ACONTECEU EM 1999...
Há quase 20 anos, um dos principais problemas de Campo Grande era a violência registrada nas escolas, sejam elas públicas e particulares. A informação foi levada ao público na manchete do Correio do Estado publicada em 19 de agosto de 1999: 'Gangues aterrorizam 40 escolas.'
De acordo com a reportagem, as instituições de ensino eram consideradas problemáticas pelas secretarias estadual de Educação e Segurança Pública, com relatos e ocorrências de furtos e brigas registradas constantemente.
Segundo o jornal, o principal motivador para a onda de violência era o baixo efetivo do então Policiamento Ostensivo Escolar, batalhão da Polícia Militar já extinto e que hoje dá lugar à Ronda Escolar.
Para exemplificar a gravidade da situação em alguns pontos da Capital, a reportagem cita o caso da Escola Estadual Ada Teixeira dos Santos, no Jardim Campo Belo, região norte. Dois dias antes da publicação, uma quadrilha de adolescentes invadiu uma sala, durante uma aula, para espancar e roubar um aluno de 15 anos. Cinco pessoas foram detidas suspeitas de participação na ação.

Foi o estopim para uma crise, explica o texto, que já se arrastava desde junho, quando a festa junina da instituição terminou em tiroteio entre gangues rivais, felizmente sem feridos. Desde então, aulas eram constantemente encerradas mais cedo por conta da falta de segurança.
Sem alternativas, a diretora suspendeu as aulas após os 1,3 mil alunos do local se recusarem a estudar sem qualquer segurança.
A rotina só seria retomada, ainda longe de uma normalidade esperada, no dia seguinte. "PM garante reestabelecimento das aulas", é a chamada de uma reportagem abre de página do dia 20 de agosto daquele ano, onde é informado que dois policiais militares seriam mantidos de forma fixa na Ada Teixeira, por decisão dos secretários de Segurança e Educação, Franklin Masruha e Pedro Kemp, respectivamente.
RELATOS
Ainda de acordo com reportagem publicada naquele dia, outra região de Campo Grande com problemas crônicos de violência entre gangues era a oeste. Bairros como os jardins Carioca e Sayonara, além da Vila Popular, acumulavam há pelo menos quatro meses casos de espancamentos, furtos, roubos e até de estupros nos arredores de suas escolas.
O caso mais grave aconteceu no dia 18 daquele mês, quando três pessoas foram baleadas durante tiroteio na porta da Escola Municipal Sebastião Lima, na Vila Serradinho, na mesma região. Dois jovens, de 19 e 20 anos, foram presos pela PM suspeitos de participação no crime.
Como protesto pela violência, alunos decidiram não ir às aulas (Registro de Valdenir Rezende)
Na região sul, em bairros como Jardim Tijuca e Aero Rancho, invasões de escolas no período noturno eram comuns, com o propósito de furtar. No dia 24 daquele mês, o Correio noticiava que um vigilante da prefeitura fora espancado por jovens enquanto tentava capturar adolescentes flagrados após invasão e furto de merenda e um computador.
A gravidade da situação era tamanha que Campo Grande apresentava 50% de evasão de suas escolas públicas. Em todo o Mato Grosso do Sul, o índice de desistência e evasão escolar alcançou 41% em 1999. Na Região Sudeste, que engloba Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, os estados mais populosos do Brasil, o índice era de 26%.
SOLUÇÕES
Entre as motivações para a explosão da violência escolar, o Correio aponta para o erro de avaliação e gestão da então administração estadual e também do comando da época da Polícia Militar.
De acordo com a reportagem, o Policiamento Ostensivo Escolar só havia sido reativado há dois meses, após os casos de violência se acumularem. Antes, durante todo o primeiro semestre daquele ano, a prioridade era pelo Policiamento Comunitário Integrado.
A ideia de reforçar a presença da PM em todos os bairros, no entanto, foi abortada, por conta da falta de viaturas. O próprio POE sofria com a falta de infra estrutura adequada: apenas dois veículos e 15 homens para patrulharem toda a cidade, nos três períodos.
Outra ideia daquele ano, que acabaria não vingando, era a Guarda Escolar. Ideia do então governador Zeca do PT, o projeto previa o retorno de policiais militares aposentados à ativa para que fizessem a segurança em escolas. Mas, após a conclusão das inscrições, no fim do primeiro semestre, apenas 50 pessoas demonstraram interesse.A meta do Governo Estadual era 400 homens.
A violência na rede escolar diminuiu de intensidade, mas continua sendo um problema, ao ponto do governador Reinaldo Azambuja (PT) apostar em um modelo reformulado da ronda comunitária escolar no ano passado como forma de aumentar a presença policial (e a segurança) nas escolas da rede pública estadual.

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Os ônibus voltaram a pegar passageiros na noite de ontem, após três dias inteiros sem nenhum carro em circulação na Capital - Gerson Oliveira/Correio do Estado
Feito por Denis Felipe com IA


