Cidades

Difícil ''vida fácil''

Em bordel a céu aberto, sul-mato-grossenses faturam R$ 1 mil em uma tarde

A história das duas foi contada em reportagem mato-grossense

Danielle Valentim

21/03/2016 - 10h27
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Em um dos maiores “bordeis” a céu aberto de Mato Grosso, localizado em Várzea Grande, prostitutas e travestis chegam a faturar R$ 1 mil por dia. Entre as profissionais, uma douradense e uma travesti campo-grandense falam dos desafios da "vida fácil", em um lugar conhecido historicamente pela violência. O "Zero Quilômetro" funciona “full time”, ou seja, 24 horas por dia. 

Há dois anos, depois de se separar do marido, Dani Barros, de 26 anos, saiu de Dourados (MS) com destino ao Zero Quilômetro e hoje realiza de 8 a 10 programas no valor de R$ 100 a meia hora, em uma única tarde. Ela contou ao site mato-grossense Midia News que possui clientes fixos, a maioria  homens casados, que pertencem à "classe média alta", como políticos e empresários.

A jovem trabalhou como prostituta em Mato Grosso do Sul durante seis meses, mas decidiu sair do Estado para que a família e a filha de apenas quatro anos, não descobrissem sua escolha. “As contas começaram a bater na minha porta. E, desesperada, aceitei o convite de uma amiga, ainda lá em Dourados, para fazer um programa. O dinheiro rápido atendeu às minhas necessidades e atende até hoje”, disse.
 
Ela afirmou que pretende sair do ramo, daqui a dois anos, assim que terminar a faculdade de Educação Física. “Para mim, é uma profissão restrita até porque, quando chego na minha casa, esqueço tudo que acontece aqui, cuido da minha filha, faço janta, vou para a academia, para a faculdade, tenho uma vida normal, tranquila”, afirmou.
 
Dani afirma nunca ter sido agredida, mas já presenciou travestis e outras prostitutas passando por essas situações.

POR LUXO

Já a travesti Michele de Freitas, de 24 anos, contou que entrou para a prostituição para poder sustentar os seus "luxos". Natural de Campo Grande, trabalha no Zero Quilômetro há 10 anos e afirma que nenhuma outra profissão lhe daria o dinheiro necessário para poder viajar, sair com os amigos, ter uma casa e um carro.
 
Conforme ela, a renda mensal chega a R$ 15 mil. Seus clientes são da maioria da classe alta, mas Michele também disse ficar com drogados. “Eu trabalhava em um salão e o meu sonho era ser travesti. Mas a profissão que eu tinha não me dava condições de pagar as plásticas que eu queria fazer para poder me transformar em uma travesti. Por conta disso, resolvi fazer programa”, contou.
 
Michele criticou a sociedade que tem preconceito com a sua escolha de vida e também aconselhou outras travestis.“A população acha que por fazer programa a pessoa pode não ter uma boa índole. Falam mal, mas depois estão todos aqui. A minha forma de trabalhar é muito clara e objetiva. Sou muito educada, o que eu combino é o que eu faço, se algo não me agrada eu não faço já sou bem direta, então as pessoas já saem comigo ciente do que vai acontecer”, relatou.
 
ZERO QUILÔMETRO
 
O comércio de prostituição no Zero Quilômetro começou com um posto de venda de combustível, na década de 60. O estabelecimento servia como ponto de apoio de caminhoneiros em viagem.
 
Hoje, 50 anos depois, os caminhoneiros foram substituídos, em sua maioria, por homens casados e até aqueles que se apresentam socialmente como heterossexuais e que, só lá, assumem a homossexualidade reprimida.
 
Por conta da prostituição, vários motéis e bares foram instalados na região. Durante o período em que a reportagem esteve no local, foi possível descobrir vários “mitos” e “verdades” da profissão.
 
Por exemplo, segundo as prostitutas, não há disputa de pontos, como a maioria pensa. Elas garantiram não existir “cafetões”, aquelas pessoas que gerenciam a prostituição, muito embora a Polícia Militar desconfie dessa afirmação. Afirmaram ainda, não ser usuárias de drogas. 

INSEGURANÇA

Além da prostituição, a região do Zero Quilômetro abriga o tráfico de drogas e, por consequência, crimes de roubo e homicídio. A moradora Mara Cristina, de 53 anos, afirmou que não se incomoda com as profissionais do sexo, o problema é que sua casa já foi assaltada três vezes e no último caso, o crime, acabou tirando a vida do seu marido, de 57 anos.
 
