Cidades

DA ALDEIA PARA MESA

Chef indígena vê na gastronomia
o meio de fortalecer cultura terena

Kalymaracaya transforma os pratos consumidos na aldeia em iguarias

MARESSA MENDONÇA

21/08/2016 - 10h15
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Preservar a cultura dos índios terena é missão para Letícia Mendes Nogueira e a culinária é a forma encontrada por ela para conquistar esse objetivo. Aos 35 anos, Kalymaracaya, como é chamada pelo seu povo, é a primeira chef indígena do país e com os pratos que faz, ela leva um pouco da aldeia para as mesas.

Na infância, Kalymaracaya ajudava avó e mãe a preparem os alimentos que seriam consumidos pela família e foi assim que nasceu o gosto dela pela culinária. Ela conta que teve de deixar a aldeia Bananal, localizada em Aquidauana, aos dois anos de idade, mas morava na região durante as férias escolares.

Deste período, ela lembra de ter consumido muito óleo de bocaiuva e mato, como taioba, além de muita carne. E são esses alguns dos ingredientes que ela costuma usar hoje para dar o “toque de chef” as receitas.

TESTE DE FOGO 

E o primeiro prato que Kalymaracaya levou para apreciação dos não-índios foi o Hî-hî,  bolinho de mandioca cozido envolto na folha de bananeira. À época, ela cursava faculdade de turismo em Campo Grande. 

“Eu levei o hî-hî tradicional, sem nada. Fiz ali a mandioca, coloquei na folha de bananeira e enrolei. A mãe falou pra mim que ia me ajudar, mas que eu ia voltar com todos os meus hî-hî para casa. Eu fiz mais ou menos uns 50 para fazer um teste e coloquei lá”, lembra. 

O resultado, segundo ela, surpreendeu. “A fila era enorme porque um falou pra outro: ‘tem comida de índio, vamos lá provar’. E a minha mãe ficou de boca aberta”, completa Kalymaracaya, afirmando que, mesmo depois desse episódio, continuou um tempo sem apoio. 

PORTAS FECHADAS 

Essa desaprovação pela ideia de Kalymaracaya não era infundada, mas decorrente do temor da família de que ela sofresse preconceito por ser indígena. “Eu já tinha essa ideia, [de representar os indígenas] há muitos anos, antes de eu entrar na faculdade. E minha mãe falando sempre pra mim que não ia dar certo”, lembra. 

Ainda depois de ter feito curso profissionalizante de cozinha, ela continuou ouvindo alguns nãos, tanto de chefs de cozinha quanto de estabelecimentos em que pedia para apresentar as receitas. 

A MUDANÇA 

Convicta da vocação, ela não desanimou e passou a enviar mensagens nas redes sociais para chefs renomados. Dentre os destinatários, chef Paulo Machado, considerado embaixador da gastronomia brasileira. 

A reviravolta na vida dela aconteceu quando ele respondeu ao recado, confirmando que a ideia de Kalymaracaya em representar seu povo por meio da gastronomia não deveria ser abafada. 

Com gratidão em cada palavra, ela conta que as orientações de Paulo Machado foram desde novos ingredientes até a caracterização da indígena. 

Depois das dicas, Kalymaracaya saiu em busca de cocar, brincos de pena e roupas de semente usadas na aldeia e é assim que ela se apresenta por onde passa. 

Ela já participou de vários programas de televisão e de festivais de gastronomia nacionais, como a  Feira Internacional de Gastronomia Amazônica (Figa) em Manaus (AM), Festival Gastronômico Sabores das Américas (Fegasa) em Corumbá (MS), Cata Guavira em Bonito (MS), e internacionais como Ame Tauná, Santa Cruz de la Sierra na Bolívia. 

Kalymaracaya também fez fez parte da Expedição Fartura 2016 por Campo Grande e foi parte integrante do projeto de pesquisas com pimentas crioulas de índias terena realizado pelo Instituto Paulo Machado. 

Hoje, ela presta serviços de produção em Gastronomia para o programa Comitiva de Sabores, apresentado pelo Chef Paulo Machado.​

UMA RECEITA

Ao Portal Correio do Estado, Kalymaracaya ensinou como fazer um Ho’é, receita prática e rápida, com utilização de apenas cinco ingredientes em que o peixe é protagonista.

Ela começa a fazer o prato, selecionando um filé de tilápia de 700 gramas, pimenta biquinho, alho e sal. O toque indígena fica por conta do óleo de bocaiuva e das folhas de bananeira usadas para envolver o peixe. 

Kalymaracaya detalha que o peixe deve ser temperado com alho e sal e pincelado com óleo de bocaiuva. “Como na aldeia não tem pincel, nós usamos coisas da natureza, como o trevo que a gente come também”. Em seguida, o filé é envolto nas folhas de bananeira  e amarrado com folhas de bocaiuva. “Mas pode amarrar com barbante”.

