Cidades

MEMÓRIA

'Delegado mais famoso do Brasil' veio ver crime que quase atrapalhou criação de MS

Temido, Fleury foi a solução para acalmar crise política

RAFAEL RIBEIRO*

14/02/2019 - 18h30
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ACONTECEU EM 1978...

Sérgio Paranhos Fleury.

Desconhecidos para alguns, para muitos o nome desse fluminense de Niterói, nascido em maio de 1933, é mais do que conhecido.

Pudera. Delegado Fleury, alcunha pela qual entrou para a história fez fama. À frente do Departamento de Ordem e Proteção Social (Dops) de São Paulo por mais de dez anos foi um dos maiores e mais temidos agentes da repressão imposta pelo regime militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985.

Delegado desde 1966, Fleury chegou ao Dops dois anos depois e fez história por todo o Brasil na primeira operação em que pariticpou: participou da prisão de cerca de 1.000 estudantes da União Nacional dos Estudantes (UNE) em congresso clandestino realizado em Ibiúna (SP), na qual lideranças esquerdistas como José Serra e José Dirceu acabaram detidos pelo regime.

Meses depois, já em 1969, Fleury ganhou mais pontos com os militares ao esquematizar e executar o plano de captura do lider comunista Carlos Marighella, acusado de terrorismo, que acabou morto em suposta troca de tiros com o delegado e sua equipe na região central de São Paulo (SP).

Sem Marighella, espécie de guru dos guerrilheiros esquerdistas daqueles tempos, foi novamente manchete em todo o País ao desarticular inúmeros 'aparelhos', como eram chamadas as bases clandestinas de reuniões dos comunistas.O mais famosos deles foi o da Lapa, bairro da zona oeste paulistana, na qual cinco pessoas foram mortas e dois policiais baleados, naquele mesmo ano.

HISTÓRICO

Bom dia, boa tarde, boa noite...

Tá certo caro leitor, eu sei que você deve estar se perguntando: onde esse escriba quer chegar? O que isso tem a ver com o Mato Grosso do Sul?

Pois bem, desde que a MEMÓRIAS DO CORREIO entrou no ar, nossa missão é resgatar fatos históricos publicados em nossas páginas, quase sempre traçando um paralelo com o ambiente histórico da época.

E se eu contasse para você que as histórias de Fleury e da divisão do Estado em algum momento se cruzaram? Pois bem, como acho que nem nas suas aulas de história a professora falou, essa você só vai ficar sabendo aqui mesmo...

DIVISÃO PACÍFICA, SÓ QUE NÃO

E eis que para nosso espanto, no dia 15 de fevereiro de 1978 o Correio do Estado estampava em sua manchete: "Delegado Fleury chega hoje para investigar morte de Levy Campanhã"     

Vamos aos fatos. Meses após o presidente Ernesto Geisel assinar a famigerada 'Lei da Divisão' que criou o Mato Grosso do Sul, um crime abalou as estruturas do então último governo do estado unificado: Levy Campanhã de Souza, então assessor da Casa Civil mato-grossense, foi morto a tiros durante o trajeto de uma viagem a Campo Grande, em 24 de dezembro de 1977.

A ironia pelo lado sulista e a temeridade pelo lado nortista: Campanhã era divisionista e o objetivo de sua viagem era apresentar dados ao comitê instaurado por Geisel para a criação do nosso Estado, cuja máquina entraria em funcionamento de vez no ano seguinte. 

Da data do crime, na véspera de Natal, até a manchete do Correio, as trocas de acusações e teorias se tornaram frequentes em meio ao não encontro de um mísero suspeito, sempre envolvendo a motivação política do caso. No sul, falava-se que o mando tinha sido de deputados insatisfeitos com a divisão. Um crime desses poderia deover o presidente da ideia da divisão. 

No norte, o então governador Garcia Neto, publicamente contrário à divisão, falava em "golpe contra sua gestão", cobrou publicamente os policiais da então futura capital pela demora em uma solução para a execução e ameaçava pedir ajuda para autoridades de outros estados.

