Cidades

CAMPO GRANDE

Chuva e vento deixam oito casas sem telhado no Vespasiano Martins

Loteamento marcado por irregularidades vive drama com volta das chuvas na Capital

RAFAEL RIBEIRO

11/03/2019 - 17h21
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A chuva que caiu sobre Campo Grande no início da tarde desta segunda-feira (11) pode ter não ter sido um imenso temporal para muitos moradores. Mas no sofrido bairro do Loteamento Vespasiano Martins, na região sul, o dia foi de tristeza.

A chuva de 50 milímetros e com ventos de até 60 quilômetros por hora - segundo a meteorologia - deixou, literalmente, cerca de oito casas do loteamento sem telhado. Em algumas das residências, portas e janelas também não aguentaram.

O fato ocorreu por volta das 14h. A dona de casa Vanessa Carneiro, 20 anos, há sete meses no local, assistia televisão com seu filho, de 2, no sofá. Descansava após o almoço quando veio o forte barulho e viu sua casa ficar com as nuvens carregadas sobre sua cabeça.

"É um susto muito grande, a gente na hora reza, pede a Deus que nada de ruim aconteça. É algo que só via pela televisão", disse à reportagem, ainda tentando entender o que aconteceu, no momento em que era socorrida por vizinhos. Um deles cuidava da criança e lhe oferecia abrigo. O marido corria para pregar sacos de lixo no lugar onde antes haviam as telhas.

Na mesma rua de terra batida e cenário de devastação, com pedaços de portão, cerca, telhas e tudo o que o vento conseguiu carrega, havia gente mais experiente. Caso da também dona de casa Mariua Lúcia da Silva, 56. Há três anos no loteamento, é experiente em ver seu telhado voar com os ventos nas chuvas, por isso preferia o caminho da tranquilidade.

"É esperar eles (Prefeitura) arrumarem. Não tenho o que fazer, não tenho dinheiro para uma reforma", explicou. É a segunda vez que dona Maria Lúcia vê sua casa sem cobertura. A outra foi no ano passado. Desta vez estava na rua quando os vizinhos ligaram avisando do ocorrido. "Cheguei e ainda bem que não estragou nada", disse, cobrindo a televisão, seu bem mais valioso.

A Prefeitura estava tendo trabalho no bairro. Os integrantes da Defesa Civil Municipal estavam em outra rua, ainda avaliandoos imensos estragos na casa de Jéssica Escobar, 28, certamente a mais prejudicada.

Mãe de três filhos, 1, 4 e 6 anos, a cooperada estava trabalhando quando foi informada por vizinhos da tragédia. Ao chegar, encontrou sua casa coberta de destroços do telhado, móveis detonados, o berço do herdeiro mais novo inutilizado e muito barro. As roupas da família foram colocadas em uma lona no quintal, já que o guarda-roupa não existia mais. 

"A gente fica sem chão quando acontece uma coisa dessas", lamentou, ainda abatida pela cena da sua casa completamente danificada, algo que já vira antes nos vizinhos, mas nunca na sua, nos três anos que mora no local. "Agora é aguardar uma definição da Prefeitura. Precisamos de ajuda", disse, depois de levar os filhos para a casa da mãe, no Cidade de Deus, um bairro vizinho.

TRISTEZA

Não é de agora e não é só a chuva que traz tristeza aos moradores do Vespasiano Martins.

O loteamento foi erguido em 2016, na então gestão de Alcides Bernal (PP), para abrigar 42 famílias do Cidade de Deus depois que a Prefeitura acabou com a favela mais famosa de Campo Grande.

Na época, como não havia condições de viver nos imóveis ‘erguidos’ pela Morhar Organização Social, a maioria dos moradores investiu em reformas. Não bastasse o desperdício de dinheiro público, já que a ONG recebeu R$ 2,7 milhões dos R$ 3,6 milhões previstos para construir 326 casas em quatro bairros (Vespasiano, Canguru, Pedro Teruel e Bom Retiro), teve morador que gastou mais de R$ 12 mil para recuperar a moradia. 

Mais dinheiro jogado fora, já que agora a própria prefeitura disse que vai demolir as casas, condenadas porque o terreno do local é úmido e aflorante. 

Conforme mostrou o Correio do Estado (leia mais ao lado), laudo técnico apontou que o lençol freático do terreno onde as casas foram construídas é aflorante, o que coloca em risco a vida das pessoas. 

Uma solução seria rebaixamento da área, o que dispensaria muito mais recursos do que remover as famílias para outro lugar, segundo a Agência Municipal de Habitação (Emha). Sendo assim, as famílias serão removidas, no entanto, data e o local para onde serão levadas ainda não estão definidos. 

A área para a construção das casas que agora serão destruídas foi destinada pela prefeitura, cuja gestão da época é investigada pelo Ministério Público Estadual por improbidade administrativa. Os imóveis foram construídos pela Morhar, que recebeu R$ 2,7 milhões pela obra.