O peixe então é assado em churrasqueira durante 40 minutos e, quando retirado, é decorado com a pimenta. 

Na cozinha de Kalymaracaya também há espaço para preparar Lapapé (trio de mandioca), Ho’ecom (farofa de castanhas), bolo com calda de bocaiuva e até outra versão do  hî-hî, com doce de guavira, sempre rementendo aos ingredientes consumidos na aldeia. "Eu procuro usar ingredientes que a gente cultiva na aldeia", diz. 

NOVOS PLANOS 

Além de atuar como chef, Kalymaracaya é secretária do Conselho Comunitário Urbano Indígena de Campo Grande, onde luta por melhorias, em diferentes áreas sociais, para os indígenas. "Eu sempre representei os indígenas, nunca deixei de representar", declara. 

E quando questionam o fato dela ter saído da aldeia ainda criança, ela responde com outra pergunta: "se você sair do Brasil e ir para outro país, você deixa de ser brasileiro?". 

Kalymaracaya se diz feliz com o momento em que está vivendo, dando um toque gourmet aos pratos que aprendeu na aldeia, e mostrando a riqueza da cultura indígena por onde passa. Quando lembra de todos os nãos que teve de ouvir até ser reconhecida como chef, ela aconselha: "tem que insistir, insistir no sonho porque uma hora vai", finaliza. 

Economia

Dólar cai e Bolsa sobe com expectativas de corte maior nos juros dos EUA

A Bolsa brasileira, diante do novo fôlego, fechou em alta de 0,63%, aos 134.881 pontos

13/09/2024 19h00

O dólar fechou em queda de 0,44% nesta sexta-feira (2), aos R$ 5,709.

O dólar fechou em queda de 0,44% nesta sexta-feira (2), aos R$ 5,709. Marcelo Casal Jr/ Agência Brasil

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O dólar fechou em queda firme de 0,90% nesta sexta-feira (13), a R$ 5,566, com o mercado voltando a debater sobre o tamanho do corte que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) deverá fazer na taxa de juros.

As autoridades da política monetária se reunirão na semana que vem, e os investidores especulam se a redução será de 0,25 ou 0,50 ponto percentual.

As apostas de um corte maior derrubaram o dólar globalmente e fomentaram a busca por ativos de maior risco. A Bolsa brasileira, diante do novo fôlego, fechou em alta de 0,63%, aos 134.881 pontos.

Os ajustes nas previsões sobre a política monetária dos Estados Unidos acontecem poucos dias antes da reunião do Fed que deverá dar início ao aguardado ciclo de afrouxamento nos juros, marcada para 17 e 18 de setembro. A taxa está na faixa de 5,25% a 5,5% desde julho do ano passado -o patamar mais restritivo em duas décadas.

Ao longo da semana, dados de inflação ao consumidor acima do esperado para agosto e números benignos no mercado de trabalho haviam consolidado previsões em torno de uma redução de 0,25 ponto percentual.

Apostas de um corte de 0,50 ponto, porém, voltaram a ganhar espaço entre os operadores. O ex-presidente do Fed de Nova York, Bill Dudley, afirmou que há um forte argumento a favor da redução maior, enquanto veículos de imprensa chamaram a decisão de "apertada".

Na quinta-feira, o corte de 0,25 ponto reunia 87% dos agentes financeiros, segundo a ferramenta FedWatch, com os 13% restantes centrados na redução de 0,50. Agora, as proporções são de 51% e 49%, respectivamente, indicando um mercado dividido.

O Fed trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto os dados de inflação e trabalho para decidir sobre os juros. O objetivo é atingir o chamado "pouso suave", quando índices inflacionários convergem para a meta sem maiores danos à empregabilidade do país.

Um corte de 0,50 ponto permitiria ao Fed retornar os custos de empréstimos a níveis normais mais rapidamente, removendo restrições à economia e protegendo o mercado de trabalho de mais fraqueza.

Por outro lado, poderia gerar interpretações de que o banco central está preocupado com a perspectiva econômica, levando os mercados financeiros a precificar uma redução mais dramática nas taxas a partir da semana.

"Pode-se argumentar por 0,50 ponto, mas as comunicações em torno disso são complicadas e não há uma razão convincente para assumir esse desafio", disse Loretta Mester, que se aposentou como presidente do Fed de Cleveland em junho.
A retomada da incerteza em relação ao tamanho do corte derrubou os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro dos EUA, o que tornou o dólar menos atrativo para investimentos globalmente.

Para o real, outro fator de relevância ainda entrou na conta: a discussão em torno da taxa básica de juros do Brasil, a Selic, atualmente em 10,50% ao ano.

Desde a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em julho, dirigentes do BC (Banco Central) têm reiterado que um novo ciclo de aperto está à mesa para levar a inflação de volta ao centro da meta, caso os dados macroeconômicos indiquem necessidade.

O comitê trabalha com a meta de inflação em 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.