O estopim veio no início de fevereiro, quando Neto criticou o então chefe da Polícia Civil campo-grandense, Aloysio Franco de Oliveira, por ter tirado férias em meio a um "caso de tamanha complexidade." Avisado por subalternos dos planos de colocar a investigação a cargo de um forasteiro, o delegado agiu. E na volta do Rio de Janeiro, onde nascera, trouxe na bagagem o amigo Fleury.

AUTÓPSIA DO MEDO    

Antes de prosseguirmos, vamos voltar de novo no tempo.

Pela sua participação nas ações desenvolvidas pelas Forças Armadas do Brasil durante a chamada "guerra subversiva", foi condecorado pelo Exército Brasileiro com a Medalha do Pacificador e pela Marinha do Brasil com a de Medalha Amigo da Marinha.

Mas a fama do outro lado de Fleury crescia na mesma proporção. Vários depoimentos, testemunhas e relatos de presos políticos apontam que, sistematicamente, o delegado torturava as pessoas durante os interrogatórios que comandava. Vários dos militantes capturados por ele não resistiram às torturas e morreram. 

Ao contrário dos métodos do Exército, empregados na repressão aos movimentos subversivos nos demais estados brasileiros, que copiavam modelos empregados pela França e pelos EUA na luta contra a insurgência, envolvendo equipamentos sofisticados e até o uso de satélites, Fleury adotou a inversão dessa tática. 

Um artigo, publicado na revista Veja de 12 de novembro de 1969, ressaltava que o sucesso de Fleury no combate à luta armada da esquerda se deveu à sua experiência no combate aos criminosos comuns. Para ele, a motivação política era secundária. "Um assalto a banco, praticado por um subversivo, deveria ser investigado como um assalto comum. O subversivo que roubasse um automóvel deveria ser procurado como qualquer "puxador", disse. 

A tática usada no cerco a Carlos Marighella foi a mesma empregada na captura de bandidos comuns. A revista, entrevistando um delegado do Dops paulista, obteve a seguinte informação: "quando a gente prende um malandro, ladrão ou assassino, enfim um bandido, e a gente sabe que ele tem um companheiro, obrigamos o preso a nos levar até o barraco onde o outro mora. O bandido vai lá, bate na porta, o outro pergunta: "quem é?', e o bandido responde: "sou eu". O camarada abre a porta e entram dez policiais junto com o bandido". "Foi assim que Fleury obteve sucesso no combate à subversão: em cada dez diligências, sete eram proveitosas."

Com o fim da 'luta armada' pela esquerda, presa, morta ou exilada, Fleury e seu Dops foram guiados para a contravenção. No caso do delegado, restou o envolvimento com o famoso Esquadrão da Morte, que executava suspeitos de crime sem sequer levá-los ao sistema judiciário, e o tráfico de drogas.

Sobre essa última atribuição, uma curiosidade. Em outubro de 1969, Fleury e sua equipe foram chamados por um comerciante financiador do Esquadrão da Morte que estranhou a movimentação constante de jovens em um prédio residencial vizinho a seu bar na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, em São Paulo (SP). Ao subir no telhado, observou moças seminuas e o consumo de cigarros suspeitos. Quando o temido delegado chegou, a surpresa: era o estúdio de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, que filmava o seu polêmico 'Ritual dos Sádicos', filme quase que desconhecido do diretor que trata sobre o consumo de drogas. Fleury gostou tanto da ideia que topou o convite para gravar cenas em que aparece demonstrando a 'luta policial contra os tóxicos.' Nada adiantou para comover a censura federal, que proibiu totalmente o filme, lançado comercialmente só em 1987, após a redemocratização do País, já rebatizado de 'O Despertar da Besta'.

Fleury em cena de 'Ritual dos Sádicos', o mais polêmico filme de Zé do Caixão, banido totalmente pela Censura no Regime Militar

O COMEÇO DO FIM

Desde sua posse na Presidência, Geisel colocou em andamento o processo que chamou de "abertura lenta, gradual e segura." Isso envolvia, entre outras coisas, domar a linha dura do regime que insisita nos fantasmas da ameaça comunista e defendia a permanência do estado de exceção.

