Depois de tomarem conta do lago da usina do Mimoso, em Ribas do Rio Pardo, as plantas aquáticas passaram agora a ser consideradas problema crônico também na hidrelétrica de Jupiá, em Três Lagoas.
A proliferação descontrolada destas plantas tem provocado a paralisação de turbinas do empreendimento, conforme alegação da estatal chinesa que controla a hidrelétrica desde 2016.
Por conta do desequilíbrio ambiental, a concessionária pediu ajustes urgentes à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para não ser punida pelas interrupções na operação, conforme reportagem do jornal Folha de S. Paulo publicada nesta sexta-feira (27)
Segundo a CTG, o crescimento de macrófitas submersas se tornou um problema crônico e está fora de seu controle. Conforme ambientalistas, o excesso de matéria orgânica é responsável pelo crescimento acelerado destas plantas aquáticas.
A usina de Jupiá, cujo lago se espalha por 33 mil hectares, funciona desde 1969. Quatro anos depois também foi ativada a hidrelétrica de Ilha Solteira, que fica acima de Jupiá. Em Ilha Solteira, que também está sob controle dos chineses, porém, praticamente não existem registros de danos causados pelas plantas.
Existem registros de problemas provocados em Jupiá faz duas décadas. Porém, a situação se intensificou nos últimos anos, conforme reclama a concessionária.
No dia a dia da operação, grandes blocos de vegetação se desprendem e são empurrados contra as grades submersas de tomada de água, o que provoca entupimentos, restrições operativas e danos estruturais às turbinas.
DESPERADOR
"Se observados os últimos anos, percebe-se que não se trata de eventos extremos pontuais, mas sim de novas condições que favorecem uma proliferação e desprendimento em massa de macrófitas, se agravando ano após ano e superando todas as ações planejadas para gerenciamento do quadro", afirmou a CTG, em documento enviado à Aneel.
Conforme a reportagem da Folha, em 2024, o combate às plantas aquáticas e ao mexilhão dourado, que se espalha nestas situações, levou a mais de 7.500 horas de desligamento, quando consideradas todas as 14 máquinas da usina.
Funcionamento de turbinas precisa ser interrompido para retirada das plantas aquáticas que entopem as grades de JupiáIsso equivale a ao desligamento integral de uma das turbinas ao longo do ano inteiro. E, conforme as regras do setor elétrico, a Aneel permite que máquinas fiquem desligadas por um determinado período por causa da presença de plantas aquáticas. Isso blinda os indicadores de desempenho que a usina tem de atender. No caso de Jupiá, porém, esses limites já estouraram há muito tempo, diz a reportagem da Folha.
O limite máximo de 360 horas de paralisação por turbina, que vale por cinco anos, foi totalmente consumido no ano passado. Isso significa que toda nova indisponibilidade causada pelo mesmo problema ambiental passa a ter impacto nos indicadores da hidrelétrica, métricas que influenciam diretamente na receita da usina e na energia disponível.
"Na origem, a realidade operativa era de um problema ainda inicial e com expectativa de desenvolvimento de soluções que pudessem solucionar ou mitigar a proliferação com o passar dos anos. Entretanto, o que se observa é o contrário", afirma a companhia.
"A proliferação das plantas aquáticas e mexilhões dourados se caracteriza como um problema crônico, uma realidade de dificuldade para as operações de usinas hidrelétricas", alerta a concessionária
Com 1.550 megawatts de potência instalada, Jupiá tem capacidade de atender até 10 milhões de pessoas. A CTG, subsidiária da estatal chinesa China Three Gorges, comprou a hidrelétrica em 2016, por R$ 4,67 bilhões.
A Aneel avalia o pedido da empresa e possíveis mudanças de regras. Por meio de nota, a CTG confirmou o pedido feito à Aneel sobre os impactos operacionais e regulatórios, mas disse que "não comenta temas ainda em análise".
A CTG Brasil responde pela operação de 12 usinas hidrelétricas e duas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). A usina de Jupiá é o segundo maior empreendimento da carteira, atrás de Ilha Solteira, com seus 3.444 megawatts de potência.
COINCIDÊNCIAS
Outra usina hidrelétrica que está tendo prejuízos com as plantas aquáticas é a usina de Mimoso, instalada no Rio Pardo. Neste caso, porém, a vegetação é submersa e também se espalha por cima da água.
A hidrelétrica, que tem lago de apenas 1,5 mil hectares, funciona desde 1971 e a proliferação ocorre principalmente desde fevereiro deste ano. Em outubro e novembro a concessionária Elera Renováveis, controladora da hidrelétrica, aumentou a vazão da água para despachar o parte do excesso de vegetação, o que reduziu parte do problema.
A legislação permite que até 25% de um lago seja tomado por estas plantas. A Elera garante que este percentual não chegou a ser superado e admite que também enfrenta série de prejuízos e gastos extras para manter as turbinas em funcionamento.
Esta repentina proliferação no lago do Mimoso coincide com a ativação da fábrica de celulose, em julho do ano passado, em Ribas do Rio Pardo. Diariamente ela despeja em torno de 180 milhões de litros de dejetos do Rio Pardo. Alguns quilômetros rio abaixo começa o lago da usina
A empresa garante que faz o tratamento correto destes dejetos e o secretário de Estado de Meio Ambiente, Jaime Verruck, descarta algum elo entre a ativação da fábrica e a rápida proliferação da plantas. Ele atribuiu o problema à escassez de chuvas ao longo de 2025 e à baixa vazão do Rio Pardo.
No lago do Mimoso, em Ribas do Rio Pardo, boa parte dos 1,5 mil hectares foram encobertos pela vegetação aquáticaE, assim como ocorre no pequeno lago da hidrelétrica de Mimoso, no lago da usina de Jupiá também ocorre o despejo dos rejeitos de uma grande fábrica de celulose. Ela foi ativada em 2012 e joga diariamente em torno de 150 milhões de litros de esgoto no lago.
Caso exista elo entre o esgoto da celulose com as plantas aquáticas, o problema tende a crescer, e muito. A partir de 2027 entra em operação uma fábrica em Inocência, às marges do Rio Sucuriú. Este desemboca no lago de Jupiá, próximo ao local onde já ocorre o despejo da fábrica ativada em 2012.
E, os rejeitos destas três fábricas são levados depois para o lago da hidrelétrica de Porto Primavera, que já recebe o esgoto de outra fábrica existentes desde 2009 em Três Lagoas. Além idso, a partir de 2032 este mesmo lago vai receber o esgoto de uma quinta indústria, prevista para ser construída em Bataguassu.
O lago de Porto Primavera tem 225 mil hectares e por conta desta vastidão a concentração do material orgânico tende a se espalhar, fazendo com que a proliferação da vegetação aquática se espalhe em ritmo mais lento.
Dados: Sejusp
Dados: Sejusp


