Após a fatalidade envolvendo ex-campeão de Jiu-Jitsu, Leandro Lo - beleado na cabeça na madrugada de domingo (07) -, atletas de Mato Grosso do Sul, que encontraram o paulista nos bastidores dos torneios, relembram a personalidade desse ícone do esporte.
"Leandro é uma das maiores referência do nosso esporte, inspirou muitos lutadores, uma perda muito grande para o Jiu Jitsu", comenta Giovani Grance Cowboy.
Faixa preta há quatro anos, ele comenta que foi se aproximando aos poucos de Lo e seu trabalho, tanto nos ringues quanto fora deles.
"Participei do seminário do Lo em Campo Grande e depois tive a oportunidade de treinar com ele e assistir de perto ele lutando o mundial na California, Leandro Lo era um cara muito simples e estava sempre rindo e tinha um jeito de ser e lutar que era único", diz "Cowboy".
Além dele, o sul-mato-grossense Claudionor Cardoso, faixa preta de jiu-jitsu há 25 anos, também lamentou a morte do atleta.
"O cara sempre foi extrovertido, que atende as pessoas. Todo mundo, quando ele chega para o ginásio e ele sempre atendendo todo mundo, na questão de dar atenção. Nunca vi nada de falar que era um cara arrogante, ou qualquer coisa, sempre ele estava para ajudar e conversar com as pessoas", afirma.
Claudionor aponta que teve a oportunidade de encontrar com Lo em Las Vegas e São Paulo, sempre sendo muito bem tratado pelo paulistano.
"Acredito que essa personalidade dele não muda fora do ginásio. Creio que ele é assim mesmo, na vida cotidiana, sabe? Uma pessoa extrovertida, onde chega ele é o alvo das atenções, um cara brincalhão, dançava muito... enfim, um cara que chama atenção.
Ainda, ele ressalta a fatalidade envolvendo o ex-atleta, dizendo que, pelo o que pôde conhecer de Lo, ele jamais teria provocado a briga.
"O cara foi na verdade é um pilantra. Um safado assassino. Fazer uma brutalidade dessa aí... porque tem várias histórias, mas acredito que ele [Leandro] não é um cara que provocou", pontua.
Esporte e violência
Claudionor faz questão de frisar que, entre os esportistas profissionais, qualificados, a violência nunca será pregada.
"Muitos já entraram na minha academia no intuito de falar que apanhou na rua, ou no emprego, escola, que queriam aprender para 'descontar'; 'revidar'. E com o tempo eles vão aprendendo que não tem nada a ver e esquecem disso, acaba mudando seu conceito depois que faz o esporte. Então o jiu-jitsu cara eu eu acredito que não leva ninguém para a violência", comenta ele.
Ambos os atletas sul-mato-grossenses destacam que o atual momento da sociedade, dentro e fora do nosso País, tem movido muito mais os casos de violência e morte do que qualquer agressividade que o esporte possa despertar.
"Estamos vivendo um momento muito violento, não só no Brasil mas no mundo todo, o Jiu Jitsu é uma arte marcial que apesar de muitas pessoas treinarem por hobby, os praticantes também podem usa-lá como uma ferramenta para a defesa pessoal, todos nós estamos suscetíveis a sermos vítimas de agressões, nos dias atuais saber defesa pessoal pode salvar a sua vida", diz Cowboy.
Além dele, Claudionor também destaca a influência de agentes nocivos, que tem grande alcance em suas postagens, que estimulam a violência e à legitimam para determinado grupo da sociedade.
"Hoje estamos passando um tempo difícil, com um governante que aí prega a violência. Um cara arrogante, que provoca e maltrata até a própria imprensa... e isso é um mau exemplo, porque acaba que as outras pessoas vão acreditar que podem comprar uma arma e matar todo mundo", expõe.
Ele ainda defende que profissionais da área de segurança, como as polícias civil e militar, tem que ser melhor preparados para o porte de arma.
"Tem uma tem uma bateria de exames, para não fazer um lance desses, matar um cara que é um ícone no esporte, que só prega o bem, que só estava ali para dar exemplo para a gurizada nova. Aí, por causa de uma discussão, acaba com a vida de um cara precocemente", diz.
Com cerca de três décadas de jiu-jitsu nas costas, ele ressalta que nem o esporte, nem bons profissionais, irão pregar qualquer tipo de violência, contando ainda uma situação, que teve de enfrentar com sua esposa, da qual preferiu se livrar.
"Já me deparei de uma vez, eu e esposa minha esposa, procurando um local para almoçar, vimos um monte de pessoas numa calçada fazendo churrasco. Não me atentei, achei que era um barzinho. Parei, nem desci do carro, perguntei se vendia espetinho. Quando recebi a negativa e ia saindo, um cara fez sinal de arma e gritou 'Aqui é Bolsonaro'. Eu achei um absurdo, porque só fui fazer uma pergunta, e o cara com sinal de arma dizendo que era bolsonarista... tem nada a ver uma coisa com a outra", revela.
Quanto ao estímulo negativo que uma pessoa influente pode gerar, ele aponta para uma das "soluções" do atual governo para o problema de segurança pública, que seria facilitar o acesso para o porte e posse de armas.
"Não acredito que seja segurança. Ter uma arma não é estar seguro. Que daí vai um cara para um lugar com bebida, e usa uma na cintura, isso é um absurdo. Acabou com a vida do cara e o mundo do jiu-jitsu está muito triste", finaliza ele.