“Se a obra for comprovadamente paga e não executada, deverão sim, responder a processo administrativo e após isso, poderá acarretar em ação judicial”, informou a Agência Municipal de Habitação de Campo Grande na ocasião, que também tem investigado a situação por meio de uma medida alternativa chamada ‘tomada de contas especial’.

A organização é investigada pelo MPE, pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e Ministério Público Federal (MPF).

SAIBA MAIS

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INCERTEZAS

Gigante da celulose recua e engaveta projeto de R$ 15 bilhões em MS

No fim de novembro a Eldorado informou que ampliaria o plantio de eucaliptos em 2026 de olho da duplicação da fábrica. Agora, porém, diz que esse aumento não sairá do papel

20/12/2025 16h50

A Eldorado, dos irmãos Batista, funciona em Três Lagoas desde 2012 e existe a previsão de que sua capacidade aumente em 100%

A Eldorado, dos irmãos Batista, funciona em Três Lagoas desde 2012 e existe a previsão de que sua capacidade aumente em 100%

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Depois de anunciar, no final de novembro, que a partir do próximo ano pretendia ampliar de 25 mil para até 50 mil hectares o plantio anual de eculiptos na região de leste de Mato Grosso do Sul, a indústria de celulose Eldorado deixou claro nesta semana que engavetou, pelo menos por enquanto, o projeto de expansão. 

Com o recuou, a empresa, que produz em torno de 1,8 milhão de toneladas de celulose por ano, deixa claro que está adiando a prometida duplicação de capacidade de produção da Eldorado, o que demandaria investimentos da ordem de R$ 15 bilhões US$ 3 bilhões), conforme anunciado em abril do ano passado pelos irmãos Joesley e Wessley Batista, donos da empresa. 

Em entrevista ao site AGFeed, especiliazado em agronegócio, o diretor florestal da Eldorado, Germano Vieira, afirmou que a empresa tem atualmente 305 mil hectares de pantações de eucaliptos na região, mas precisa de apenas dois terços disso para abastecer a fábrica. 

Ou seja, a empresa tem em torno de 100 mil hectares de eucaliptos sobrando e este excedente está sendo vendido ou permutado com a Bracell e a Suzano, que opera duas fábricas do setor na região, em Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo. 

Então, caso o comando da Eldorado decida desengavetar repentinamente o projeto da duplicação,  já existe um excedente que seria capaz de abastecer a segunda unidade no período inicial, mesmo que não ocorra o início do plantio extra a partir de 2026, explicou Germano Vieira.

Atualmente são colhidos em torno de 25 mil hectares por ano para abastecer a indústria e o mesmo tanto é replantado, fazendo um giro para que sempre haja florestas "maduras".

São necessários, em média, sete anos para que a planta chegue ao estágio de corte e por conta disso havia a programação de começar o plantio agora (2026) para que houvesse matéria-prima suficiente quando a ampliação da fábrica estivesse concluída. Em três anos é possível fazer a ampliação da indústria, acredita Germando Vieira.  

Uma das explicações para o recuo, segundo a reportagem do AGFeed, é que a Eldorado ainda têm uma série de ajustes financeiros a serem feitos depois que os irmãos Batista conseguiram, em maio deste ano, fechar um acordo e colocar fim a batalha judicial com a Paper Excellence.

Para retomarem o controle total da Eldorado, que funciona em Três Lagoas desde 2012 e havia sido vendida parcialmente em 2017, eles se comprometeram a pagar US$ 2,640 bilhões à canadense Paper, que detinha pouco mais de 49% das ações do complexo industrial.  

Para duplicar a produção, segundo Germando Vieira, serão necessários 450 mil hecteres de florestas. Para chegar a esse montante, a empresa teria que arrendar mais 150 mil hecteres, o que demandaria um investimento da ordem de R$ 180 milhões anuais, já que o arrendamento custa em torno de R$ 1,2 mil por ano por hectare. 

Além disso, somente para o plantio de 25 mil hectares anuais a mais, conforme chegou a ser anunciado, seriam necessários em torno de R$ 220 milhões extras no setor florestal por ano, uma vez que o custo do plantio está na casa dos R$ 8,7 mil por hectare. E isso sem contabilizar os custos com o combate a pragas e combate a incêndios, entre outros. 

No final de novembro, Carlos Justo, gerente-geral florestal da Eldorado, chegou a informar ao site The AgriBiz que 15 mil hectares já haviam sido arrendados para dar início à ampliação do plantiu a partir do próximo ano. 

Preços da celulose

Embora Germano Vieira diga que a demanda mundial por celulose cresça em torno de um milhão de toneladas por ano e por conta disso a Eldorado mantem viva a promessa da duplicação, a empresa pisou no freio em meio à queda nos preços mundiais e ao aumento da oferta. 

Neste ano, o faturamento das três fábricas de Mato Grosso do Sul literalmente despencou. Por conta da ativação da unidade de Ribas do Rio Pardo, que tem capacidade de até 2,55 milhões de toneladas por ano, as exportações de Mato Grosso do Sul aumentaram em 57% nos dez primeiros meses de 2025, passando de 3,71 milhões de toneladas para 5,84 milhões de toneladas. 

