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FAVELA

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Após cinco anos, espera por casas prometidas por Bernal continua

ONG contratada pelo então prefeito pegou o dinheiro das obras, mas de 328 casas apenas 42 foram concluídas

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Um dos pilares da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a moradia ainda é um sonho distante para muitos. Em Campo Grande, famílias da antiga favela Cidade de Deus, desapropriada na gestão do prefeito Alcides Bernal (PP), estão há cinco anos em barracos improvisados à espera de unidades habitacionais que nunca foram entregues.  

Em 2016, ainda na gestão de Bernal, os moradores da antiga comunidade foram encaminhados para quatro áreas de reassentamento nos bairros Vespasiano Martins, Jardim Canguru, Pedro Teruel (ao lado do Dom Antônio Barbosa) e Loteamento Bom Retiro (atrás da Vila Nasser). 

Na prática, o antigo prefeito conseguiu transformar uma favela em quatro.

Na época, a Organização Não Governamental (Ong) Morhar foi contratada pela Prefeitura de Campo Grande para construir casas populares para os moradores do entorno do aterro sanitário. 

O convênio de R$ 3,6 milhões (desse total, R$ 2,7 milhões foram efetivamente pagos à entidade) entregou apenas 42 das 328 moradias prometidas por Bernal, o que resultou em investigação do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS).

A reportagem do Correio do Estado visitou os quatro bairros, e, além das promessas nunca cumpridas, moradores relataram problemas estruturais, despejo e frustrações pelos lares que nunca existiram. 

Com o abandono das obras em algumas regiões, famílias foram obrigadas a permanecer em situação de vulnerabilidade social, quando até mesmo a mudança de tempo é sinônimo de preocupação. 

RETOMADA

A Prefeitura de Campo Grande e o governo do Estado de Mato Grosso do Sul assinaram em junho de 2020 a contratação de uma empresa para a finalização das unidades habitacionais de famílias da antiga Cidade de Deus.

O convênio foi realizado para a conclusão de 150 casas com um investimento de R$ 7,8 milhões para 52 unidades habitacionais no Jardim Canguru e 98 no Loteamento Pedro Teruel. Foram investidos R$ 2,5 milhões do Estado e R$ 5,3 milhões do município para a retomada das obras, que foram iniciadas, mas não finalizadas.  

BOM RETIRO

No Bom Retiro, parte dos moradores da extinta Cidade de Deus já receberam 117 moradias por meio da Ação Casa Pronta, iniciativa da Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários (Amhasf) e Fundação Social do Trabalho de Campo Grande (Funsat), em parceria com o governo do Estado. 

O programa capacitou mais de 150 moradores, que aprenderam novas profissões integrantes do ramo da construção civil.

No total, já foram entregues 123 casas na comunidade, restando apenas 13 habitações em processo de finalização. O aposentado Nadir Assis, 65 anos, afirmou que após deixar a Cidade de Deus em 2016 permaneceu por mais três anos morando em um barraco no novo bairro. 

Com o começo marcado por dificuldades, havia falta de acesso aos itens básicos, além da locomoção.  

“Não havia transporte público para nós, mas agora já temos até esgoto na rua. Espero que em pouco tempo o asfalto passe e tudo melhore ainda mais”, disse Assis.  

Após anos de sofrimento, Nadir hoje encontra a segurança em um lar de alvenaria, cenário ainda distante para muitos de seus companheiros da Cidade de Deus. “Agora tenho a tranquilidade que eu sempre quis, na idade em que eu estou já me sinto seguro morando aqui”, reiterou.  

VESPASIANO MARTINS

A sensação de tranquilidade teve prazo de validade para 42 famílias no loteamento Vespasiano Martins. Após o reassentamento em 2016, os problemas estruturais começaram a surgir, e em 2017 foi constatado que o solo aflorante não era propício para a construção. Por esta razão, todas as casas foram condenadas.  

O cenário atual é marcado por duas realidades: em um lado da rua, os entulhos se acumulam, enterrando anos de esperança pela tranquilidade ainda desejada; do outro lado, os moradores que ainda permanecem no bairro esperam pela chegada das patrolas e pela promessa de novas casas.  

A dona de casa Aline Dias, 30 anos, que mora há cinco anos no Vespasiano Martins encara com relutância a mudança para o Parque do Sabiá.

“Nos disseram que seremos removidos até 1º de agosto. Estamos perdidos e tristes, porque fizemos melhorias na nossa casa daqui, colocamos ferragem, muro e não queremos ir embora”, disse.  

Para o pedreiro Joni da Silva, 59 anos, a nova mudança é esperança para encerrar os anos em que as fortes chuvas transformavam a rua em rio.

“Nós chegamos aqui na época do prefeito Alcides Bernal, em uma chuva danada, água escorrendo para tudo quanto é lado. A drenagem não foi bem-feita, muitas casas ficavam praticamente alagadas e aqui não foi planejado para ser uma grande obra”, relatou.  