“Os bandidos jogaram ele não chão e deram um tiro do lado dele, o estouro da bala explodiu ele por dentro”, contou. O comandante 4º Batalhão da PM de Várzea Grande, tenente-coronel Januário Batista, garantiu que há policiamento na região do Zero Quilômetro diariamente e revelou que o bairro tem pouca incidência de crimes contra o patrimônio e a vida.
 
Conforme o comandante, neste ano não houve nenhum registro de agressão e violência sexual. Segundo ele, ocorreu apenas um homicídio em janeiro, porém a vítima tinha sete passagens pela polícia.
 
O coronel ainda afirmou que o 4º Batalhão está realizando um trabalho de inteligência para poder identificar traficantes e cafetões  que atuam no local. Ele lembrou que gerenciar e ter casas de prostituição é crime.
 
“O que nós precisamos é criar canal de comunicação com a sociedade dali, para que essas informações cheguem até nós, porque sem informações nós não conseguimos ter ciência do que acontece”, afirmou.
 
A secretaria de Municipal e Saúde informou que sempre faz ações na região para orientar as profissionais do sexo quanto à necessidade da utilização do preservativo. Os nomes utilizados nesta reportagem são fictícios, escolhidos pelas próprias personagens.

Cidades

STF: Gilmar e Dino votam para derrubar lei que validou marco temporal

Decano do STF também votou para estabelecer um prazo de dez anos para o governo federal

15/12/2025 13h35

Ministro Gilmar Mendes

Ministro Gilmar Mendes Andressa Anholete/STF

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O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou nesta segunda-feira, 15, no plenário virtual, para reafirmar a decisão do plenário que declarou inconstitucional a tese do marco temporal, que limita a demarcação de terras indígenas. Ele foi acompanhado por Flávio Dino.

O decano do STF também votou para estabelecer um prazo de dez anos para o governo federal concluir todos os processos de demarcação pendentes.

"Passados mais de 35 anos da promulgação da Constituição Federal, parece-me que já transcorreu lapso suficiente para amadurecimento definitivo da questão, de modo que não há mais como remediar a solução desse problema, cabendo, dessa forma, ao Poder Executivo o devido equacionamento da matéria e finalização dos procedimentos demarcatórios em prazo razoável, porém peremptório", defendeu.

O julgamento no plenário virtual fica aberto até a próxima quinta-feira, 18, para os ministros juntarem os votos na plataforma online. Se houver pedido de vista (mais tempo de análise) ou de destaque (transferência do processo ao plenário presencial), a votação é interrompida.

A tese do marco temporal estabelece que povos indígenas só podem reivindicar terras que ocupavam em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal.

Em 2023, em uma decisão histórica, por 9 votos a 2, o STF derrubou a interpretação e definiu que o direito das comunidades a territórios que tradicionalmente ocupavam não depende de uma data fixa.

O tema voltou ao tribunal porque, logo em seguida, o Congresso aprovou um projeto de lei para restringir as demarcações com base no marco temporal. O presidente Lula vetou o texto, mas os vetos foram derrubados pelo Legislativo.

Em paralelo, o Senado provou um projeto de emenda à Constituição (PEC) no mesmo sentido. Com isso, os senadores buscam incluir o critério de demarcação na Constituição. O texto seguiu para análise da Câmara.

Em seu voto, Gilmar Mendes reafirmou a decisão do STF. O ministro afirmou que o tribunal "não pode se esquivar de sua missão constitucional" e, em um aceno ao Congresso, defendeu que a atuação da Corte não pode "ser considerada como afronta ao Poder Legislativo".

"A análise do Supremo Tribunal Federal, no exercício do controle de constitucionalidade, equivale à prevalência da Constituição sobre os poderes constituídos quando estes atuam em descompasso com os limites impostos pela própria Lei Maior e pelo papel contramajoritário das Cortes Constitucionais, no caso o direito natural à própria existência dos indígenas, na medida em que a imposição de determinado limite temporal distante no tempo equivale à vulneração de seu status protetivo constitucional", argumentou o ministro.

O decano ressaltou que a lei é desproporcional e gera insegurança jurídica ao impor um marco temporal de forma retroativa, atingindo comunidades que não dispõem de documentação formal de ocupação.

"Nossa sociedade não pode conviver com chagas abertas séculos atrás que ainda dependem de solução nos dias de hoje, demandando espírito público, republicano e humano de todos os cidadãos brasileiros (indígenas e não indígenas) e principalmente de todos os Poderes para compreender que precisamos escolher outras salvaguardas mínimas para conduzir o debate sobre o conflito no campo", diz outro trecho do voto.

