Nos últimos dias moradores do Bairro Santa Maria, na Área de Preservação Ambiental (APA) Lajeado, na zona rural de Campo Grande, estão preocupados com os impactos ambientais que os clubes de tiro recém-inaugurados em chácaras dentro do bairro podem ter na vida dos animais e na saúde dos rios e solo do lugar.
De acordo com o biólogo e doutor em Ecologia e Conservação, Guilherme Dalponti, a poluição sonora causada por esse tipo de atividade pode interferir na natureza e mudar o comportamento dos animais selvagens.
Vale lembrar que muitas espécies têm a audição sensível e captam os sons ao redor de forma mais ampliada, o que pode impactar ainda mais no aumento do estresse e medo.
Os animais domésticos também já sentem as consequências.
Um vídeo encaminhado ao Correio do Estado mostra que os impactos negativos já estão sendo sentidos pelos moradores e animais da região. Na filmagem é possível ver cachorros andando desnorteados e assustados por conta do barulho de tiros.
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Outra preocupação dos residentes é a poluição do solo e da nascente do córrego Lajeado, por conta dos componentes existentes nos projéteis utilizados.
Esse manancial é responsável por abastecer 17% da água de Campo Grande.
“[...] a APA do Lajeado teve sua criação vinculada à necessidade de recuperação e conservação do sistema produtor de água bruta para abastecimento público de Campo Grande”, diz o Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental dos Mananciais do Córrego Lajeado.
E continua: “Esse é o segundo maior sistema produtor de água do município e responde por cerca de 12% do sistema de abastecimento de água de Campo Grande.”
Dalponte sugere que as águas sejam monitoradas periodicamente pelo poder público para averiguar se há contaminação por chumbo ou outras substâncias.
Uma alternativa é ter o controle, por parte dos clubes, de saída e entrada de munições e monitoramento para que elas não se percam e acabem poluindo o solo e a água.
“Se as recomendações técnicas para evitar o extravio de munições forem seguidas a probabilidade de ter contaminação por chumbo é pequena. Agora precisa ter fiscalização para ver se as normas técnicas estão sendo seguidas”, aponta.
Ele lembra que se os moradores acharem que as medidas adotadas pelos clubes não forem suficientes para proteção do ambiente e da rotina de quem mora no bairro, o Ministério Público pode ser acionado para pedir que medidas mais severas sejam tomadas.
O biólogo ainda ressalta que empreendimentos como clubes de tiro podem impactar, além do meio-ambiente, a qualidade de vida da população local, sendo que a instalação deles deveriam passar por consulta pública
“Como a legislação vigente já permite a liberação por parte do órgão é fundamental que sejam adotadas todas as medidas possíveis para que o impacto seja minimizado” conclui.
O que a lei diz
A Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano (Planurb) informou que no Plano de Manejo da APA do Lajeado não consta restrições para o desenvolvimento de clubes de tiros na região.
O órgão ainda esclarece que empreendimentos instalados em Campo Grande devem seguir o disposto no Sistema Municipal de Licenciamento e Controle Ambiental (SILAM) conforme Lei n. 3.612, de 30 de abril de 1999, regulamentada pelo Decreto n. 14.114, de 6 de janeiro de 2020.
O outro lado
Em nota, um desses clubes alega que a atividade segue a legislação de órgãos do Estado, Prefeitura, União, Instituto de Meio Ambiente de MS (Imasull), Exército Brasileiro, Polícia Federal e Corpo de Bombeiros.
Além disso, a empresa alega que todas as regras de segurança são seguidas no local e atestadas antes da abertura para o público.
O clube ainda afirma que também segue as leis ambientais, sendo que o desmatamento do local foi realizado dentro do permitido legalmente e com autorização do Imasul.