Conforme a prefeitura, o reassentamento no Parque do Sabiá deve contemplar 42 famílias do Vespasiano Martins e mais cinco unidades serão destinadas às famílias em situação de vulnerabilidade, a pedido do MPMS.

Segundo Miris Escobar, 28 anos, que já está instalada na nova moradia, a mudança para o novo bairro trouxe mais segurança e, apesar da tristeza por parte de sua história ser demolida, a conquista da casa própria foi comemorada.

“Nós moramos na Cidade de Deus por quatro anos e ficamos por mais quatro no Vespasiano Martins, até que nos mandaram para cá. Ao mesmo tempo que fiquei feliz pela mudança, bate uma tristeza por parte da nossa história ficar para trás, a patrola passando em cima de tudo parecia um filme, e só restou a nossa árvore na frente”.

A Prefeitura de Campo Grande investiu R$ 2.632.000,00 na construção das novas moradias. A previsão é de que as 17 unidades restantes sejam concluídas até o fim deste mês.  

JARDIM CANGURU

Em fase mais atrasada nas obras, as famílias do Jardim Canguru convivem com o cenário de expectativa e realidade. Ana Carolina de Jesus, 21 anos, relatou que há cinco anos mora em um barraco nos fundos da casa que um dia a foi prometida. 

Com apenas as paredes erguidas, o esboço da casa é uma dura paisagem para quem sonha em não passar mais por frio e por fortes chuvas da Capital.  

“Nós chegamos bem no fim, quando a favela Cidade de Deus deixou de existir e começaram com o processo de retirada. Demorou muito tempo para construírem as nossas casas, nos prometeram que haveria reformas nos quatro setores, e até agora no nosso as obras continuam inacabadas", disse Ana Carolina.  

"Às vezes mandam só as máquinas para jogar pedras nas ruas enquanto continuamos no improviso”, completou.  

Lucimara Escobar, 32 anos, cansou de esperar pela iniciativa pública, e, com muita dificuldade, conseguiu dar andamento em sua casa. 

“Muitos moradores fizeram por conta própria, e a minha eu mesma construí. Nos foi repassado apenas que esse investimento será abatido nas parcelas e que eles não iriam mexer mais nas nossas casas”, relatou.  

PEDRO TERUEL

Depois de esperar seis anos por uma residência, a dona de casa Alessandra Moraes, 27 anos, reflete no olhar a felicidade pelo teto seguro e à prova de chuvas. Há pelo menos 15 dias, seu novo endereço é no loteamento Pedro Teruel.  

“Fiquei no Bom Retiro por cinco anos, morava no barraco e depois de seis anos a casa finalmente saiu. Foram tempos de muito sofrimento, debaixo de chuva, muito sol, barraco de lona caindo na minha cabeça. Era horrível, e eu dependia de doações para viver com os meus três filhos”, relatou.  

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Campo Grande para saber o cronograma de entrega para o restante das casas, mas até o fechamento desta edição não houve resposta.

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ALIMENTOS-DISPERDÍCIO

Mundo joga fora mais de 1 bilhão de refeições por dia, diz ONU

Isso representa aproximadamente quase um quinto de tudo o que é produzido, "uma tragédia global"

27/03/2024 21h00

O desperdício de alimentos produz cinco vezes mais emissões de CO2 que o setor da aviação e requer grandes áreas de terra onde são cultivados alimentos que não são consumidos Crédito: Freepik

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A humanidade desperdiçou por dia o equivalente a um bilhão de refeições em 2022, segundo um estudo divulgado nesta quarta-feira (27) pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

Esse cálculo é provisório e a quantidade de alimentos desperdiçados pode ser muito maior, apontam os responsáveis pelo Índice de Desperdício de Alimentos.
Embora ainda existam 800 milhões de pessoas que sofrem com a fome, o mundo desperdiçou mais de um bilhão de toneladas de alimentos em 2022, o equivalente a mais de US$ 1 trilhão (R$ 5,21 trilhões na cotação da época).

Isso representa aproximadamente quase um quinto de tudo o que é produzido, "uma tragédia global", diz o texto.

"Milhões de pessoas passarão fome hoje enquanto os alimentos são desperdiçados em todo o mundo", afirma Inger Andersen, diretora-executiva do Pnuma. E esse não é apenas um fracasso moral, mas também ambiental, destaca ela.

O desperdício de alimentos produz cinco vezes mais emissões de CO2 que o setor da aviação e requer grandes áreas de terra onde são cultivados alimentos que não são consumidos.

O relatório, em conjunto com a organização sem fins lucrativos Wrap, é o segundo sobre desperdício global de alimentos elaborado pela ONU.

À medida que a coleta de dados melhora, a verdadeira magnitude do problema se torna mais clara, diz Clementine O'Connor, também do Pnuma.

