A história do crescimento social de uma cidade é formada por aquilo que o Estado propriamente dito oferece e pelo voluntariado, praticado por uma legião de pessoas. Na área central de Campo Grande, mais precisamente na Rua Barão do Rio Branco, um capixaba vindo do Rio de Janeiro instalou, em meados dos anos 1970, um verdadeiro QG, em que funcionam seu trabalho – a Ótica Itamaraty – e a “sede” de sua atividade ligada ao voluntariado. Gelásio Roque Lani é o nome dele. E basta perguntar nas redondezas para perceber que muita gente conhece bem este lado solidário do empresário.
“Estudei em colégio marista, que é religioso. Meu pai é extremamente católico, sempre tirava da boca dele para dar para as pessoas necessitadas e, então, você vai aprendendo. E, depois que você entra neste esquema, não tem mais como sair. A felicidade eu acho que está aí, não tem outro jeito de a pessoa se realizar que não seja ajudando o próximo”.
A boa localização da empresa e o perfil da família ligado à oftalmologia colaboraram para que ele criasse, mesmo sem pretensão alguma, uma rede de amigos solidários que atua das mais variadas formas. E isso começou já nos anos 1970, ao lado do irmão oftalmologista, Luís Lani. “Eu preciso lembrar que este meu irmão [in memoriam] já fazia isso. Ele fez um dos primeiros transplantes de córnea em Campo Grande, numa época em que não havia muitos meios. E pedia para eu ajudá-lo em campanhas de olhos”.
Para trazer resultados, Gelásio trabalhou por muito tempo na Feirona, na Exposição, no alto da Afonso Pena, com shows chamando atenção para a causa. “Fizemos um trabalho muito grande, bem devagarinho, para firmar o Banco de Olhos e ajudar quem precisava do transplante. E, no fim dos anos 1980, o Banco de Olhos daqui era um dos melhores do Brasil”.
Instituições como Cotolengo Sul-Mato-Grossense, Lar dos Sonhos Positivos (que cuida de crianças com vírus HIV), entre outras, são constantemente beneficiadas por ações promovidas pelo empresário e por sua rede de amigos. São almoços, romarias, shows variados, aos quais ele mobiliza parceiros para a produção, fazendo tudo acontecer. “Quando sou solicitado, sempre estou à disposição para ajudar. As pessoas já conhecem este meu lado voluntário e vêm me procurar. Mas às vezes eu também não posso, por conta do meu trabalho aqui na ótica”.
Aparecer com o triciclo Brucutu ou o Phyra Show é retorno na certa. “O Brucutu faz parte do Jacaré Triciclo Clube, de Campo Grande. Eu e Elieser [conhecido por Jacaré] somos donos do triciclo gigante que levamos para vários locais. Nosso objetivo é sempre levar alegria; fazer, por exemplo, um Natal solidário, levar o Papai Noel até as crianças mais humildes, a gente consegue.”
Para angariar fundos, no fim do ano é promovida a Festa dos Pratos. “Todo dinheiro arrecadado é usado para comprar brinquedos para doação. Várias entidades se envolvem com a gente, incluindo o Rotary Clube, do qual faço parte”.
Gelásio acredita que o ditado “doar para receber” é a mais pura verdade. “Tem muito comerciante que fica se queixando da crise, mas não se mobiliza, não se mexe. Ajude o próximo, promova uma rede solidária, que tudo muda. Eu nunca chego aos lugares e falo que tenho uma ótica. Vou lá, faço a minha parte. Faço por amor”.