Mas o presidente se manteve firme m seu próposito. Em 1976, acabou com o temido AI-5, que dava plenos poderes ao Governo para prender e cassar mandatos de oposicionistas. No ano seguinte, horas depois de dividir o Mato Grosso do Sul, demitiu o então ministro da Guerra Sylvio Frota, uma pedra no sapato da redemocratização, que ameaça golpear Geisel e interromper a abertura. Foi a vitória da República, como ficou conhecida a afirmação, pela primeira vez em anos, do poder republicano sobre as tramoias da caserna militar brasileira.

Geisel, que nunca fora dos porões nos anos de chumbo, tinha motivos muito mais que humanitários para acabar com o sistema repressivo do Estado. O mundo mudara desde os anos 1960. A imprensa estrangeira e as organizações dos Direitos Humanos apresentavam a atuação dos agentes de repressão e do Esquadrão da Morte como a banditização do regime.O Palácio do Planalto teve a ideia de trocar tudo por um golpe publicitário e anunciou que os agentes do crime seriam punidos, o que mereceu o primeiro editorial do The New York Times favorável ao Governo desde 1964. Mais do que o barulho, gestões como a do democrata Jimmy Carter nos EUA chamavam o Brasil de ditadura escancaradamente e ameaçavam sanções econômicas.

Com isso, iniciou-se a perseguição aos torturadores, Fleury entre eles. Desde 1968 Fleury vinha sendo investigado por seu envolvimento com o tráfico de drogas e por ter metralhado Domiciano Antunes Filho, conhecido com Luciano, a mando de um traficante de drogas rival, José Iglesias, conhecido como Juca.Em função desse crime, em 1973 teve sua prisão preventiva decretada,mas foi beneficiado por uma alteração no Código de Processo Penal decretada pelo então presidente do Regime Militar, Emílio Garrastazu Médici, sob a forma da Lei 5.941, que facultava a liberdade aos réus primários e com residência fixa. A lei passou a ser conhecida como Lei Fleury e considerada uma vergonha jurídica pelos especialistas. 

Também foi investigado e denunciado pelos promotores de Justiça Hélio Bicudo (um dos fundadores do PT) e Dirceu de Mello por supostos assassinatos praticados pelo Esquadrão da Morte. O delegado foi apontado como o principal líder da milícia, posto que não fazia muita questão de esconder, pois se apresentava exatamente dessa forma a colegas policiais, com a promessa de para cada policial morto, matar dez bandidos.

Um dos casos, misturando impunidade com onipotência, ocorreu em 17 de junho de 1970, quando acompanhado por nove comparsas, entrou no Presídio Tiradentes, na capital paulista, de onde retirou cinco presos. Fleury buscava vingar a morte de um policial assassinado horas antes por Adjovan Nunes, o Guri. Horas depois os cinco presos eram mortos em Guarulhos (SP), outros cinco presidiários foram mortos nas horas seguintes, até que Adjoan foi achado morto em um matagal em Itaquera (SP) com 150 tiros.

Apesar da iniciativa federal e da predisposição do judiciário paulista, o Governo de São Paulo foi contra: o governador Abreu Sodré formou uma comissão tendo o general Luís Felipe Galvão Carneiro da Cunha, um ex-torturador, como presidente. Mesmo assim, Hélio Bicudo conseguiu acusar dois investigadores e um informante, além de apontar a ligação de Fleury com o tráfico de drogas e ter fotos dele antes da emboscada de um bandido em Guarulhos, fornecidas por um padre canadense.

Fleury teve sua prisão pedida, o STF negou um habeas corpus e a reação da ditadura foi imediata: o padre canadense foi empurrado de cima da torre da igreja, mas sobreviveu. Bicudo foi afastado do inquérito e ameaçado pela Receita Federal. Bicudo havia identificado 41 execuções e Fleury estava envolvido em 22.

