Há mais de dois anos vivendo debaixo de lona, a maior parte das famílias removidas da antiga favela Cidade de Deus para o bairro Bom Retiro ainda vai demorar para ver a casa construída. Para os próximos dois meses estão previstas a entrega de apenas 40 residências de um total de 128. As obras foram viabilizadas por um convênio entre o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e o pefeito de Campo Grande, Marcos Trad (PSD), porém dois meses depois de anunciado pouca coisa mudou no local. Ambos visitaram o local ontem à tarde.
O Bom Retiro é um dos três desmebramentos daquela que era considerada a maior favela da Capital. Os outros estão nos bairro Pedro Teruel/Dom Antônio Barbora, Canguru e Vespasiano Martins. Em setembro do ano passado, o governo anunciou a liberação de R$ R$ 4.898.507,12 para que a prefeitura comprasse material de construção para levantar 328 casas para estas famílias. Entretanto, há apenas dois meses as obras tiveram início. Ontem, parte do material foi entregue no Bom Retiro. De acordo com o prefeito Marcos Trad, os moradores tiveram de passar por qualificação para construirem a própria casa, sob orientação da administração municipal. A justificativa para a demora para o início das obras está justamente nesse processo. “Nesse período será pago um salário mínimo para cada um e auxílio alimentação”. Não foi dado prazo para entrega de outras unidades.
O governo do Estado liberou R$ R$ 4.898.507,12 para que a prefeitura de Campo Grande compre material de construção para que 325 casas dos antigos moradores da favela Cidade de Deus sejam erguidas e finalizadas.
O ritmo das obras é a maior preocupação dos moradores. Quem passa pelo local, vê que pouca coisa mudou nos últimos três meses. “Aqui é projeto tartaruga”, brinca o morador Fernando Cesar Duarte, 46 anos.
Ele foi contemplado como um dos primeiros a receber as equipes que vão concluir as residências inacabadas após o desaparecimento da Organização Não-governamental (ONG) Mohrar, que firmou parceria para realizar o serviço para a Prefeitura de Campo Grande em 2016.
No entanto, a alternativa da atual administração não tem agradado quem já cansou de esperar. “Era para acabar em seis meses, mas pelo visto não vão conseguir. São muitas casas para fazer e até agora eles só fizeram 20 e nem começaram os baldrame”, explica.
De acordo com Fernando há bastante pedreiro na obra, mas falta agilidade. “Esperamos que pelo menos façam bem feito”. O vizinho, Rafael Gonçalves, 25 anos, também não acredita que finalmente terá sua casa erguida. “Parece que está saindo. Mas da outra vez também começaram e pararam. Vamos ver se vão concluir”.
Conforme informações que recebeu dos trabalhadores a meta é concluir ao menos 40 casas das duas quadras iniciais do bairro até agosto. “Vejo que eles não têm estrutura para trabalhar. Tem muita gente para a obra, mas não tem ferramenta suficiente”, revelou.
No local apenas buracos enormes foram feitos para a implantação das foças. Alguns desenhos da fundação de algumas moradias também foram feitos. E só. A Prefeitunão respondeu até o fechamento da reportagem sobre as alterações dos cronogramas das obras.
Enquanto isso, em outros bairros há moradores cansados de aguardar e já vendendo o local. Quem tem um pouco mais de recurso consegue dar uma melhorada nas condições de infraestrutura, já que estavam inacabadas. Mas a grande maioria saiu de um barraco para morar em outro.
“Vem chuva, vem frio e a lona não aguenta. Vivemos em situação de abandono. O sapo quer expulsar nós do barraco para ficar dentro. Saímos da favela para ficar no meio do mato. Aqui atrás vira esconderijo de bandido e usuários de drogas”, disse a desempregada Rosamara Galarça, 44 anos que mora no José Teruel II.
Outros criticam a atual gestão por não ter contratado uma empreiteira para concluir as residências, assim o serviço seria mais ágil. “Acho que em 45 dias terminariam isso aqui. Esse negócio de contratar pessoas daqui é só para preencher formulário de prestação de conta. Tem trabalhador que falta o mês inteirinho e recebe do mesmo jeito”, denuncia outra, que não quis se identificar.
No bairro Jardim Canguru, a reportagem reencontrou seo Silvan Alves de Amorim, 66 anos. Sentando no mesmo toco que estava em abril deste mês, em frente de casa, ele disse que tudo continua do mesmo jeito. “O negócio é ter paciência. Enquanto isso nós vamos vivendo no barro por aí”.
VESPASIANO MARTINS
Único bairro a ter 42 casas totalmente construídas pela ONG Mohrar, o Vespasiano Martins tinha novidades incertas. Os moradores receberam no último dia 30 uma mensagem de áudio do diretor-presidente da Agência Municipal de Habitação (EMHA), Enéas José de Carvalho Netto, no grupo de WhatsApp.
Nela havia mais um recado de dúvidas sobre o futuro das famílias que estão sobre um lençol freático do local é aflorante. “O que pode acontecer é o rebaixamento do lençol e para resolver a questão da drenagem precisaria de recurso do governo municipal e da Agesul (estadual). Como vocês serão os últimos a receber as equipes de obras vamos iniciar estudo porque não é algo rápido”.
No entanto, ele não descartou a retirada das pessoas do local, já que está trabalhando com várias alternativas. “Vocês precisam manter a calma”, recomendou. A moradora Rosângela ximenes, 32 anos, agora espera sem prazo determinado o que será do futuro da sua moradia. “Ele não descartou a possibilidade de sairmos daqui. Fica complicado, porque queremos arrumar a casa e não sabemos o que pode acontecer amanhã”.
HB20 foi atingido por outro veículo que tentava ultrapassagem (Foto: Gerson Oliveira / Correio do Estado)