Porém, o faturamento cresceu apenas 25,6%, subindo de U$ 2,121 bilhões para U$ 2,665 bilhões. No ano passado, quando a cotação da celulose já não estava nos melhores patamares, o valor médio da tonelada rendeu 570 dólares aos cofres das três indústrias. Neste ano, porém, elas tiveram rendimento médio de apenas 456 dólares, o que representa queda de 20%. 

Em decorrência desta queda nos preços, as indústrias deixaram de faturar em torno de 666 milhões de dólares, ou algo em torno de R$ 3,6 bilhões na moeda local, nos dez primeiros meses deste ano. 

Por conta disso, a Suzano, concorrente da Eldorado, chegou a emitir um alerta no começo de novembro dizendo que os preços internacionais estavam "completamete insustentáveis" e por isso estava reduzindo sua produção em cerca de 3,5%. 

O alerta da Suzano foi feito durante a prestação de contas relativa aos resultados do terceiro trimestre da empresa. E, segundo Leonardo Grimaldi, diretor do negócio de celulose da Suzano, a situação é crítica e “o setor está sangrando há meses”. 

Mas, apresar deste cenário de apreensão, investimentos da ordem de R$ 25 bilhões estão a todo vapor em Inocência, onde a chilena Arauco está instalando uma fábrica que terá capacidade para colocar 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano a partir do final de 2027. 

Outra empresa, a Bracell, pretende começar, em fevereiro do próximo ano, em Batagussu, as obras de uma fábrica que terá capacidade para 1,8 milhão de toneladas por ano. Os investimentos previstos são da ordem de R$ 16 bilhões. 


 

MATO GROSSO DO SUL

Em pleno período de chuvas, Hidrelétrica Porto Primavera reduz vazão

Com a barragem mais extensa do País (10,2km), redução segue determinação emitida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e havia sido anunciadano último dia 12, como medida para garantir a "segurança energética" brasileira

20/12/2025 14h14

Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera

Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera Reprodução/Cesp

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Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera, a unidade começou nesta sexta-feira (19) através da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) a redução da vazão, para preservar os estoques de água dos reservatórios da bacia do Rio Paraná. 

Com a barragem mais extensa do País (10,2 km), essa redução segue determinação emitida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e havia sido anunciada pela Cesp no último dia 12, prevista para começar ainda em 15 de dezembro, como medida para garantir a "segurança energética" brasileira. 

"O patamar mínimo defluente será reduzido de forma gradual e controlada, passando dos atuais 4.600 metros cúbicos por segundo para 3.900 m³/s, seguindo diretrizes operacionais do ONS", cita a Cesp em nota. 

Além disso, a Companhia frisa que, durante o processo, será mantido o plano de conservação da biodiversidade que havia sido aprovado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), e teve início em maio deste ano, para monitoramento do Rio Paraná justamente nos trechos da jusante - parte rio abaixo - da Porto Primavera até a foz do Ivinhema. 

Ou seja, entre outros pontos, equipes embarcadas formadas por biólogos e demais profissionais especializados, devem trabalhar como os responsáveis por acompanhar a qualidade da água, bem como a conservação e comportamento dos peixes locais enquanto durar a flexibilização da vazão. 

Importante frisar a redução adotada também ao final de novembro (24/11) e mantida até 1° de dezembro, a partir de quando houve a retomada gradativa aos patamares originais. 

Problemas com a vazão

Em épocas passadas, como bem acompanha o Correio do Estado, o controle da vazão em Porto Primavera já trouxe prejuízo e revolta de produtores que chegaram a culpar a ONS pelas fazendas alagadas por mais de quatro meses em Batayporã no ano de 2023, por exemplo. 

Nessa ocasião, o problema começou com a abertura das comportas de Porto Primavera no dia 18 de janeiro de 2023, com a usina avisando a Defesa Civil de Batayporã da liberação de até 14,7 mil metros cúbicos de água por segundo. 

Sendo a maior vazão desde o começo do período chuvoso, as águas se somaram ainda à liberação dos cerca de 3 mil metros cúbicos por segundo do Rio Paranapanema, juntando em torno de 18 mil metros cúbicos por segundo. 

Na linha cronológica em 2023, o problema dos alagamentos começou no final de janeiro, indo até o mês de abril diante do fechamento das comportas em 31 de março. 

Quando a água já havia recuado, saindo de boa parte dos nove mil hectares alagados, as comportas foram reabertas na terceira semana de abril, com vazão máxima de dez mil metros cúbicos.

Depois, o aumento da vazão para até 13 mil metros cúbicos chegou a alcançar 14,7 mil m³, sendo que antes disso o volume anterior já havia sido responsável por invadir casas de moradores locais pela terceira vez no ano. 

Estimativas da Defesa Civil de Batayporã à época apontaram que pelo menos sete mil animais tiveram de ser remanejados na região por causa do mesmo problema. E, mesmo depois que a água baixar, são necessários de dois a três meses para que o pasto cresça e esteja em condições para alimentar os rebanhos. 

 

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