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TRANSPORTE PÚBLICO

Prefeitura nega que esteja devendo Consórcio Guaicurus

O encontro, convocado para esclarecer a situação financeira entre o município e a concessionária do transporte coletivo, ocorreu sem a presença da prefeita Adriane Lopes

15/12/2025 12h30

Segundo as informações apresentadas, todos os repasses previstos em lei vêm sendo realizados dentro do prazo

Segundo as informações apresentadas, todos os repasses previstos em lei vêm sendo realizados dentro do prazo FOTO: Divulgação

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Em coletiva de imprensa realizada na manhã desta segunda-feira (15), no plenarinho da Prefeitura de Campo Grande, representantes da administração municipal afirmaram que o Executivo não possui qualquer dívida com o Consórcio Guaicurus. 

O encontro, convocado para esclarecer a situação financeira entre o município e a concessionária do transporte coletivo, ocorreu sem a presença da prefeita Adriane Lopes, que delegou a fala a integrantes de sua equipe.

A coletiva também foi marcada por restrições à imprensa, equipes de diversos veículos, entre eles o Correio do Estado, foram barradas de acompanhar o pronunciamento logo ao chegar no local. 

Apesar disso, a reportagem teve acesso a áudios da entrevista, nos quais aparecem as declarações de Otávio Figueiró, diretor-executivo da Agereg; Ulysses Rocha, chefe de gabinete da Prefeitura; e Cecília Saad Cruz Rizkallah, procuradora-geral do Município, que reforçaram a versão oficial de que não há débitos pendentes com o consórcio.

Segundo as informações apresentadas, todos os repasses previstos em lei vêm sendo realizados dentro do prazo e, em alguns casos, de forma antecipada. De acordo com Figueiró, apenas em 2025 o município transferiu mais de R$ 35 milhões ao consórcio, somando subsídios, vale-transporte e pagamentos de gratuidades. 

“Um contrato que hoje tem 197 ônibus com a idade acima da média que não deveriam estar circulando na cidade de Campo Grande, inclusive já tem duas multas preparadas pela agência de regulação. A agência de regulação aplicou uma multa de R$ 12 milhões e eles, no outro dia, contrataram o seguro. O que comprova que não é somente a falta de dinheiro”, afirmou.

Durante a coletiva, os representantes do município ressaltaram que, na semana passada, a prefeita Adriane Lopes autorizou a antecipação de cerca de R$ 3 milhões referentes a subsídios e valores que só venceriam ao longo do mês de dezembro. A medida teve como objetivo garantir fluxo de caixa ao consórcio para o pagamento dos salários dos trabalhadores e impedir a paralisação do serviço.

“Esse pagamento ainda não estava vencido e foi antecipado dentro do limite legal”, disse o diretor-executivo. Conforme a explicação apresentada, o valor máximo permitido por lei para repasses neste período, de aproximadamente R$ 19,5 milhões, já foi integralmente transferido ao consórcio, não havendo pendências financeiras por parte do município.

A administração municipal também destacou que a paralisação ocorreu apesar de decisão judicial que estabelece regras para greves em serviços essenciais. A procuradora-geral do Município explicou que há determinação para manutenção mínima de 70% da frota em circulação, com reforço nos horários de pico, o que não teria sido cumprido. “A paralisação total caracteriza abusividade”, afirmou.

Diante do descumprimento, a Agência de Regulação (Agereg) notificou o consórcio e iniciou os trâmites para aplicação de multa. Segundo Figueiró, a penalidade já estava em fase de formalização e deveria ser entregue ainda nesta segunda-feira. A Procuradoria-Geral do Município também informou que atua no processo judicial e acompanha audiência marcada para esta terça-feira (16).

Questionados sobre um possível rompimento contratual, os representantes do Executivo afirmaram que a medida exige cautela e não pode ser adotada de forma imediata. Cecília e Figueiró explicaram que há etapas administrativas e jurídicas a serem cumpridas, incluindo notificações, prazos de defesa e análise técnica, além da necessidade de garantir a continuidade do serviço.

Por fim, a Prefeitura reiterou que a prioridade é restabelecer o transporte coletivo. “O município cumpriu suas obrigações financeiras. O consórcio, como empresa privada regulada, também precisa cumprir com as suas responsabilidades perante a população”, declararam.

Segundo dados apresentados, a paralisação afetou cerca de 110 mil usuários do sistema e aproximadamente mil trabalhadores do transporte coletivo.

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