POUCA PRODUTIVIDADE

É nesse cenário, de acusado e rebaixado do extinto Dops de São Paulo (fechado no início daquele ano) para um cargo burocrático do Departamento Estadual de Investigações Criminais daquele Estado, que Fleury desembarcou em Campo Grande.

"Fleury já analisou crime de Campanhã", diz uma chamada na capa do Correio do dia 17 de fevereiro de 1978.

Na reportagem publicada na página 2, um bem humorado Fleury trazera junto com as malas e dois investigadores um suspeito de ter cometido crime em Coxim. No discurso, insistiu que viera apenas visitar amigos. 

"O meu governador é outro. Trabalho num órgão do Governo do estado de São Paulo e para atender o convite do governador de Mato grosso eu precisaria do aval do meu, Paulo Egydio Martins", disse o famoso delegado, negando outros boatos, como o pedido de um político local para que se investigasse outros crimes, como ameaças de sequestros de seus familiares.

Segundo o Correio, Fleury pouco saiu do hotel em que ficou hospedado. Quando o fez, foi para almoçar. No texto, informações de que pudera estar estudando o inquérito do caso que supostamente teria vindo solucionar.

Na verdade, contudo, muita briga interna. O próprio jornal escancara a desconfiança e até certo ponto incômodo com a presença dos policiais paulistas. Muitos desdenhavam do que Fleury poderia fazer e consideravam "sorte" o colega famoso desvendar o que fosse.

HISTÓRIA SEM FIM

Os policiais locais estavam certos. Dois dias da última chamada sobre o asusnto, o Correio estampava em sua capa o pedido de prisão de Fleury feito pelo Ministério Público de São Paulo, revelando que a viagem poderia ter interesses particulares mesmo, como plano de fuga do "delegado mais famoso do Brasil", como é chamado por seu biógrafo, o hoje jornalista da 'TV Record', Percival de Souza, autor de 'Autópsia do Medo'.

Seja como for, Fleury jamais cumpriu pena, mesmo depois de condenado. Beneficiado pela Lei da Anistia, que revogou crimes à direita e à esquerda das pessoas envolvidas na luta armada na ditadura, morreu em 1º de maio de 1979 por afogamento, segundo a sua mulher, Maria Izabel Oppido, presente em sua lancha naquela madrugada. Seu corpo foi sepultado sem ter sido necropsiado, o que gerou comentários de que ele teria sido assassinado pela esquerda como vingança ou como "queima de arquivo" pelos seus antigos colaboradores da ditadura.

Em 'Memórias de uma Guerra Suja', publicado pelo ex-delegado do Dops do Espírito Santo Cláudio Antônio Guerra, que assume a condição de um ex-agente da repressão aos opositores da ditadura militar, Fleury teria sido assassinado por ordem dos próprios militares. 

Segundo Claudio Guerra, "o delegado Fleury tinha se tornado um homem rico desviando dinheiro dos empresários que pagavam para sustentar as ações clandestinas do regime militar e não obedecia mais a ninguém, agindo por conta própria". Ainda segundo Guerra, "Fleury teria sido dopado e levado uma pedrada na cabeça antes de cair no mar, fato que justificaria a estranha ausência da necrópsia do cadáver".

O delegado Fleury era conhecido e temido publicamente no Estado de São Paulo como agente apoiador da ditadura, torturador e assassino de opositores ao regime militar. Assim, quando sua morte foi anunciada pelo jornalista Juca Kfouri no famoso Comício do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC no estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo (SP), ainda durante o 1º de maio, a notícia de sua morte foi supostamente festejada e efusivamente aplaudida por aproximadamente 100 mil pessoas.

Assunto proibido até hoje, sua morte nunca foi devidamente esclarecida pelos órgãos de segurança de São Paulo. Tampouco a de Campanhã, cujo inquérito fora arquivado em 1982, após ausência total de provas. Fleury ao menos em 2017 quase foi homenageado em bloco de carnaval organizado por movimentos de extrema-direta nas ruas de São Paulo (SP), mas que teve a realização suspensa pela Justiça.

