado um país de sucesso, surge a avassaladora crise econômica. A ilusão, promovida pelo PT, se sustentou por pouco tempo. Solução? É simples: paremos de acreditar no Estado e passemos a investir no mercado.”

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

Continue Lendo...

A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

Continue Lendo...

A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).