Em protesto às constantes quedas no fornecimento de energia, moradores e comerciantes da região do Passo do Lontra ameaçam interditar a Estrada Parque para exigir melhorias no serviço. O povoado fica às margens do Rio Miranda e a estrada é uma das principais rotas de turistas no Pantanal, além de ser utilizada por centenas de fazendeiros da região.
Conforme Rogério Iehle, administrador de um hotel e de um pesqueiro, a queda mais recente de energia ocorreu no sábado à noite e o serviço só foi restabelecido por volta das 18 horas deste domingo (26).
Ele diz que até já perdeu a conta sobre a quantidade exata de vezes que o serviço caiu ao longo de novembro. “Cai praticamente todos os dias. Até fui obrigado a alugar um gerador e gastar mais de R$ 200,00 por dia para reduzir os prejuízos. O problema é que o gerador não dá conta de manter tudo funcionando”, explica.
Entre moradores do povoado, comerciantes e fazendeiros, ele estima que em torno de 150 consumidores estão enfrentando os problemas ao longo das últimas semanas. “Eu já perdi carne, eu já perdi venda porque a máquina de cartão não funciona. A população aqui tá indignada. Se a Energisa não tomar uma atitude, nós vamos bloquear a estrada aqui. Ninguém entra e ninguém sai”, desabafa Rogério.
O povoado fica a cerca de cem quilômetros de Miranda e em torno de 70 quilômetros de Corumbá, locais de onde saem as equipes que fazer os reparos. Na próxima vez que houver interrupção, promete Rogério, “nós vamos reter a viatura até aparecer alguém e assinar um compromisso com a população, porque conta a gente paga”.
Segundo Rogério, as interrupções acontecem sempre no período noturno e ele acredita que sejam por conta da sobrecarga no consumo, já que é o horário em que hóspedes dos hotéis e os próprios moradores acionam os aparelhos de ar condicionado.
Ele reclama também que normalmente quando os moradores ligam para o 0800 da empresa recebem a informação de que o problema já é de conhecimento da empresa e por isso nem número de protocolo recebem.
A Estrada Parque começa no chamado Buraco das Piranhas, na BR-262, e o povoado Passo do Lontra está localizado a oito quilômetos da BR-262. Ela tem cerca de 120 quilômetros de rodovia sem asfalto e em períodos de cheia fica parcialmente submersa.
E é justamente por conta disso que virou "rota obrigatória" de turistas estrangeiros e brasileiros que visitam o Pantanal. Para chegar a Corumbá é necessário atravessar de balsa o Rio Paraguai e mais de 100 pontes, necessárias para dar vazão às águas das cheias que ocorrem no Pantanal. Quer dizer, ela é um dos principais símbolos pantaneiros e seu bloqueio por conta da falta de energia afetaria tanto o turismo quanto o dia-a-dia de centenas de fazendeiros.
EXPLOSÕES
Além das interrupções no fornecimento, moradores do povoado enfrentaram recentemtne problemas graves por conta de explosões em transformadores que ocorreram nos dias 7 e 11 de novembro. Em decorrência da primeira explosão, um hotel foi parcialmente destruído após um incêndio que começou a partir do equipamento da rede de energia.
Na segunda explosão, dia 11, a vegetação no entorno do povoado pegou fogo e os moradores conseguiram impedir que atingisse residências e hotéis, conforme Lucas da Silva Valter, pescador que mora no Passo do Lontra.
Porém, o fogo saiu do controle, atravessou o Rio Miranda e chegou às margens da BR-262, indo em direção à cidade de Miranda, destruindo milhares de hectares de vegetação nativa do Pantanal durante mais de uma semana.
Três helicópteros, um avião e centenas de brigadistas e bombeiros foram mobilizados para tentar apagar o fogo, que só acabou no dia 20, quanto a região foi atingida pela chuva. Durante esse período, o tráfego na BR-262 chegou a ser interditado por causa do risco de acidentes em meio à fumaça e as labaredas.
O Correio do Estado procurou a Energisa que enviou nota informando que "a Energisa esclarece que não consta registro de interrupção do fornecimento de energia no endereço mencionado. Equipe da concessionária realizou no último dia 23 de novembro uma manobra na região com execução do serviço já finalizada".