*SOBRE O AUTOR: Rafael Ribeiro é jornalista desde 2004, graduado pela Faculdade Cásper Líbero (SP). Paulistano, mora em Campo Grande desde 2016 e também é graduado em História pela Universidade de São Paulo, com mestrado em Estudos Brasileiros pela Fundação Escola Paulista de Sociologia e Política de São Paulo.

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baixa adesão

Fundo Pantanal indeniza desde banqueiro a gigante do Agro

Mas, o Programa que disponibilizou R$ 40 milhões está repassando aos proprietários pantaneiros menos de 10% do previsto para 2025

13/12/2025 12h30

O tuiuiú é considerada a ave-símbolo do Pantanal, mas também pode ser encontrada bem longe deste bioma

O tuiuiú é considerada a ave-símbolo do Pantanal, mas também pode ser encontrada bem longe deste bioma Bruno Rezende/Secom

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Na lista dos 45 proprietários de terras do Pantanal que receberão recursos do Fundo Clima Pantanal, um programa que indeniza fazendeiros que preservam áreas mais amplas do que aquilo que determina a legislação, aparecem desde fazendeiros tradicionais a banqueiros e gigantes do agronegócio.

Mas, conforme publicação do diário oficial do Governo do Estado desta sexta-feira (12) a adesão ficou abaixo do esperado e menos de 10% das verbas disponíveis serão distribuídas no primeiro ano do programa, criado principalmente para combater o desmatamento.

Entre os contemplados, com R$ 100 mil, está Tereza Bracher, esposa do ex-presidente do Itaú Unibanco, Cândido Bracher. A família vair receber a indenização por estar preservando em uma de suas fazendas pantaneiras quase seis mil hectares acima do estipulado pela legislação. 

Com patrimônio estimado na casa dos R$ 15 bilhões, Cândido Bracher foi CEO do Itaú Unibanco entre abril de 2017 e janeiro de 2021. Atualmente,  hoje é integrante do Conselho de Administração da instituição financeira, que fechou 2024 com lucro de R$ 40 bilhões. 

E a banqueira ainda buscou indenização em uma segunda fazenda no Pantanal,  mas foi desclassificada por ter sido enquadrada no item 8.6 das normas que regulamentam a distribuição dos R$ 40 milhões do Fundo.

Este item diz que não pode ser contemplado que  estiver com irregularidades no Cadastro Ambiental Rural (CAR) ou por estar com passivos ambientais não declarados ou que não estejam cumprindo termos de compromisso de recuperação de áreas degradadas.

Em maio deste ano o Ministério Público abriu investigação para apurar suposta omissão do banqueiro em um megaincêndio que destruiu mais de 52 mil hectares em julho de 2024 no Pantanal da Nhecolândia. O fogo teria começado na Fazenda Tupanceretã, de 25 mil hectares, pertecence à família. 

Tereza Bracher também aparece como contemplada indireta em uma outra propriedade. Ela é uma das integrantes da Associação Onçafari, entidade que vai receber pouco mais de R$ 45 mil de indenização pela preservação de 824 hectares de vegetação nativa.

Esta associação, que adquiriu milhares de hectares no Pantanal para criar uma espécie de corredor ecológico que possibilite procriação de onças-pintadas, conseguiu cerca de R$ 180 milhões com filantropos para a criação de reservas privadas no Pantanal. Teresa Bracher é uma destas doadoras. 

Mas, os banqueiros não são os únicos bilionários que aparecem na lista. Outra contemplada é a SLC Agronegócios, uma fazenda dedicada à criação de bovinos no município de Corumbá.  Os bilionários donos desta fazenda receberão R$ 100 mil do Fundo Pantanal por preservarem pouco mais de 3,7 mil hectares. 

A fazenda pertence ao grupo que se apresenta como um dos maiores produtores de commodities agrícolas do país. Possui cerca de 733 mil hectares de área plantada em sete estados. Além de Corumbá, o grupo também produz em fazendas em Cassilância, Chapadão do Sul e Sonora. 

