Por trecho de 110 km da BR-262, entre a cidade de Corumbá e o Buraco das Piranhas, transita uma das principais riquezas extraídas em Mato Grosso do Sul, os minérios de ferro e manganês. Além disso, a rodovia é rota importante para o turismo, por dar acesso à região do Passo do Lontra, um destino de turistas nacionais e internacionais.
Ao mesmo tempo em que há tanta demanda na circulação terrestre, esse trecho da rodovia está esquecido, com deformidades, ondulações, presença da fauna atravessando a via sem alertas para motoristas e comunicação nula, sem nenhum sinal de telefonia em boa parte do trajeto, que podem ter levado a pelo menos cinco mortes recentes.
No caso dos minérios, há fluxo de centenas de caminhões diariamente para levar a matéria-prima do ponto de extração, perto do Distrito de Albuquerque (Corumbá), até o acesso para Porto Esperança, onde foi construído pelo governo do Estado um dispositivo para promover o acesso ao porto usado para despacho de minério.
O trajeto um pouco mais longo que vai da cidade de Corumbá até o Buraco das Piranhas é também trecho importante, pois leva à Estrada Parque (MS-184), rota que permite adentrar no Pantanal com destino à Nhecolândia, além de hotéis e pesqueiros no Passo do Lontra.
Foi nessa região que ocorreu, neste domingo, uma tragédia que levou à morte de duas pessoas, uma médica de 27 anos e um pecuarista de 84 anos, além do registro de duas pessoas feridas, entre elas, uma criança de 7 anos e uma bióloga.
Esse acidente, que envolveu um ônibus da Viação Andorinha e um caminhão de transporte de minério, expõe novamente o abandono da rodovia. Falhas humanas agravam a situação.
As duas mortes registradas neste mês se somam a uma estatística mais triste, dentro do contexto de falha humana e precariedade da estrada.
No período de 10 meses, a BR-262, entre Miranda e Corumbá, teve registrou cinco mortes em cinco acidentes, quatro deles envolvendo carretas que transportavam minério.
No caso mais recente, em que o motorista do ônibus bateu no caminhão e uma barra de ferro lateral atingiu a frente do veículo com passageiros, as condições do local sugerem problemas que persistem há décadas. A rodovia tem deformidades e ondulações, o que pode ter contribuído para o acidente. Há relato do motorista às autoridades sobre essa situação.
Além disso, o acionamento do resgate representou um desafio, conforme apurado. O acidente ocorreu por volta das 6h, mas, como não há sinal de telefonia fácil, houve demora de mais de 15 minutos para haver a primeira comunicação do fato. Depois disso, ainda houve o tempo de deslocamento do socorro, que, no caso, foi encaminhado de Miranda, cidade distante 100 km do local do acidente.
TELEFONIA
A precariedade da estrutura da BR-262 e seu entorno, tando rodovia quanto de serviços extras, como cobertura de sinal de comunicação, é histórica.
Neste ano, esses problemas voltaram a ser tópico no meio político, com acionamento da Superintendência em Mato Grosso do Sul do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no começo de maio e no fim do mês passado.
Ofício que tratou desse alerta, feito pelo vereador por Corumbá Marcelo Araújo, foi encaminhado tanto para o Dnit, responsável pela administração da rodovia federal, com cópia também para o governo estadual, como para a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (deputado estadual Paulo Duarte) e a Câmara dos Deputados (deputado federal Dagoberto Nogueira).
“A rodovia se encontra em péssimas condições, como muitas ondulações, ausência de sinalização horizontal e vertical, e tem intenso fluxo de caminhões de minério e veículos de passeio. A situação tem causado o aumento no número de acidentes. Por isso, estamos solicitando atenção especial por parte das autoridades competentes, visando à recuperação do pavimento, instalação de sinalização adequada e ações de mitigação de impactos sobre a fauna silvestre”, pontuou o vereador no ofício.
A rodovia até entrou nos planos de remodelação do Dnit, com licitação de mais de R$ 140 milhões, em maio de 2024. Porém, as obras maiores estão voltadas para a região de divisa entre Mato Grosso do Sul e São Paulo, do lado de Três Lagoas, onde está o polo de produção da celulose. Há previsão de intervenção na região do Buraco das Piranhas, mas as ondulações ainda seguem intactas.
ACIDENTES
Do dia 31 de agosto de 2024 ao dia 15 deste mês, foram cinco acidentes graves entre Miranda e Corumbá. No dia 31 de agosto do ano passado, três carretas colidiram, após um cone do tapa-buraco voar e assustar um motorista, deixando duas pessoas feridas. No dia 13 de setembro de 2024, um motorista de uma Strada morreu ao bater frontalmente com uma carreta, perto do Posto da Polícia Militar Ambiental (PMA), em Miranda. No 25 de dezembro, Benjamin Pinheiro Souza Quintana, de 8 anos, morreu após a caminhonete em que estava sair da pista, perto da comunidade Salobra, em Miranda.
No dia 12 de janeiro deste ano, Débora Hadassa Santos Nobre, de 34 anos, morreu em uma ultrapassagem errada perto do Posto Pioneiros (Miranda). Andreazza Felski, de 27 anos, e Marcelino Florentino Filho, de 84 anos, morreram no domingo, após o ônibus em que estavam colidir com uma carreta.
INVESTIGAÇÃO
A 1ª Delegacia de Polícia Civil de Corumbá indiciou o motorista da empresa Andorinha que conduzia ônibus que causou acidente com mortes na BR-262. As autoridades divulgaram ontem o indiciamento por homicídio culposo na direção de veículo automotor e lesão corporal culposa.
“De acordo com as apurações, que incluíram a oitiva do motorista do caminhão e a análise das imagens captadas pelas câmeras de segurança do ônibus, ficou comprovado que o condutor do coletivo, de 54 anos, invadiu a contramão de direção e colidiu frontalmente com o veículo de carga que trafegava no sentido contrário”, divulgou a Polícia Civil.
Saiba
No caso do acidente deste fim de semana, o motorista do ônibus da Viação Andorinha, de 54 anos, foi indiciado pela Polícia Civil por homicídio culposo na direção de veículo automotor e lesão corporal culposa.




