A defesa de Willian Enrique Larrea e Thiago Giovanni Demarco Sena, acusados de matar Wesner Moreira, de 17 anos, em 2017, após inserir uma mangueira de ar no ânus do adolescente, solicitou ao júri que mostrasse, durante julgamento, vídeos de pegadinhas envolvendo mangueira de ar como prova de que a morte de Wesner foi causada por um ato que eles dizem ser "brincadeira".
No documento, o advogado lista quatro vídeos, um deles de pegadinha do Silvio Santos, todos disponíveis no YouTube.
"Thiago Giovanni Demarco Sena e Willian Enrique Larrea, vêm, muito respeitosamente (...), com fundamento no artigo 479 do Código de Processo Penal, requerer a apresentação no plenário do Júri de vídeos públicos disponíveis no Youtube que demonstram brincadeiras envolvendo ar comprimido", diz documento enviado ao Juiz da 1ª Vara do Tribunal do Juri da comarca de Campo Grande.
O julgamento, em que Thiago e William são acusados de assassinato, acontece nesta quinta-feira (30), seis anos após a morte de Wesner, em 2017.
Durante depoimento, os acusados tentaram, como estratégia de defesa, passar a ideia de que tudo não passava de uma brincadeira.
"Eu com a mangueira na mão, em tom de brincadeira falei 'de novo você fazendo isso Wesner'. Peguei e direcionei a mangueira na bunda dele por cima do short, com ar do compressor aberto, que eu já vinha usando, encostei, pressionei por nem três segundos", disse Thiago Giovanni Demarco Sena, primeiro a prestar depoimento.
"Na hora ele reclamou e pediu para parar, falou que tava doendo, na hora eu desliguei a mangueira", acrescentou.
Ainda segundo o réu, todos eram amigos e nunca tiveram desavença. Ele acrescentou ainda que não era a primeira vez que brincavam com a mangueira, direcionando o jato de ar para o rosto ou outras partes do corpo.
Na sequência, Thiago Giovanni Demarco Sena relatou que Wesner vomitou várias vezes e reclamava de dor. A barriga da vítima estava inchada, e os dois réus o levaram ao posto de saúde.
O outro acusado, Willian Enrique Larrea também afirmou que o caso se tratou de uma brincadeira que deu errado.
"A gente sempre se deu bem, a gente sempre brincou. A gente nunca teve maldade, sempre jogava bola, nunca passou na minha cabeça machucar ninguém, nunca tive maldade com ninguém", afirmou.
Diferentemente de Thiago, Willian afirmou que sabia que havia perigo com o compressor de ar de causar danos quando direcionado nos olhos, ouvido e boca, mas que não sabia que havia risco de machucar ou matar o rapaz.
"Foi questão de segundos. Era uma brincadeira, a gente sempre brincou, era sempre rindo", disse.
Brincadeira? Se sim, de mau gosto e fatal
O crime ocorreu em um lava-jato na Vila Morumbi, no dia 3 de fevereiro de 2017. O patrão e um colega de trabalho de Wesner teriam introduzido uma mangueira de ar no ânus do adolescente.
Segundo boletim médico, divulgado na época, a vítima perdeu parte do intestino grosso, e complicações no esôfago - que ocasionaram perda de líquido e sangue - resultaram em sua morte, 12 dias após sua internação na Santa Casa de Campo Grande.
Em 2018, o juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida decidiu que os acusados não iriam a responder por homicídio doloso e, desta forma, não seriam mandados a júri.
Segundo ele, o crime doloso não teria ocorrido, devido a ter ficado comprovado, em depoimentos de familiares, que acusados e a vítima eram amigos e o caso teria decorrido de uma “brincadeira”, devendo os dois responderem por outro crime, que não doloso contra a vida.
O Ministério Público Estadual (MPMS) recorreu, pedindo a reforma da sentença de pronúncia para que os réus respondessem por homicídio doloso, sendo submetidos ao Tribunal do Júri.
Em junho de 2019, desembargadores da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul deram provimento ao recurso.
Durante o decorrer do processo, houve controvérsias em relação ao posicionamento da mangueira. Informações iniciais da Polícia apontavam que a mangueira não havia sido introduzida no ânus do rapaz, e os acusados e algumas testemunhas também afirmam que foi colocada por cima da roupa. No entanto, outras testemunhas, como um dos médicos que atenderam Wesner, afirmam ter ouvido o adolescente dizer que a mangueira foi introduzida nele.
Com informações de Naiara Camargo