A SLC produz algodão, milho e soja e se dedica à criação de gado, além de ser uma das grandes produtoras de sementes destas cultura.Ela foi uma das primeiras empresas do agronegócio a ter ações negociadas em Bolsa de Valores de São Paulo, a BR.

A famosa Fazenda Bodoquena, de cerca de 77 mil hectares e conhecida por concentrar até 40 mil bonivos, também aparece na relação daqueles que receberão indenização. Neste caso, serão apenas R$ 39 mil, uma vez que atestou estar fazendo preservação extra de 705 hectares de vegetação. 

A fazenda pertence ao Grupo Votorantim, que há mais de sete décadas também atua na produção de cimento em Corumbá, no coração do Pantanal. O grupo é controlado pelos familiareas de Antônio Ermírio de Moraes, um dos rostos mais conhecidos do bilionário clã. Ele morreu em 2014. A família é considerada a terceira mais rica do país, com patrimônio estimado em 15,4 bilhões de dólares, ficando atrás somente das famílias Marinho e Safra.

Mas, nesta lista dos contemplados também aparecem fazendeiros "comuns",  para os quais a indenização de até R$ 100 mil fará alguma diferença. Esté é o caso de Timotheo Reis Proença, que já presidiu o sindicato rural de Aquidauana. Ele cadastrou 1,28 mil hectares como preservação extra e por conta disso receberá R$ 71 mil. 

BAIXA ADESÃO

Ao todo, segundo o Governo do Estado, estão sendo  indenizados 126 mil hectares, o que está garantindo repasse da ordem de R$ 3,25 milhões aos proprietários. 

O valor é praticamente o mesmo ao que está sendo repassado a três ONGs que dizem atuar no combate a incêndios e no tratamento de animais silvestres atingidos pelas queimadas no Pantanal. 

Dos R$ 40 milhões, R$ 1,438 milhão foi destinado ao Instituto Homem Pantaneiro (IHP), R$ 996 mil para o instituto SOS Pantanal e R$ 497,5 mil para o IPCTB - Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás no Brasil. 

Somados, os repasses às ONGs chegam R$ 2,931 milhões, o que equivale a 7,3% dos R$ 40 milhões anunciados pelo Governo do Estado ao Fundo Pantanal para o primeiro ano de vigência do programa. 

O valor repassado aos proprietários rurais ficou longe daquilo que estava previsto por conta da baixa adesão. Na primeira chamada foram recebidas apenas 71 inscrições de imóveis rurais localizados no Bioma Pantanal. E, após análise dos documentos,  45 propriedades conseguiram cumprir as exigências. 

Mesmo assim, o secretário Jaime Verruck, da Semadesc, comemora os resultados. “O PSA Pantanal demonstra que é possível alinhar desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Estamos criando um modelo em que o produtor rural passa a ser reconhecido como parceiro estratégico na proteção do bioma, recebendo por um serviço ambiental que beneficia toda a sociedade”, afirmou. Segundo ele, o programa também fortalece a imagem de Mato Grosso do Sul como referência nacional em sustentabilidade e políticas climáticas inovadoras.

Agora, os proprietários classificados serão convocados pela Fundação Educacional para o Desenvolvimento Rural (Funar), agente executor do PSA Conservação, para assinatura do Termo de Adesão. A partir desse instrumento, os provedores de serviços ambientais passam a integrar formalmente o programa e a receber os valores correspondentes às áreas preservadas. 

De acordo com o secretário-adjunto da Semadesc, Artur Falcette, a robustez técnica do edital foi um dos diferenciais do programa. “Todo o processo foi construído com base em critérios objetivos, análises técnicas aprofundadas e uso de ferramentas geoespaciais. Isso garante credibilidade ao PSA e cria um ambiente favorável para sua continuidade e ampliação”, destacou. Ele ressalta que a experiência da primeira chamada servirá como base para o aperfeiçoamento das próximas etapas.

Segunda chamada 

Com a conclusão da primeira etapa, a Semadesc confirmou o cronograma da segunda chamada do PSA Conservação, prevista para 2026. A publicação do edital e a abertura das inscrições ocorrerão em 23 de fevereiro, com encerramento em 6 de abril.

