Carreatas e protestos cobrando o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foram registrados ao longo deste sábado, 23, em dezenas de cidades do País, incluindo capitais como Campo Grande, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.
Campo Grande
Manifestantes realizaram uma carreata na principal avenida de Campo Grande, na manhã deste sábado (23), contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A carreata “Fora Bolsonaro”, aconteceu pela segunda semana consecutiva em todo país.
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O movimento foi organizado por pessoas que afirmam estar inconformadas com o agravamento da pandemia de Covid-19 no Brasil, e o posicionamento que o governo federal vem tomando diante do problema.
Segundo o coordenador do movimento "Fora Bolsonaro" em MS, Agamenon Prado, a carreata se repetiu justamente porque houve muitos pedidos, todos baseados na crise econômica, política e sanitária.
“Há uma adesão espontânea da população, como foi no domingo passado. Nós temos que preservar a democracia, a saúde de nosso povo e o SUS”, explicou.
Não apenas manifestantes, políticos foram vistos na carreata, como o deputado estadual Pedro Kemp (PT) e a vereadora Camila Jara (PT), além de representantes que também mostraram indignação quanto ao rumo da política nacional.
"O negacionismo contra essa pandemia. A política de mandar o povo não tomar vacina, não usar máscara, recomendar a cloroquina, um remédio que o mundo inteiro não está usando. Tem gente que acredita que vira jacaré tomando a vacina.", disse o presidente do Sindicato Trabalhadores extração e Mineração (Sindiminério-MS), Marcos Vinicio.
Ele completou dizendo que o presidente da república "já caiu de podre", por não reconhecer ao menos o Sistema Único de Saúde (SUS), que é o maior responsável por salvar vidas num momento como este.
Citando a crise econômica, tão comentada por Bolsonaro, Pedro Gavilam, um dos manifestantes, criticou a falta de esforços do Governo para tentar mediar a situação.
"Está deixando empresas irem embora, igual a Ford. A Honda está fechando em Manaus. É um governo que não tem uma política para gerar empregos nesse país.", completou.
Ainda segundo ele, o impeachment seria a melhor alternativa, já que não há esperança em relação à postura de Bolsonaro.
"Quem vota o impeachment dos presidentes são os deputados federais. Aguentar esse governo ate 2022 é deixar o país muito mais quebrado do que ja está.".
Questionada, a Guarda Civil Metropolitana de Campo Grande disse que não estava colaborando com a carreata e, ao contrário do que mostram as imagens, também não tentou impedir os manifestantes, uma vez que os protestos têm a ver como o "direito de ir e ir de cada um", conforme informaram.
Por não terem dado aval para a carreata, a Guarda também não soube informar o quantitativo de carros presentes, porém, de acordo com o coordenador da Frente Fora Bolsonaro MS, Andre Large, estavam reunidos cerca de 450 veículos.
O coordenador também informou que houve uma tentativa de autorização de interdição de parte da avenida para a realização da carreata, junto a Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran), porém o pedido foi negado.
Large disse ainda que é impossível não se sentir insatisfeito diante de um líder que nega a pandemia e a classifica como uma "gripezinha", sendo que a mesma tem uma mortandade de 215 mil pessoas.
"Estou defendendo a nossa geração e as gerações futuras. O país tem que ser resgatado e tirado das mãos desse tirando", finalizou.
Organizadas por entidades e partidos da oposição, as manifestações cobraram o chefe do Executivo por sua atuação na pandemia.
Os pedidos de vacina e de afastamento deram o tom dos atos, marcados por críticas ao atraso na imunização da população contra a covid-19.
Em São Paulo, a carreata começou na Assembleia Legislativa, em frente ao Parque Ibirapuera, passou pela Avenida Paulista e terminou na Praça Roosevelt, acompanhada também por ciclistas e motociclistas.
Do alto de um carro de som, políticos se revezaram ao microfone, incluindo o ex-candidato do PSOL à Presidência e à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos.
"Estamos aqui para dizer que não vamos esperar até 2022; são vidas que estão em jogo. É agora o momento de derrotar Jair Bolsonaro", discursou Boulos, um dos organizadores do protesto.
De acordo com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), integrante da coordenação das manifestações, foram registradas carreatas em 87 cidades.
No Rio, a manifestação reuniu cerca de 100 carros e causou lentidão no trânsito, mas sem ocorrências, de acordo com a Polícia Militar.
A carreata ocupou uma faixa de uma das principais avenidas da cidade, a Presidente Vargas.
Na capital federal, de acordo com a assessoria da Polícia Militar, cerca de 500 veículos participaram do protesto.
Esquenta
Além de PSOL e CUT, a coordenação nacional das manifestações incluiu as frentes Brasil Popular e Brasil sem Medo, reunindo ainda PT, PSTU, PDT, PSB, PCdoB e Rede.
Ao som de buzinas, manifestantes pediram o fim da gestão do presidente da República "Acabou, acabou! Vai embora (Bolsonaro), leva toda a sua gangue", gritou uma manifestante na capital federal.
Na avaliação da porta-voz do partido Rede Sustentabilidade no DF, Ádila Lopes, a mobilização de ontem foi um "esquenta" para o ato previsto para o dia 31 de janeiro, véspera da eleição para as presidências da Câmara e do Senado (cabe ao titular da Câmara dar andamento a qualquer pedido de impeachment).
Para Ádila, o apoio de movimentos de direita ao impeachment de Bolsonaro mostra uma oportunidade de convergência em prol da democracia:
"Quando você chega a situações delicadas como a que nós temos, essas movimentações tendem a ir caminhando para um funil, de modo que, em algum momento, se encontrem". A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que também marcou presença na carreata em Brasília, convocou a população a manter as cobranças pela saída do presidente Bolsonaro em manifestações, panelaços e pressão nas redes sociais.
Conforme o Estadão mostrou, atores políticos que estiveram em lados opostos durante o impeachment da presidente Dilma Rousseff agora pedem juntos a saída de Bolsonaro.
É o caso da Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, que apoiaram a petista em 2016, e o MBL e o Vem Pra Rua. Entretanto, os protestos organizados por cada grupo estão sendo marcados para dias separados.
O Acredito, movimento de renovação política, e os grupos de esquerda organizaram seus protestos ontem, enquanto os grupos de direita marcaram seus atos para este domingo.
Popularidade
Influenciada pela situação da pandemia da covid-19 no País, marcada pela crise no fornecimento de oxigênio na rede de saúde de Manaus (AM), a popularidade do presidente já se mostra abalada.
Pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira indicou aumento do número de insatisfeitos com Bolsonaro: 40% da população avalia sua atuação como ruim ou péssima, comparado com 32% que assim o consideravam na edição anterior da sondagem, no começo de dezembro.