Na terça-feira, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial do país, teve queda de 0,02% em agosto. No acumulado do ano, passou a registrar uma inflação menor, de 4,24% -uma desaceleração dos 4,5% de julho, o teto da meta do BC.

A deflação não reverteu apostas de que a Selic irá subir 0,25 ponto já na próxima reunião do BC, também marcada para os dias 17 e 18 de agosto. A percepção do mercado foi reforçada com dados do setor de serviços, divulgados pelo IBGE na quarta, e vendas no varejo, na quinta.

Já nesta sexta, os dados do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do BC), considerado uma espécie de "prévia" do PIB, mostrou que a economia brasileira recuou 0,4% em julho em comparação ao mês anterior. O resultado marcou perdas em relação a junho, quando houve avanço de 1,4%, mas ainda foi melhor do que a expectativa em pesquisa da Reuters, de queda de 0,9%.

O dado indica "um nível de atividade ainda forte, o que reforça o cenário de alta em 0,25 ponto na Selic", diz Patrícia Krause, economista-chefe para a América Latina da Coface.

Quanto maiores os juros no Brasil e menores nos Estados Unidos, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de "carry trade" -isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.

Na cena corporativa, a Vale subiu 0,67%, mesmo com a desvalorização do minério de ferro na China. Já a Petrobras reverteu os ganhos de mais cedo, com os papéis preferenciais e os ordinários em queda de 0,46% e 0,29%, respectivamente, apesar do avanço do petróleo no exterior.

As ações da petroleira foram afetadas por falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que chamou de "bando de imbecis" aqueles que defendem a privatização da estatal e afirmou que a operação Lava Jato não visava prender corruptos, mas sim desmoralizar a companhia para vendê-la.

Outro destaque do pregão foi a disparada de 22,52% dos papéis da Azul, em meio a notícias de que a companhia aérea estaria perto de chegar a um acordo de reestruturação de dívidas com arrendadores de aviões. A empresa, segundo a agência Reuters, estaria oferecendo ações para pagar cerca de US$ 600 milhões em dívidas.

 

*Informações Folhapress 
 

CONFLITO

PM diz que disparou contra indígenas após ataque com flecha envenenada

Confronto terminou com três indígenas feridos a balas de borracha em Antônio João, onde indígenas ocuparam fazenda e atearam fogo em pontes

13/09/2024 18h32

Conflito resultou em três indígenas feridos; PM diz que agiu em legítima defesa

Conflito resultou em três indígenas feridos; PM diz que agiu em legítima defesa Reprodução: Aty Guasu/Instagram

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A Polícia Militar (PM) afirma que atirou contra indígenas após serem atacados com flechas envenenadas, em Antônio João. O conflito na região ocorreu nessa quinta-feira (12), após proprietários rurais denunciarem que fazendas foram invadidas e pontes incendiadas por indígenas.

Conforme noticiou o Correio do Estado, quando os policiais chegaram, houve confronto e três pessoas, uma mulher e dois homens, ficaram feridas, e uma delas permanece internada no hospital. Os tiros disparados foram com bala de borracha.

Em nota, a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) informou que o fogo foi provocado por alguns indígenas, após deflagrado um conflito na região.

"A Polícia Militar foi chamada pela população, e quando os agentes chegaram ao local, foram recebidos com violência e atacados com flechas envenenadas", diz a nota.

Ainda conforme a Sejusp, os disparos feitos pelos policiais foram em "legítima defesa" e, após o confronto, houve reforço no policiamento, com envio de equipes do Batalhão de Choque, que permanecem no local a fim de evitar novos conflitos, por determinação judicial.

Sobre o incêndio, a secretaria afirma que as chamas destruíram uma área de vegetação nativa e uma ponte da região, que seria o único acesso a diversas propriedades rurais. O fogo foi controlado pelo Corpo de Bombeiros.

Por fim, a Sejusp esclarece que não existe qualquer ordem de reintegração de posse sendo cumprida, nem preparativos.

Conflito

A Assembleia Geral do povo Kaiowá e Guarani, Aty Guasu, denunciou conflitos na aldeia Marangatu, localizada no município de Antônio João.

Em nota, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) informou que a comunidade foi atacada pela Polícia Militar e que, após os eventos, a Força Nacional foi para a região. "Os indígenas resistem cercados na sede da fazenda", diz texto do Cimi.

Segundo o Cimi, a propriedade é a que ainda faltava ser retomada pela comunidade, sendo que a última tentativa ocorreu em 2016. Na ocasião, houve confronto com fazendeiros da localidade.

O conflito resultou na morte, a tiros, de Simião Vilhalva. Na TI Nhanderu Marangatu também foram assassinados Dorvalino Rocha, em 24 de dezembro de 2005, e Marçal Tupã, em novembro de 1983.

Após a tentativa de retomada, a Justiça Federal de Ponta Porã, através de decisão publicada ainda na quinta-feira (12), autorizou a atuação da polícia estadual para proteger a propriedade privada.

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