A criação do Estado de Mato Grosso do Sul aproximou os municípios da nova capital, Campo Grande, mas não representou melhoras significativas para os cerca de 2,5 mil habitantes de Itahum, o maior, mais populoso e distante distrito de Dourados, localizada a 70 quilômetros da sede do município. A população local sofre com a com falta de infraestrutura e seu principal orgulho, a Estação Ferroviária Ministro Pestana, é o retrato do abandono. Os moradores ainda precisam se deslocar para a cidade sempre que necessitam, por exemplo, de atendimento médico especializado ou de serviços bancários mais complexos.
O distrito também tem problemas sérios de comunicação. Existem poucos locais com internet (o serviço é prestado via rádio) e o local até hoje não possui telefonia celular. Existe apenas a promessa, de acordo com informações da Câmara Municipal, da instalação de uma torre da operadora Vivo até o fim do ano.
Itahum tem grande importância econômica e história para Dourados. Considerado o segundo morador do município e, portanto, um dos fundadores, o paulista Francisco Xavier Pedroso se instalou no distrito no ano de 1885 e criou a Fazenda Amparo, que batizou com o nome de sua cidade natal.
O distrito possui uma área de 1.360,72 quilômetros quadrados — o equivalente a 33% do território douradense — e tem na agricultura e pecuária a principal fonte de recursos. A maioria dos moradores vive em função do agronegócio. A principal ligação por asfalto com a sede do município é a rodovia MS-270.
Emancipação
O abandono fez a comunidade local se mobilizar criando a Comissão dos Moradores Pró-Emancipação que é presidida pelo funcionário público estadual e ex-vereador José Luiz de Oliveira, conhecido como Zé do Itahum. Segundo ele um projeto de lei que autoriza a convocação de um plebiscito para decidir pela transformação do distrito em município recebeu parecer favorável na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul.
O problema, segundo ele, é que o Congresso Nacional ainda não aprovou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 13, que devolve aos estados a prerrogativa de criar novos municípios. "A PEC está no Senado Federal e enquanto não for aprovada, ficamos de mãos atadas", afirma Zé do Itahum.
O principal ponto de referência do distrito, a estação ferroviária é apenas uma lembrança dos tempos em que Itahum era sinônimo de desenvolvimento. O transporte de passageiros parou em meados de 1996 e o de cargas foi lentamente diminuído, até totalmente encerrado no início do ano 2000.
O prédio que abrigava a estação de embarque e desembarque está deteriorado. A Rede Ferroviária Federal (RFFSA) construiu no local na década de 1950, 12 residências para abrigar ferroviários, mas apenas cinco ainda estão em pé porque foram tombadas pelo patrimônio histórico. As outras acabaram destruídas pela falta de manutenção
As residências que ainda estão de pé foram ocupadas por famílias da região. Os imóveis possuem paredes grossas e têm dois quartos, cozinha, sala e banheiro e o local é abastecido com as redes de água e energia elétrica. Em torno da estação moram ex-funcionários da rede ferroviária, além de indígenas e sem-tetos.