"Para mim, é simplesmente assustador", reforça Richard Swannell, do Wrap. "Seria realmente possível alimentar todas as pessoas atualmente famintas no mundo com uma refeição por dia, apenas com a comida que é desperdiçada a cada ano."

Restaurantes, refeitórios e hotéis foram responsáveis por 28% do total de desperdício de alimentos em 2022, enquanto o comércio varejista, como açougues e mercearias, descartou 12%. Os maiores culpados foram os lares, que representaram 60%, cerca de 631 milhões de toneladas.

Muito disso ocorre porque as pessoas simplesmente compram mais alimentos do que precisam, calculam mal o tamanho das porções e não comem sobras, diz Swannell.
Outro problema são as datas de validade. Existem produtos perfeitamente bons que são jogados fora porque as pessoas supõem, incorretamente, que eles estragaram.
O relatório explica também que muitos alimentos, especialmente no mundo em desenvolvimento, se perdem no transporte ou estragam devido à falta de refrigeração.

Ao contrário da crença popular, o desperdício alimentar não é um problema apenas dos países ricos e pode ser observado em todo o mundo.

Os países com climas mais quentes também geram mais resíduos, possivelmente devido ao maior consumo de alimentos frescos.

Efeitos devastadores

As empresas também contribuem para o problema porque é barato descartar produtos não utilizados graças aos aterros. "É mais rápido e fácil descartar atualmente porque a taxação do lixo é zero ou muito baixa", diz O'Connor.
O desperdício de alimentos tem "efeitos devastadores" para as pessoas e o planeta, conclui o relatório.

A conversão de ecossistemas naturais em agricultura é uma das principais causas da perda de habitat, e o desperdício de alimentos ocupa o equivalente a quase 30% da terra destinada ao uso agrícola.

"Se o desperdício de alimentos fosse um país, seria o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa do planeta, atrás dos Estados Unidos e da China", ressalta Swannell.

NO BRASIL 

O Índice de Desperdício de Alimentos calcula que, no Brasil, a taxa, na etapa de consumo familiar, esteja em 94 kg per capita ao ano.

Essa estimativa leva em conta somente o consumo doméstico de alimentos no país, com base em um estudo piloto realizado em 2023 em cinco regiões da cidade do Rio de Janeiro, com diferentes perfis socioeconômicos.

"Embora seja um estudo restrito ao Rio de Janeiro, os dados mostram que o desperdício ocorre mesmo em bairros de classe média baixa. Os fatores que levam ao desperdício precisam ser explorados em pesquisas qualitativas. É importante destacar que o montante de 94 kg por pessoa ao ano leva em conta tanto sobras de refeições, tais como arroz e feijão, quanto cascas de frutas e ossos", diz Gustavo Porpino, analista da Embrapa Alimentos e Territórios, que atuou como revisor do índice, em comunicado.

"A metodologia do Pnuma não categoriza o desperdício em evitável e inevitável, porque considera relevante reduzir o descarte de resíduos orgânicos como um todo", explica.

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PAC Saúde

Com investimento de R$ 89,5 milhões, municípios de MS irão receber novas Unidades Básicas de Saúde

Com as novas unidades o Ministério da Saúde estima que mais de 8,6 milhões de pessoas sejam atendidas pela Atenção Primária

27/03/2024 17h30

Marcello Casal Jr / Agência Brasil

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O Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC Saúde) disponibilizou R$ 89,5 milhões para investimento em construção de Unidades Básicas de Saúde (UBS) em 37 municípios de Mato Grosso do Sul.

Entre os municípios estão Campo Grande (R$ 4.945.820,90), Dourados (R$ 4.945.820,90) e Corumbá (R$ 2.276.907,66). Em todo país serão construídas 1,8 mil unidades em mais de 1,5 mil municípios. Com isso, o Ministério da Saúde estima que mais de 8,6 milhões de pessoas sejam atendidas pela Atenção Primária. 

Conforme divulgado pelo Ministério da Saúde, com as novas UBS haverá a necessidade de ampliação no quadro das equipes de Saúde da Família (eSF), se Saúde Bucal (eSB), multiprofissionais  (eMulti) e de Agentes Comunitários de Saúde (ACS).

A pasta informou que o investimento feito é de R$ 4,2 bilhões, sendo que os valores das novas UBS apresentam a variação de R$1,8 e R$6,6 milhões, de acordo com a região e o tamanho da unidade. 

Ainda, de acordo com o Ministério, os dez pedidos entre equipamentos e obras que o Novo Pac Saúde contempla, novas UBS representam o maior número de propostas apresentadas pelos municípios, um total de 5.665 propostas, referentes a 3.001 territórios.

Veja a relação dos municípios

Para a escolha dos municípios a receber as novas UBS foram vulnerabilidades socioeconômica; ausência assistencial na Atenção Primária; locais com baixo índice de cobertura e Estratégia de Saúde da Família.

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