As investigações sobre o helicóptero apreendido na última quarta-feira (12), no extremo sul do Estado, próximo à fronteira com o Paraguai, ficarão sob responsabilidade do Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco), informaram nesta sexta-feira (14) policiais da Delegacia de Repressão aos Crimes de Fronteira (Defron).
A aeronave foi apreendida por policiais do Departamento de Operações de Fronteira (DOF) e policiais ambientais depois que os agentes de segurança tentaram abordar os dois ocupantes que haviam pousado em uma propriedade da região.
Ao perceberem a aproximação dos policiais, os dois ocupantes teriam fugido para um matagal e na sequência teriam disparado contra os agentes, que revidaram e os dois acabaram sendo mortos. Ambos, segundo o DOF, tinham uma série de passagens policiais por envolvimento com o narcotráfico.
Depois do confronto, o helicóptero foi entregue à Defron. Porém, apesar de a delegacia ser apurar em crimes da região de fronteira, toda a investigação sobre suposto uso do helicóptero por quadrilhas de traficantes ficará a cargo do Dracco, que normalmente assume as investigações envolvendo aeronaves no Estado.
A delegada Ana Cláudia Medina, diretora do Dracco, informou que, conforme o helicóptero estava irregular e que não poderia estar voando. Informou, ainda, que na próxima semana serão realizadas perícias detalhadas para tentar chegar aos proprietários.
Porém, o DOF informou que a documentação encontrada com um dos homens mortos, que possivelmente era o piloto, tinha documento falso (RG do Mato Grosso do Sul), sendo sua identidade original do Estado de São Paulo, além de uma extensa ficha criminal.
Já o segundo ocupante da aeronave, segundo o DOF, foi identificado como sendo um foragido do Sistema Prisional do Estado do Paraná, sendo que sua fuga ocorreu na terça-feira (11), tendo também uma extensa ficha criminal no Estado vizinho.
Durante a vistoria no helicóptero, os militares encontraram alguns galões de combustível vazios, além de constatarem a divergência nas informações do prefixo na cauda da aeronave com a plaqueta de identificação.
SUSPEITAS
Embora nem o DOF nem a Defron confirmem formalmente, existe a suspeita de que o helicóptero estava a serviço da quadrilha que é comandada pelo traficante Antônio Joaquim da Mota, mais conhecido como Motinha, de Ponta Porã.
Em operações da Polícia Federal nos dia 30 de junho e 11 de maio do ano passado, a instituição informou que a quadrilha comandada pelo sul-mato-grossense é especializada no uso de helicópteros para o transporte de cocaína
Informou, ainda, que em menos de três anos apreendeu 12 aeronaves pertencentes ao grupo comandado por Motinha, que segue foragido. Em uma destas fugas, em maio do ano passado, ele fugiu usando um helicóptero horas antes de a PF e a Senad (polícia paraguaia) chegarem a sua residência.
Além das 12 apreensões feitas pela PF, desde setembro de 2020 este foi, pelo menos, o nono helicóptero apreendido por forças policiais brasileiras e paraguaias ou que se envolveu em acidentes na região de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai.
Em todos os acidentes, a maior parte envolvendo a marca Robinson, modelo R44, ficou comprovado envolvimento com o transporte de cocaína.
ACIDENTES
A série de acidentes envolvendo helicópteros na região sul do Estado começou em 11 de setembro de 2020, quando uma aeronave foi encontrada incendiada em uma fazenda em Iguatemi.
Os investigadores chegaram à conclusão de que os ocupantes colocaram fogo na aeronave depois de fazerem o pouso de emergência. Nenhum ferido foi localizado e os proprietários nunca comunicaram o incidente às autoridades.
Depois disso, em 16 de abril de 2021, um helicóptero fez um pouso forçado no assentamento Itamaraty, em Ponta Porã, depois de bater na fiação da rede de energia de alta tensão.
Antes de a polícia chegar, o piloto formatou o celular e destruiu o GPS do helicóptero para impedir que os investigadores encontrassem pistas sobre a origem e os proprietários da aeronave. A suspeita da polícia é de que ele voasse baixo para escapar dos radares da Força Aérea Brasileira e por isso atingir a fiação.
Mais adiante, no dia 3 de junho de 2021, policiais da região de Nova Andradina e Batayporã apreenderam 250 quilos de cocaína que eram transportados num helicóptero que fez um pouso próximo ao Rio Paraná, já na divisa com o estado de São Paulo. Quatro pessoas foram presas em flagrante por envolvimento com o narcotráfico.
Meses depois, no dia 20 de outubro, um helicóptero que transportava 246 quilos de cocaína caiu e pegou fogo em uma lavoura em Ponta Porã, a cerca de 35 quilômetros da linha de fronteira com o Paraguai. Os dois ocupantes morreram.
A aeronave não tinha plano de voo, o piloto não era habilitado e voava baixo para fugir dos radares. A mesma aeronave há havia feito pelo menos cinco outros voos na região.
Na semana seguinte, no dia 27, outro helicóptero fez um pouso forçado no município de Batayporã. Ele foi destruído pelo fogo e a investigação apontou que o incêndio foi criminoso para dificultar o trabalho da polícia.
Depois, no dia 9 de fevereiro de 2023, dois ocupantes de um helicóptero morreram do lado paraguaio da fronteira, no departamento de Concepcion, a cerca de 85 quilômetros da fronteira. As vítimas eram um brasileiro e um paraguaio.
A suspeita é de que a fatalidade tenha ocorrido porque o piloto estava muito baixo e acabou atingindo a rede de energia. E, de acordo com a polícia, a baixa altitude é uma das características de atuação dos narcotraficantes.
Em agosto de 2023, uma aeronave fez um pouso de emergência no município de Naviraí, no meio das várzeas às margens do Rio Ivinhema. Dois ocupantes foram resgatados, prestaram depoimento e foram liberados. Posteriormente foi confirmado que o helicóptero estava a serviço do narcotráfico.
Por último, em outubro de 2023, agentes da Senad apreenderam um helicóptero camuflado em meio a um matagal no lado paraguaio próximo ao povoado de Sanga Puitã (MS), distrito que faz parte do município de Ponta Porã.
No local, a Senad encontrou combustível de aviação, armas curtas e longas, celulares, equipamentos de comunicação, documentos e roupas táticas, evidenciando que ali funcionava um acampamento do narcotráfico.


