Um grupo de 70 pessoas ocupou um terreno localizado na Rua Bororós, no Jardim Tijuca, desde a tarde da última quinta-feira (19). A motivação para o ato teria sido a construção de um prédio de alvenaria que está em processo inicial no terreno.
Os moradores da ocupação alegam que a área é pública e que, se há construção, ou a prefeitura vendeu o terreno ou há ocupação irregular.
O grupo ergueu barracos improvisados para passar a noite, mas foram surpreendidos pela Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários (Ehma) e da Guarda Civil Metropolitana, que vistoriou a área e fez o desmonte dos barracos.
De acordo com Tatiane de Oliveira, participante da ocupação, a abordagem da Ehma com os moradores foi de que, nesta segunda-feira (23), seria dado um posicionamento sobre a construção no terreno.
“Eles vieram aqui, mas não pegaram nome de ninguém, nem fizeram um compilado de pessoas, um cadastramento, só falaram que não podíamos ficar aqui e demoliram tudo. Não fizeram mais nada, disseram que tinham uma ordem para retirar a gente daqui e colocaram tudo pra baixo”, afirmou em entrevista ao Correio do Estado.
No entanto, a população reergueu novamente, alegando que não tinham onde morar. Com isso, na tarde de ontem (21), a Polícia Civil e a Guarda Metropolitana estiveram no local para conter a invasão. Segundo relatos, foram utilizadas bombas de efeito moral e spray de pimenta para dispersar o grupo, que inclui crianças e idosos.
“Ontem eles chegaram sem respeito nenhum, jogando bomba, desrespeitando crianças. A gente fica preocupado porque foi a Polícia Militar que mandou ele vir aqui. Muita gente passou mal, tinha bebezinho sufocando”.
Foi feito um acordo entre os ocupantes e a PM de que não haveria novas represálias desde que não fossem erguidos novos barracos no terreno. Tatiane disse que a única resposta que tiveram da Ehma foi uma promessa de uma suposta reunião nesta segunda-feira, no primeiro horário, na sede do órgão.
“Eles nem vão se deslocar até aqui. Temos que reunir quatro pessoas e ir até a sede da Ehma”, disse.
Segundo os moradores, o principal medo do grupo é que, na parte onde seriam os “fundos” dos terrenos (paralelo à Rua Bororós), há um muro sendo levantado, que seria de algum terceiro privado que estaria “fatiando” a área pública da prefeitura, sem que ela perceba ou faça algo.
Ao Correio do Estado, os moradores afirmaram que, entre o grupo, a sensação é de que a área pública esteja sendo “comida aos poucos” por quem tem dinheiro e a prefeitura sequer tem noção, já que só tomam conhecimento da situação quando esse tipo de movimento acontece.
“Aqui, realmente, são famílias que necessitam, que necessitam mesmo, que não têm condições de pagar um aluguel caríssimo onde, lá em cima, estão sendo fatiados”, afirmou Tatiane. Ela diz que “a corrupção ‘tá’ comendo solto aqui”.
Tatiane reforça que a expectativa para a reunião de amanhã é de que haja respostas.
“Tem famílias aqui que estão anos na fila de espera e nada, porque tem a corrupção, que está sendo passada para outras famílias. Nós estamos respeitando o acordo de não levantar barraco, mas se a gente não pode ficar, aquele muro também vai descer”.
Prefeitura demoliu os barracos e acordaram não erguer novos em troca de não haver represálias policiais. Resposta da Ehma
Em nota, a Ehma afirmou que a área em questão é de propriedade do Município de Campo Grande e que está, há mais de dois anos, em processo de regularização fundiária de forma “técnica e transparente”.
Afirmou ainda que os moradores não estão autorizados a construir estruturas no terreno, o que configura crime.
“Equipes da fiscalização da EMHA, em conjunto com a Guarda Civil Metropolitana, estiveram recentemente no local e constataram tentativa de invasão da área pública. Estruturas improvisadas foram removidas, e os ocupantes foram orientados quanto à ilegalidade da ocupação e instruídos sobre os meios legais para acesso aos programas habitacionais disponíveis no município. A área segue sendo monitorada pela Guarda Civil Metropolitana, a fim de evitar novas ocupações.”