As inscrições deferidas serão divulgadas em 16 de abril, com prazo para recursos até 20 de abril. A avaliação das propriedades ocorrerá até 1º de junho, com publicação do resultado final até 15 de junho. A assinatura dos Termos de Adesão está prevista a partir de 16 de junho de 2026.

Nesta segunda chamada, poderão participar proprietários que não conseguiram se inscrever na primeira etapa. As regras permanecem as mesmas, incluindo a possibilidade de cancelamento de autorizações de supressão de vegetação nativa vigentes na data de abertura do edital, quando houver, sendo que o pagamento será referente ao exercício de 2026. 

“O PSA é uma política de Estado, construída para ter continuidade e escala. A segunda chamada amplia o alcance do programa e reforça nosso compromisso com a conservação do Pantanal”, concluiu Jaime Verruck.

 

Cidades

Consórcio paga parte dos atrasados, mas motoristas confirmam greve a partir de segunda

Sem acordo com o Consórcio Guaicurus, a greve está prevista para segunda-feira (15), segundo informou o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande

13/12/2025 11h23

Crédito: Gerson Oliveira / Correio do Estado

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Com o Consórcio Guaicurus tendo atendido “em partes” à reivindicação definida em assembleia, a greve dos motoristas de ônibus deve iniciar nesta segunda-feira (15), em Campo Grande.

Em conversa com o Correio do Estado, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano da Capital (STTCU-CG), Demétrios Feiras, informou que os trabalhadores receberam, na sexta-feira (15), somente 50% do salário referente ao mês de novembro.

“O Consórcio Guaicurus, no final da tarde, depositou 50% do valor dos salários, referente ao mês de novembro, que era para ser pago no quinto dia útil do mês de dezembro. Foi a única coisa que o Consórcio pagou”, informou Demétrios.

Durante assembleia, a categoria reivindicou o pagamento do salário integral, do adiantamento, da segunda parcela do décimo terceiro e do vale (adiantamento salarial). No entanto, houve apenas o depósito de 50%, e a paralisação segue confirmada.

Segundo o presidente do STTCU-CG, não está prevista, para este fim de semana, qualquer tentativa de negociação com a empresa responsável pelo transporte coletivo na Cidade Morena.

Com isso, Demétrios reforçou que os ônibus só retornarão às ruas quando o Consórcio efetuar o pagamento do que ficou definido pela classe.

“E a gente só volta a trabalhar com o pagamento desses três vencimentos. Caso contrário, continua parado na terça, na quarta, até que o Consórcio efetue esses pagamentos”, pontuou Demétrios.

A justificativa para não realizar o pagamento, conforme explicou Demétrios, é a falta de dinheiro em caixa. Como adiantou o Correio do Estado, o Consórcio Guaicurus alega um “rombo” em dívidas de R$ 15,2 milhões, sendo que desse valor R$ 8,2 milhões são referentes aos salários dos funcionários.

Por conta disso, a concessionária pediu que o valor do subsídio pago pelo poder público seja ainda maior.

Entenda

No dia 5, o Consórcio Guaicurus, responsável pela administração do transporte coletivo de Campo Grande, anunciou que a situação financeira estaria insustentável para a continuidade da operação, motivada por supostos atrasos nos repasses por parte do poder público.

Além das dificuldades relacionadas a questões operacionais, como combustíveis, manutenção da frota e encargos, o consórcio também enfrenta negociações com a classe de funcionários, principalmente os motoristas.

Motoristas do Consórcio Guaicurus realizaram assembleia geral, na madrugada desta quinta-feira (11) e optaram pela paralisação. Eles reivindicam por:

  • Pagamento do 5º dia útil, que deveria ter sido depositado em 5 de dezembro – efetuaram o depósito de 50%
  • Pagamento da segunda parcela do 13º salário – vai vencer em 20 de dezembro
  • Pagamento do vale (adiantamento) – vai vencer em 20 de dezembro

** Colaborou Felipe Machado e Naiara Camargo

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