Em outubro de 2023, a Polícia Civil encontrou 705 máquinas usadas na contravenção em residência no Bairro Monte Castelo
Um mês foi o tempo que levou para a organização criminosa supostamente liderada pelo deputado estadual Roberto Razuk Filho (PL), o Neno Razuk, recuperar-se da apreensão de 705 máquinas utilizadas no jogo do bicho em Campo Grande, que ocorreu em outubro de 2023.
De acordo com investigação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), a quebra do sigilo telefônico dos investigados mostrou que a organização, no mês seguinte à apreensão das máquinas em uma residência no Bairro Monte Castelo, já tinha novos endereço e, inclusive, mais equipamentos que os apreendidos pela polícia.
“A estabilidade e a não eventualidade da organização são reforçadas por várias constatações. A apreensão de tantas máquinas, por si só, já atesta que não se tratava de amadores e menos ainda de um negócio passageiro. Não fosse isso suficiente, mesmo após a apreensão de 705 máquinas e a ação policial na Rua Gramado em 16 de outubro de 2023, as transcrições revelam que o grupo se reorganizou, alugou novos imóveis, recebeu novos equipamentos e planejou a expansão das atividades para o estado de Goiás”, diz trecho da investigação.
Isso foi descoberto em diálogo que teria ocorrido em novembro de 2023, portanto, um mês após a operação policial, entre os réus Mateus Aquino Júnior e Diogo Francisco, o Barone, em que eles discutem a chegada de novas máquinas para substituir as apreendidas.
“Parou tudo cara, parou tudo! Porque as máquinas tinham sido presas, né! E aí logo em seguida diz que chegou mais 800 máquinas, más é... Ficou tudo parado, o que eu fiquei sabendo é que o Zenzo fez mais uma reunião com os caras aqui da região sul”, consta em trecho do processo. Zenzo seria José Eduardo Abdulahad, conhecido como Zeizo, e que seria um dos líderes na fronteira da organização criminosa.
“Posteriormente, em 21 de novembro de 2023, Diogo Francisco (Barone) confirma a Mateus Aquino Júnior que já está com o novo maquinário: ‘Tá com o maquinário já, só esperando o homem da autorização, busquei hoje’”, completa o Gaeco.
APREENSÃO
A apreensão das maquininhas se deu durante o curso de uma outra investigação, a do sequestro de um servidor da Caixa Econômica Federal.
Segundo noticiado pelo Correio do Estado na época, a Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras) realizava a investigação sobre o servidor quando se deparou com um veículo que havia sido roubado em frente a uma casa.
Conforme os policiais, foi solicitado reforço policial, pois havia informações de que na residência estavam quatro homens armados.
O delegado Fábio Peró, do Garras, relatou à época que a equipe saiu do local por ter outra pista e que, ao retornar, o carro não estava mais em frente à casa. Foi quando os agentes resolveram tocar a campainha da residência. Ao entrarem, depararam-se com as máquinas de jogo do bicho.
Os equipamentos, em sua maioria, eram novos e semelhantes a máquinas de cartão, utilizadas diariamente em qualquer comércio.
No local, os policiais também encontraram 10 pessoas, entre elas, dois militares, um sargento e um major da reserva, mas nenhuma delas assumiu a responsabilidade pela casa.
Os policiais seriam Gilberto Luis dos Santos, conhecido como Coronel, e Manoel José Ribeiro, o Manelão, ambos réus na investigação sobre a organização criminosa. Conforme o Gaeco, ambos faziam a segurança do grupo.
Durante a abordagem em outubro de 2023, a investigação mostrou que eles estariam armados na residência onde as máquinas de cartão usadas no jogo do bicho foram encontradas.
“Embora não tenham sido apreendidas no momento das ações, o que é desnecessário segundo conhecida lição jurisprudencial, não há dúvida de que Gilberto Luis dos Santos (Coronel) e Manoel José Ribeiro (Manelão) portavam armas de fogo. Jamais negaram que o faziam, precisamente porque eram policiais militares da reserva. Por exemplo, Gilberto Luis dos Santos relatou, em juízo, que, no momento da abordagem policial na residência, Manoel José Ribeiro ‘tava com a arma na cintura’. Além disso, na fase inquisitorial, Manoel José Ribeiro declarou estar na posse de uma pistola PT100, calibre 40”, diz outro trecho da apuração do Gaeco.
SUCCESSIONE
Neste mês, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) obteve a condenação de 12 integrantes da organização criminosa armada, que seria liderada pela família Razuk, que atuava na exploração do jogo do bicho e na prática de roubos à mão armada em Campo Grande para tomar o comando da atividade ilegal.
As penas aplicadas pelo Judiciário somam mais de 100 anos de reclusão e multas que ultrapassam R$ 900 mil. Entre os réus está Neno Razuk, condenado a mais de 15 anos de prisão, além da perda de mandato de deputado estadual.
Saiba
A primeira fase da Operação Successione foi deflagrada em outubro de 2023, logo depois da apreensão das maquininhas.
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